Seis
meses antes dos acontecimentos de Timisoara o mesmo se passou em
TianAnMen. Os meios de comunicação do mundo “livre” mostraram
ao mundo a sua fisionomia macabra no momento da entrada em cena das “ossadas dos 4.630 cadáveres horrivelmente mutilados” em
Timisoara, havendo já demonstrado o seu compromisso político com a
contra-revolução, nos eventos da Praça TianAnMen em Maio e Junho
de 1989. Na noite da intervenção do Exército Vermelho[1], imagens
de televisão mostraram-nos que os tanques chineses reprimem as
centenas de estudantes pacíficos na Praça TianAnMen. Em 5 de Junho,
a Amnistia Internacional, máquina especializada em fabricar mentiras
no que respeita à luta nacionalista e aos países socialistas,
divulgou os números de, pelo menos, 1.300 mortos, mais alguns
estudantes esmagados por tanques sanguinários enquanto dormiam
tranquilamente nas suas tendas.
Domingo,
5 de Junho, um trabalhador comunista numa grande fábrica de
automóveis gravou imagens em vídeo. “Esta noite revi essas
imagens, por pelo menos vinte vezes. Cheguei à conclusão que os
comentários dos jornalistas eram falsos e que nas imagens não se vê
ninguém ser esmagado pelos tanques.” Mais tarde, a Amnistia
Internacional reconheceu que se "equivocou”. Contudo, quantas
pessoas, traumatizadas pela verdade sobre o comunismo chinês, “que
espezinha impiedosamente os seus estudantes pacifistas sob os passos
dos seus tanques”, transmitida por estes violentos defensores dos
direitos humanos, sabia desta mentira?
Um
ano depois dos acontecimentos de TianAnMen dispomos de suficiente
informação fiável para elaborar uma analise de classe objectiva.
No entanto, para entender os interesses políticos e econômicos
protegidos pelo “movimento pela democracia”, de Abril a Junho de
1989 em Pequim, nós encontramos três fenómenos negativos que se
vão desenvolvendo entre 1979 e o ano fatídico de 1989.
A
ascensão do capitalismo e do revisionismo na China
Economia:
o regresso dos Patrões
Falemos
primeiro da esfera económica. Os dez anos de reforma de Deng
Xiaoping contribuíram para um progresso material inegável. Porém,
também vão aumentando a influência do capitalismo e do
imperialismo na China, aumentando a base económica das novas classes
sociais que aspiravam a uma contra-revolução. A liberalização e a
abertura das forças do mercado impulsionaram forças económicas que
se opõem ao socialismo e que, mais cedo ou mais tarde, se lançariam
numa luta pelo poder. Aconteceu assim com o suposto “movimento pela
democracia” na Praça TianAnMen.
A
entrada do imperialismo
De
acordo com a Beijing Information, a China havia concluído no final
de 1988 cerca de 16.325 ofertas de importação de capital
estrangeiro num total de 79,2 mil milhões de dólares. Deste
montante recebeu empréstimos de 33 milhões de dólares e 11,5
milhões de dólares em inversões directas. Os maiores investidores são Hong Kong, com 8 milhões de dólares, o Japão com 2 mil
milhões e os Estados Unidos com 1,7 milhões[2]
Com os investimentos estrangeiros, os ideais económicos do imperialismo
mundial entraram na China. Assim, a 12 de Setembro de 1988, Zhao
Zhiyang, deu as boas vindas a Milton Friedman[3] e elogiou as suas
ideias económicas. Lee Iaccoca, o presidente da Chrysler, ministrou
a conferência sobre o espírito empresarial no Salão da Assembleia
do Povo[4]. Segundo a agência de noticias chinesa, a Comissão para
a Reforma do Sistema Económico celebrada no final de 1988: “No
marco da reforma económica da China, não há nada que não esteja
aberto à participação estrangeira, como o estudo da transformação
do sistema económico”. No decorrer desse ano, a Comissão ouviu a
opinião de 1.500 especialistas estrangeiros, e concluiu que podia
“aprender muito do desenvolvimento económico do Ocidente”. Para
a China foram enviados os especialistas ocidentais, especialmente no
campo das finanças, no âmbito da gestão empresarial, da formação
de preços, da política de inversão e do controlo da inflacção.
Os seus pontos de vista “apontaram uma contribuição positiva
tanto prática como teórica para a reforma económica”[5].
A
influência ideológica do Ocidente
Durante
os últimos dez anos, dezenas de milhares de estudantes chineses
estudaram nos Estados Unidos. O Partido Comunista da China estendeu o
culto aos logros tecnológicos dos Estados Unidos e à sociedade de
consumo norte-americana. As consequências negativas não se fizeram
esperar. Centenas de milhares de intelectuais começaram a ouvir as
rádios do imperialismo: A Voz da América e a BBC.
Um
jornal ligado ao governo dos EUA, escreveu em relação ás
manifestações em Pequim: “os participantes do movimento
estudantil comunicavam-se com os seus colegas da América do Norte e
Europa por telefone, fax e correio electrónico. O número de chamadas
telefónicas entre os EUA e a China triplicou no mês de Maio”.[6]
Li
Shaomin, um ex-guarda vermelho e ex-aluno de Pequim, médico da
Universidade de Princeton nos EUA, que agora trabalha para a AT &
T., tem uma posição que é muito semelhante à de muitos chineses
que estudaram no Ocidente. “Muitos intelectuais chineses, incluindo
eu, temos chegado a considerar a Formosa como um modelo para a
reforma económica na China. (...) A propriedade privada e o
mercado-livre são os fundamentos da liberdade política. (...) As
instituições capitalistas proporcionam a prosperidade e a
liberdade, as instituições comunistas, a pobreza e o caos. (...)
Com a Formosa como exemplo, a República Popular da China é mais
propensa que outros países comunistas a refutar a doutrina marxista
e a realizar as reformas." É por isso que Milton Friedman
disse: “Eu sou mais optimista a respeito da China que da União
Soviética. Os chineses têm este grande recurso da China de fora. O
êxito dos chineses em Hong Kong, Singapura, Formosa, criou na China
uma inspiração que o exemplo da Polónia, Hungria ou Jugoslávia
não pode dar à União Soviética.” Segundo um inquérito, levada
a cabo por Li Shaomin a 607 estudantes chineses nos Estados Unidos,
90% manifestavam-se favoráveis à supressão das referências ao
marxismo-leninismo e à liderança do Partido Comunista na
Constituição e 86% disseram que a China tinha que se basear na
experiência da Formosa, 60% estavam a favor de uma economia liberal
ao estilo da Formosa[7].
O
desenvolvimento de uma burguesia na China
Uma
política razoável para um desenvolvimento limitado de um sector
capitalista na China saiu do controlo, terminando numa maré selvagem
de capitalismo privado. Segundo as estatísticas oficiais, em 1988,
22% do investimento imobiliário foi realizado pelo sector privado num
valor de 100 mil milhões de yuanes, um aumento de 25% em relação
ao ano anterior. O valor da produção industrial no sector privado
registou um aumento de 46% nesse mesmo ano, a produção das empresas
rurais, com características muito próximas de uma empresa privada,
incrementou-se em 35%.[8]
A
publicação Far Eastern Economie Review estimou que em 1988, 37% da
produção industrial havia caído no controlo de sectores privados,
uma percentagem que tenderia a passar dos 50% em 1993[9]. A Business
Week, por seu lado, saudou, no momento em que os actos tinham lugar
em Pequim, “o aparecimento de novas empresas prósperas na China.
(...) As empresas privadas por meios não autorizados para levantar
dinheiro. (…) A nova China está a asfixiar a China tradicional no
domínio dos capitais”[10].
As
forças por detrás do movimento “democrático”
O
imperialismo e o capitalismo, muito presente no sector económico
chinês, sustentaram o movimento, supostamente, democrático dos
estudantes e dos “reformadores” do núcleo de Zhao Ziyang, com o
objectivo de criar uma força política legal. Em Maio de 1989, a
Business Week, escreveu: “Muitos homens de negócios estrangeiros
na China apoiam os reformadores na ideia de um passo maior de
liberdade na política só poder fortalecer a longo prazo, o
comércio”[11]. O diário The Guardian assinalou: “é
interessante observar que alguns apoios aos pontos de vista
pró-democráticos provinham dos novos empresários ricos”[12]. Far
Eastern Economie Review notava, sempre na mesma época de Maio de
1989: “O mundo dos negócios de Hong Kong é favorável ás
solicitações dos estudantes para mais reformas e mais democracia.
Os magnatas de Hong Kong, Li Kashing, Yk Pao e Stanley Ho expressaram
publicamente o seu apoio. A pressão para uma abertura política
podia, segundo eles, ser muito positiva para o futuro do capitalismo
na China”[13].
Política:
a alavanca da democracia burguesa
O
segundo fenómeno que marcou a evolução da China entre 1979 e 1989
encontra-se no campo político, que viu o aparecimento de uma nova
força contra-revolucionária. No momento em que China apostou no
desenvolvimento de um sector capitalista e na introdução de
multinacionais, vimos surgir no âmbito político, as primeiras
forças anti-socialistas. Em 1979, Pequim vê como no “muro da
democracia” se plasmavam todos os tipos de tendências
anti-comunistas. A 9 de Março de 1979, um famoso mural anunciava
“lutamos para que a China cumpra com os verdadeiros direitos
humanos e a verdadeira democracia”, mostrando assim as bandeiras de
baixo das quais os comunistas marchariam nas próximas décadas. Com
efeito, os “direitos humanos” e as palavras “democracia” são
utilizadas pelo imperialismo para ocultar a mercadoria ideológica
que põe à venda. Os principais pontos do programa que lançou este jornal são os seguintes: Em primeiro lugar, “Apoiamos o
estudo da cultura e da civilização inspirada pelo espírito de
Cristo, nós propomos tomar o exemplo dos sistemas democráticos
baseados nos ensinamentos do cristianismo”. Depois “reclamamos o
abandono das noções antiquadas de Mao Tsé-Tung, para reformar os
princípios do marxismo, que não estão de acordo com a realidade e
a abolição da luta de classes.” Em terceiro lugar, “pedimos que
o Partido Comunista, que é ele do próprio Mao Tsé-Tung, seja o
Partido de todo povo.” E, por último, “chamamos o Partido
Comunista Chinês e o Kuomintang a colaborarem de novo nas novas
condições históricas”[14].
Wei
Jing-Sheng, o pequeno Le Pen chinês
Wei
Jing-Sheng é o homem que, entre 1978 e 1979, sustentou com maior
força as concepções políticas do imperialismo. Conquistou certa
fama na direita ocidental dizendo que a China necessitava de uma
quinta modernização: a democracia. O que se esconde na palavra
“democracia” é evidente quando uma pessoa se presta ao
sacrifício de ler o programa de Wei.
Estas
são as suas teses: “as democracias burguesas ocidentais permitem
que os cidadãos possam expressar a sua vontade através das eleições
e decidir o futuro do país (...) Esta é a razão pela qual nenhum
político burguês pode ignorar as opiniões das pessoas sobre
qualquer tema. (...) A base económica sobre a qual se mantiveram os
governos democráticos é o sistema da empresa livre. (...) No
Ocidente, os trabalhadores poderiam enviar delegados operários aos
conselhos de administração, ocupando ali a metade dos postos. (...)
Na rivalidade que opõe capital e trabalho, os trabalhadores estão,
de facto, em melhores condições num sistema onde a maioria pode
decidir a política. (...) Faço um apelo aos que pensam assim para
se porem do lado desta bandeira da democracia. O socialismo marxista
é, sem excepção, uma ditadura anti-democrática. (...) Temos que
canalizar a nossa ira contra esse sistema de justiça criminoso que
trata o povo desta forma tão escandalosa”[15].
Os
estudantes contra o socialismo
Estas
ideias contra-revolucionárias, defendidas em 1979 por Wei e um
pequeno círculo de amantes do imperialismo, encontraram um crescente
eco entre os intelectuais nos anos posteriores. As causas são
muitas. O Partido Comunista terminou praticamente com a educação
marxista-leninista entre os estudantes. Deixou de lutar contra as
concepções políticas do imperialismo. O liberalismo, a corrupção
e o enriquecimento ilícito estenderam-se entre algumas facções do
partido.
Quando,
entre 1985 e 1986, um movimento estudantil se desenvolveu nas grandes
cidades chinesas, “as emissões de A Voz da América desempenharam
um papel determinante”, como confirmaria um jornalista
norte-americano expulso da China por actividades de espionagem[16].
Por ocasião destas primeiras acções estudantis, o professor Fang
Lizhi declarou que a China tinha que abandonar o marxismo, antiquado
e de segunda mão. Wag Ruowang reclamou uma “reavaliação completa
do desastre criado por Mao Tsé-tung”. Lui Binyan denunciou “a
ditadura feudal-fascista” do Partido Comunista e afirmou que o
capitalismo era superior ao socialismo[17]. Tais afirmações
encontraram um grande eco na facção dos estudantes e intelectuais
que tinham como modelo as elites dos países imperialistas e
neo-coloniais.
Durante
os anos 1987 e 1988, estes elementos, alimentados diariamente pelas
emissões de A Voz da América, podiam difundir amplamente as suas
ideias nas universidades: o Partido não fazia ali nenhum trabalho
político digno desse nome.
No
ano de 1988, os núcleos contra-revolucionários prepararam acções
de massa para celebrar os três aniversários que deviam brilhar no
ano seguinte: o 70º aniversário do Movimento Quatro de Maio[18], o
200º aniversário da Revolução Francesa e o 40º aniversário da
Revolução Chinesa. Assim, a 6 de Janeiro de 1989, Frang Lizhi
escreveu uma carta a Deng Xiaoping em que mencionava estas três
festas e pedia que estes acontecimentos fossem celebrados com a libertação de Wei Jing-Sheng, indicando com claridade a plataforma
política com a qual pensava actuar. Seguindo Fang, 33 intelectuais
repetiram numa carta aberta a reivindicação da libertação de Wei.
Entre os assinantes, Su Shaozhi, que foi um alto funcionário, até
1987, do Instituto de Marxismo-Leninismo e do Pensamento Mao
Tsé-Tung. Em princípios de Março de 1989, 42 personalidades dos
meios científicos e académicos, entre os quais se encontravam
vários membros da Assembleia Popular, assinaram outra carta aberta
também exigindo a libertação de Wei. Esta maré de cartas,
orientada sobre Wei e suas ideias políticas, suscitaram muitas
discussões entre os estudantes. Foi assim que começou a preparação
politica do protesto de Abril e Maio de 1989.
O
Partido ás vésperas da ruptura
O
terceiro fenómeno foi fundamental no surgimento do movimento de
Pequim: a divisão interna do Partido Comunista da China e o
crescimento de uma facção revisionista muito influente.
Hu
e Zhao, a dupla revisionista
Hu
Yaobang, nomeado secretário-geral do Partido em 1982, foi o
representante mais destacado desta corrente. Em 1981, o seu grupo
denunciou “a teoria segundo a qual as classes e a luta de classes
existem durante todo período socialista, existindo burguesia no
interior do Partido Comunista”[19]. Quatro anos mais tarde, Hu
declarou: “tomá-mos a decisão de não utilizar a partir de agora
a expressão elemento anti-partido e anti-socialista”[20]. Hu
assegurava, com estas teses, a tranquilidade aos elementos podres,
aos burocratas, aos corrompidos e aos revisionistas. Em 1988, Hu foi
substituído por um dos seus cúmplices na facção revisionista, Zhao
Zhiyang.
Para
assinalar a viragem ideológica, a Beijing Information escrevia em
1988: “Kruschev conheceu um ressurgimento de popularidade na
China”. E: “Stálin foi um ditador, um absoluto revolucionário”.
Houve um apogeu das traduções para o chinês da literatura
anti-stalinista publicada nesses últimos anos da URSS, entre as
quais figuravam as memórias do professor de Stálin. Quando alguém
começa a denegrir Stálin é necessário entender a verdadeira
mensagem que pretende passar. Assim, o professor Lu Congmig, da
Escola do Partido que dependia do Comité Central, aspirava que “a
natureza de nossa época mude à medida que se passe da etapa
imperialista à do capitalismo social”[21]. É o perigo da negação
do imperialismo, tanto para o Terceiro Mundo como para a China! E
prosseguia: “o capitalismo desenvolvido pode produzir elementos
socialistas e passar ao socialismo de forma pacífica. (...) Tanto a
economia socialista como a economia capitalista são economias de
mercado socializadas. (...) O capitalismo contemporâneo é um bom
modelo para o mercado socializado”. Quando escutamos barbaridades
como estas, compreendemos o furor de Mao Tsé-Tung que, em plena
Revolução Cultural, criticava as “misturas dos revisionistas e
contra-revolucionários”[22]. O professor Lu lança depois um
elogio ao capitalismo: “Vemos ali uma mudança da propriedade dos
meios de produção, a propriedade social substitui a propriedade
privada. Por outro lado, assistimos à participação dos operários
na gestão da empresa. O macro-controlo do Estado sobre a economia é,
de facto, o principio da economia planificada. A nova repartição
das rendas pelo governo e o desenvolvimento da segurança social
contribuem para debilitar as diferenças entre ricos e pobres”.
Este revisionista apresenta o capitalismo como uma sociedade que já
realizou as promessas do socialismo; e depois prevê para a China uma
política capitalista como melhor forma de desenvolver o
capitalismo...Um curioso parentesco ideológico com Wei, sempre na
prisão, que o professor Lu ensina aos quadros superiores do
Partido!
A
situação torna-se mais grave quando a mesma orientação política
é expressa por Zhao Zhiyang, que em 1988 afirma: “o Partido
Comunista Chinês vai trabalhar conjuntamente com o Koumintang da
China para a reunificação a breve prazo. Os dois lados do estreito
(quer dizer, China e Formosa) têm muitíssimo em comum do ponto de
vista político, económico e cultural. Ambos desejam a cooperação,
o desenvolvimento conjunto da economia nacional, melhorar o nível de
vida e uma China próspera, poderosa e moderna”[23]. Esta concepção
da convergência entre a China socialista e a Formosa, o reino das
multinacionais e do capitalismo selvagem, mostra como estava correcta
a observação de Milton Friedman: os grandes capitalistas chineses
da Formosa, Hong Kong e Singapura empurram o continente até à
restauração capitalista.
O
debate no seio do Partido
Para
compreender o confronto político de Maio e Junho de 1989 na Praça
de TianAnMen é necessário saber que em Janeiro de 1987 começou uma
primeira luta importante no seio do Partido Comunista Chinês. O
movimento estudantil do ano de 1986, directamente inspirado e
dirigido por Fang Lizhi, atacou as bases do socialismo na China. Deng
Xiaoping que, até esse momento, seguira firmemente o revisionista Hu
Yaobang, mudou então de opinião. Em 28 de Setembro de 1986,
declarou: “Em Hong Kong e na Formosa, correntes de opinião
procuram lutar contra os quatro princípios fundamentais (o
marxismo-leninismo e o pensamento Mao Tsé-Tung, a via socialista, a
ditadura popular e a direcção do Partido Comunista) e prevêem a
via capitalista para dar a impressão que dessa forma lograremos a
modernização do país. De facto, esta liberalização simplesmente
nos levaria à via capitalista”[24]. Em 19 de Janeiro de 1988, Po
Yipo apresenta, ao bureau político, um relatório em que critica o
trabalho de Hu Yaobang. “Hu Yaobang animou os elementos activos que
advogavam a liberalização burguesa e adoptou uma posição
condescendente e de protecção perante eles. Tudo isto levou
directamente a que nos reivindicassem a supressão dos quatro
princípios fundamentais e a passagem para uma ocidentalização
integral e por um sistema político e económico capitalista”[25].
A
queda de Hu Yaobang debilitou o núcleo revisionista na direcção do
Partido. Entretanto, Deng Xiaoping nomeou outro representante da
mesma corrente, Zhao Zhiyang, como novo secretário-geral.
Porém
no curso da luta que leva à queda de Hu, as posições da esquerda do
Partido recebem um eco crescente. Chen Yun declarou: “a fonte da
liberalização burguesa encontra-se no sector económico. Uma
economia planificada é socialista, uma economia de mercado é
capitalista e promover uma economia de mercado é promover o
capitalismo”[26]. Denunciando a via capitalista, Chen Yu critica
também a corrupção que estava associada a ele: “os dirigentes do
Partido têm que dar o exemplo ao povo. Devem estar à cabeça da
luta pela eliminação da corrupção da classe capitalista e as
tendências negativas que provêm da mesma. Muitas empresas são
dirigidas por familiares próximos dos dirigentes. Esse é um
problema muito grave”[27].
Em
1988, Zhao Zhiyang, o novo secretário-geral, continua a proteger os
grupos revisionistas colocados por Hu Yaobang na direcção de certas
instituições do Partido, permitindo-lhes, inclusive, estender a sua
influência. Em 1986, o colaborador mais próximo de Zhao, Bao Tong,
autorizou a criação em Pequim dos Fundos para a reforma e a
abertura da China, financiado por Georges Soros, um importante homem
de negócios americano[28]. O grupo de Zhao Zhiyang defendia o
seguinte ponto de vista, expresso por intelectuais chineses
residentes nos Estados Unidos: “acreditamos que uma mudança no
sistema de propriedade do Estado não só é uma necessidade
histórica, mas também realizável na prática. O nosso projecto é
este: organizar um programa global de privatização do sistema da
propriedade estatal”[29]. Em Novembro de 1988, Li Yining, professor
da Universidade de Pequim e colaborador próximo de Zhao, reafirma:
“O objectivo final é a criação de mercados bem geridos, de tipo
capitalista, para bens, finanças, trabalho e habitações”[30].
Esta posição é confirmada por outro colaborador de Zhao, Chen
Yi-zi: “Zhao estava convencido que uma economia planificada de tipo
stalinista não podia fazer avançar a China e que era necessário
uma economia de mercado”[31].
É
interessante notar um último ponto. No momento das manifestações
estudantis, um jornal de Hong Kong escreveu: “Zhao solicitou a uma
comissão preparar uma proposição de reforma política que
incluísse ideias para uma competência multi-partidária e uma imprensa independente”[32]. O multi-partidarismo na China significa
antes de tudo a legalização do Koumintang, o partido fascista no
poder na Formosa. No que respeita à imprensa “independente”,
dependeria totalmente dos meios financeiros da Formosa, de Hong Kong,
e dos Estados Unidos. Porém com a sua opção pelo
multi-partidarismo, Zhao é aclamado no Ocidente como um democrata. É
precisamente o grupo de Zhao Zhiyang que reclama, em finais de 1988 e
princípios de 1989, um “novo autoritarismo” para levar adiante
as reformas capitalistas. Reproduzimos o que Zhao disse a Deng
Xiaoping a 6 de Março: “Um país sub-desenvolvido que quer
modernizar-se tem que passar por uma certa etapa em que precisa do
impulso de um governo forte e autoritário”[33]. Está claro: para
fazer voltar a democracia burguesa e a liberdade de mercado, faz
falta um governo autoritário e capaz de vencer as resistências à restauração capitalista.
Em
finais de Dezembro de 1988, a luta entre os revisionistas e os
marxista-leninistas conheceu um segundo pico. Uma pessoa próxima de
Zhao Zhiyang reuniu trezentos intelectuais num seminário no qual os
“reformadores” célebres do Partido, como Yan Jiaqi e Su Shaozhi,
tomam a palavra para denunciar as campanhas passadas contra o
liberalismo burguês. Os textos, uma impetuosa defesa do capitalismo,
são publicados posteriormente no World Economie Herald de Shangai.
No seu editorial, o jornal precisa: “há que tomar corajosamente o
exemplo das formas democráticas modernas desenvolvidas no
capitalismo ocidental”[34]. Esta agitação de direita por parte
dos intelectuais reformadores do Partido influiu directamente sobre
os meios estudantis da capital.
Chen
Yun declarou nesse momento que “toda a frente ideológica está
ocupada pela burguesia, não restou nada de proletário”. Wang Zhen
e Po Yipo insistem, por três vezes e na companhia de Deng Xiaoping,
na necessidade de substituir Zhao Zhiyang do posto de
secretário-geral. Em Março de 1989, Li Sien-nien vai a casa de Deng
para insistir de novo na necessidade desta demissão, que poderia
realizar-se na quarta sessão plenária prevista para as próximas
semanas[35]. O movimento estudantil põe-se em marcha em Abril no
meio desta luta dentro do Partido Comunista.
O
que realmente querem os estudantes de Pequim
Os
nossos meios de comunicação contaram-nos que os estudantes de
Pequim manifestaram-se por reivindicações democráticas e contra a
corrupção, e que de nenhuma maneira queriam derrubar o regime
socialista. Como prova até cantavam a Internacional. Pode existir
prova mais brilhante de que sob o socialismo a democracia é
impossível? Uma camarilha de velhos burocratas, que se sentem
superados, destroem com um banho de sangue um movimento inocente e
ingénuo.
Toda
a direita, desde o PSC (Partido Social-Cristão) até ao VlaamsBlok
(VlaamsBelang desde 2004), apresentam-nos está versão. Os
trotskistas realizaram uma actividade febril, após a repressão do
movimento pró-imperialista, para conseguir que a esquerda belga
defendesse os “estudantes”. Reclamaram o apoio de centenas de
progressistas numa petição que dizia que os estudantes “exigiam,
de facto, uma democracia do socialismo” que também declarava que
“o pretexto de que a contra-revolução estava a levantar a cabeça
é inaceitável”[36]. Pelo contrário, nós afirmamos que actuando
desta forma os trotskistas estavam a comportar-se como verdadeiros
agentes do imperialismo americano e do fascismo da Formosa. O leitor
julgará se esta acusação é fundamentada ou não.
Uma
revolução contra o socialismo
Qual
o carácter e a natureza do movimento de Pequim?
Horas
depois da intervenção do Exército, a 4 de Junho de 1989, Shaw
Yuming, porta-voz do governo da Formosa, declarou: “ainda que
algumas pessoas acreditem que este movimento estudantil representa só
uma luta no seio do sistema e um movimento revolucionário dirigido
contra o Partido Comunista, temos que sublinhar que, se se examinarem
bem as coisas, verificamos que o seu lema “democracia ou morte” e
o facto de erguer uma estátua da “deusa da liberdade” sobre a
Praça TianAnMen, prova de maneira evidente que lutavam por uma
democracia de estilo ocidental.”[37] Duas semanas mais tarde, o
porta-voz do governo da Formosa informa um jornalista japonês:
“senhor Yuan Mu, o porta-voz do governo de Pequim afirmou que os
manifestantes procuravam derrubar o regime socialista (...) Dizia a
verdade. Certas pessoas, como Frang Lizhi e outros intelectuais, estão
perfeitamente conscientes do que exigem. Porém, muitas pessoas
pediam só algumas mudanças; não conheciam as implicações lógicas
do que reclamavam (...). numa revolução uns são chefes e outros
seguidores. Os chefes sabem o que querem, porém os seguidores têm
só uma vaga ideia do que fazem. Muitas pessoas que estiveram na
Praça TianAnMen pensavam que pediam só algumas mudanças, contudo
não sabiam que se tratava de uma revolução para sair do
sistema.”[38]
Em
algo, o Partido Comunista Chinês e o partido fascista da Formosa
estão de acordo. Uma questão importante: o movimento “democrático”
de Pequim tem absolutamente um carácter contra-revolucionário.
O
programa de Frang Lizhi
Para
julgar se esta avaliação está correcta, é importante analisar,
com toda objectividade o programa político preparado pelo núcleo da
Praça TianAnMen.
O
movimento, previsto originalmente para 4 de Maio de 1989, foi
preparado durante todo ano de 1988. Em inícios de 1989, Frang Lizhi,
o padre espiritual indiscutível do movimento, visita as capitais
ocidentais com o objectivo de receber apoios para o iminente
movimento. No Libération de 17 de Janeiro de 1989, Fang Lizhi
publicou um artigo intitulado “A China necessita de democracia”,
consigna repetida depois pelo movimento estudantil de Pequim.
Denegrindo os 40 anos da construção socialista, Fang Lizhi
declarou: “a lógica só leva a uma conclusão: as desilusões dos
últimos 40 anos devem ser atribuídas ao sistema social (...). O
socialismo, no seu modelo Lenin-Stalin-Mao, foi completamente
desacreditado.” Partidário da introdução das leis do capitalismo
na China, acrescenta: “pode uma economia livre ser compatível com
o modelo especificamente ditatorial do governo chinês? Um olhar
sobre a China de 1988 prova que a única resposta é não. A China
difere de outros países porque o seu sistema de ditadura não pode
suportar uma economia totalmente livre. E isto, porque a ditadura
socialista está intimamente vinculada a um sistema de “propriedade
coletiva” e a sua ideologia fundamental é contrária aos direitos
de propriedades requeridos por uma economia livre.”
Fang
Lizhi continuava a repetir que entendia a expressão “liberdade de imprensa” como a liberdade de expressão para a ascendente classe
dos capitalistas chineses: “o editor de um jornal de Cantão
escreveu recentemente que a função de seu jornal era escrever, não
em nome do PCC, mas sim no da classe média emergente de Cantão.”
E,
para concluir o seu artigo, Fang Lizhi explicou a táctica que havia
de seguir, inspirado amplamente pelas experiências polaca e húngara:
“a democracia é algo mais do que um slogan: exerce uma pressão
consubstancial a ela. O objectivo desta pressão é obrigar as
autoridades, progressivamente através de meios não violentos, a
aceitar mudanças na direcção da democracia política e da economia
livre.”[39]
No
momento em que o suposto movimento pela democracia foi lançado sobre
Pequim, os seus diferentes porta-vozes, quando negociavam as
perspectivas económicas e políticas da China, só repetiam essas
orientações.
Esta
declaração-programa de Fang Lizhi mostra todo o seu alcance quando se
examina, paralelamente, a politica declarada pela Formosa.
Recentemente, o primeiro-ministro da Formosa, Lee Huan, manifestou,
antes do seu governo, a linha de actuação. Segundo Lee Huan, a
Formosa “só levou a cabo uma ofensiva política sobre o
continente, porque uma ofensiva militar exigiria sacrifícios
demasiado elevados e custaria demasiados danos.”[40] Nos documentos
do Koumintang, encontramos as seguintes linhas directrizes:
“prosseguir activamente o trabalho ideológico sobre o continente
com o objectivo de combater a estratégia do Partido Comunista.
Eliminar a ditadura marxista-leninista no continente. Destruir a
ditadura de partido único do comunismo chinês. Permitir a
propriedade privada da terra e o desenvolvimento da empresa
privada.”[41]
A
Federação para a Democracia e o Koumintang: as coincidências
Três
meses depois da repressão do movimento, os seus principais líderes
reencontram-se em Paris para criar a Federação para a Democracia na
China. Elegem a sua direcção: Yan Jiaqi, principal dirigente dos
intelectuais da Praça TianAnMen, Wuer Kaixi, próximo de Zhao
Zhiyang e principal dirigente estudantil e Wan Runnan, um dos mais
importantes capitalistas da República Popular.
O
programa adoptado pela Federação não se distingue em nada do
perseguido pelo Koumintang. A Federação dos “democratas”
denunciou que o Partido Comunista criou “um sistema onde, o
totalitarismo stalinista se uniu ao despotismo oriental”. Afirma
que “a tolerância do povo chinês, no que respeita ao Partido
Comunista, alcançou limites extremos”. O seus objectivos principais
são formulados assim: “desenvolver a economia de iniciativa
privada e acabar com a ditadura de partido único”.[42]
Desde
o momento em que o programa foi publicado, o paralelismo entre a
política dos fascistas da Formosa e os dirigentes de TianAnMen
teriam que alarmar todos os progressistas e anti-imperialistas. Desde
então, as posições destes dois grupos anti-comunistas não fizeram
outra coisa que coligar-se. Em primeiro lugar, tanto o Koumintang
como a Federação para a Democracia procuravam derrubar o Partido
Comunista, apoiando-se nas forças da alta burguesia da Formosa, dos
Estados Unidos, de Hong Kong e de Singapura.
Perante
um auditório em São Francisco, Shaw Yuming, director geral de
informação do governo da Formosa declarou: “o governo da
República da China (Formosa) seguiu de perto o movimento estudantil
desde o primeiro momento e estudou diversas contra-estratégias. Para
não dar nenhum pretexto aos comunistas chineses para suprimir o
movimento, devemos adoptar uma atitude extremamente prudente. (...) A
nossa esperança é utilizar o modelo de desenvolvimento da Formosa
como base para alcançar o nosso objectivo: a reunificação da China
sob um sistema livre e democrático. (...) Os Chineses do continente,
da Formosa, de Hong Kong, de Macau, dos Estados Unidos, do Canadá,
da Europa e da região oriental da Ásia chegaram ao consenso, depois
da matança de TianAnMen, de acabar com a tirania dos comunistas
chineses.”[43]
Esta
orientação política da Formosa, é repetida praticamente palavra
por palavra pelo porta-vóz dos intelectuais do movimento de Pequim,
Yan Jiaqi. Em 28 de Julho de 1989, por ocasião da primeiro sessão
do Congresso dos Estudantes Chineses nos Estados Unidos, em Chicago,
declarou: “as contribuições devem vir dos chineses do ultramar.
Os comunistas chineses podem controlar o povo com tanques, porém não
podem suprimir a empresa privada fora da China. A democracia depende
da expansão económica. A formula que prevê que a Formosa tenha um
governo democrático sob a direcção da República da China não é
bem-vinda. O importante não é que a China esteja dividida entre
forças socialistas e capitalistas, mas sim que umas são ditatoriais
e outras democráticas. Para nós, qualquer um que apoie a ditadura é
nosso inimigo e qualquer um que se oponha à ditadura é nosso amigo.
O povo da Formosa vê com esperança a bandeira democrática. Isto,
penso, é a base fundamental para a reunificação da Formosa e da
China continental.”[44]
A
segunda coincidência: o Kuomintang e a Federação para a
Democracia, denigrem a experiência socialista na China desde a
libertação em 1949. À pergunta dos jornalistas: “Acreditam que
os chineses idealizam muito os primeiros anos do comunismo?” Yan
Jiaqi responde: “Não! O início dos anos 50 é a época em que o
Partido Comunista instala as bases do seu poder, que perseguia os
partidários do Kuomintang de Tchang Kaichek, em que expropriava os
capitalistas en plena luz do dia, no campo, repartia a terra entre os
camponeses expropriando os bens imóveis dos proprietários. Esta
época em que o Partido Comunista começava a sua primeira campanha
contra os intelectuais e todas as pessoas que pensavam de forma
diferente.”[45] A sua argumentação é retirada da tese dos
fascistas do Kuomintang que pretendem que, desde a chegada ao poder,
o Partido Comunista levou a cabo uma política “criminosa”.
A
terceira coincidência: todo o discurso do Kuomintang, como ocorre
com a Federação para a Democracia, está orientado sobre uma base
central: a empresa privada, o capitalismo selvagem.
O
secretário-geral da Federação para a Democracia na China é o
milionário Wan Runnan, ex-diretor geral da sociedade de equipamentos
electrónicos Stone, uma das empresas privadas mais importantes da
China. Tinha um beneficio aproximado de 50 milhões de dólares
anuais. Em Fevereiro de 1990, Wan Runnan apresenta as suas impressões
à revista Boletim de Sinologia, editada em Hong Kong: “Wan Runnan
acredita que a ditadura de partido único constitui um freio para o
desenvolvimento económico. Preconiza a instauração, na economia,
de um sistema de propriedade privada e, na política, de um sistema
pluralista.”[46] Perante a City University de New York, Wan Rumman
declarou: “uma solução simples para os problemas da China
consiste em privatizar a propriedade, tornando possível a emergência
de uma classe média.”[47] Yan Jiaqi confirma esta opinião
afirmando que uma economia socialista é a base do totalitarismo,
ideia central de Fang Lizhi. “Se a China não adoptar um sistema de
propriedade privada na economia, estará condenada ao totalitarismo e
ao controlo do pensamento.”[48]
As
peregrinações à Formosa
Recentemente,
a Federação para a Democracia na China, através de seu presidente
Jan Jiaqi, deu a conhecer uma estratégia em quatro fases. Primeira
fase: a queda de Li Peng. Segunda fase: revisão do juízo sobre a
natureza do movimento de Pequim. Terceira fase: regresso dos
dissidentes e reforma da constituição na direcção de um sistema
pluri-partidário como o da Polónia, Hungria e União Soviética.
Quarta fase: estabelecimento de um sistema federal e eleições
multi-partidárias, com a participação do Partido Comunista, o
Kuomintang e a Aliança Democrática.[49] Pelo menos, nesta lista de
intenções, o objectivo estava claro: o regresso do velho partido
fascista e a chegada de um novo partido criado nos Estados Unidos por
agentes chineses da CIA.
Quando,
meses depois da repressão do movimento pro-imperialista de Pequim,
afirmá-mos que este foi dirigido por contra-revolucionários e que
pretendiam estabelecer o regime da Formosa na China, os trotskistas
fingiram-se indignados. Mandel teve o atrevimento de escrever: “a
vitória dos estudantes teria reforçado a base do socialismo na
China. O seu esmagamento por uma camarilha de déspostas militares foi
um duro golpe ao socialismo.”[50] Agora vemos que todos os
protagonistas do suposto movimento democrático são desmascarados e
mostram abertamente como são agentes da Formosa e dos Estados
Unidos. Vemos de quem foi advogado Mandel.
Yan
Jiaqi, o pensador do movimento “democrático”, foi à Formosa em
8 de Maio de 1990, para declarar isto: “Para a democratização da
China continental, a experiência da Formosa tem um grande valor como
referência.”[51]
O
segundo herói da Praça TianAnMen era Wuer Kaixi. Em 29 de Janeiro
solicitou uma entrevista com John Chang, o director do departamento
de negócios chineses do Kuomintang, quer dizer, o chefe dos serviços
secretos da Formosa na República Popular. O nosso democrata declarou
aos fascistas: “a comunicação entre os chineses anti-comunistas é
o primeiro passo para a unidade.”[52]
Su
Hsiao-Kang, o célebre escritor, chegou à Formosa no início de
Janeiro acompanhado por outros quatro escritores, militantes da Praça
TianAnMen. Ali denunciou: “o totalitarismo de tipo stalinista
imposto por Mao Tsé-Tung”. Segundo a imprensa da Formosa,
“criticou a Formosa pela pouca contundência do seu apoio ao
movimento democrático do continente”. Sempre segundo a imprensa do
Koumintang: “Su afirmou que certos membros da Federação para a
Democracia na China pensavam que a acção sangrenta e a guerra civil
eram inevitáveis no combate pela democracia.”[53]
Yueh
Wu, dirigente do Sindicato Operário de Pequim, muito bem considerado
pelos nossos trotskistas, chegou a 16 de Janeiro à Formosa,
convidado pela Liga Anti-comunista Mundial![54]
Em
Janeiro, todos os dirigentes da Federação, liderados pelo
secretário-geral Wan Runnan, assim como cinquenta estudantes e
escritores do movimento de TianAnMen, foram convidados à Formosa. Um
quadro do Kuomintang declarou: “hoje é um segredo público que
todos os grupos importantes do movimento democrático recebem a maior
parte de seus fundos de ajuda da Formosa.”[55]
Estas
informações podem provocar calafrios em todos os que acreditaram,
num momento ou outro, que os estudantes de TianAnMen eram jovens
ingénuos, politicamente virgens. Agora, as provas são contundentes:
para toda a direcção do movimento, a “liberdade” é a liberdade
da empresa capitalista e da exploração, a “democracia” e o
multi-partidarismo é o regresso do partido fascista do Kuomintang e
dos seus esquadrões da morte à China. A grande campanha
anti-comunista que a Amnistia Internacional lançou em Maio de 1990
tem como lema: “No ano passado, a primavera florescia na China
cheia de Esperanças”.[56] Uma expressão claramente política que
repetia a versão difundida pelos estrategas do imperialismo: o
movimento pela democracia era uma primavera cheia de esperanças.
Agora, se a Amnistia Internacional quer fazer política (e a faz com
grande requinte), não pode impedir um debate aberto nas suas
fileiras sobre a análise deste movimento. E uma analise objectiva
leva a uma conclusão indiscutível: este movimento apontava para o
restabelecimento da dominação neo-colonial sobre a China e o
renascimento da dominação fascista do Kuomintang. E está é a
orientação que defende a Amnistia Internacional-Belga sob o
pretexto de “não fazer política”.
O
seu “pacifismo” era uma mentira: aqui estão as provas
Hu
Yaobang morreu a 15 de Abril de 1989. O sector mais à direita dos
estudantes de Pequim aproveitou isto para reivindicar que a
tendência de Hu, cuja orientação liberal pró-imperialista é bem
conhecida, tivesse a direcção absoluta do Partido e que os últimos
representantes da linha marxista-leninista fossem eliminados. O
primeiro requisito desta direita é a restauração dos méritos de
Hu Yaobang, criticado em 1987, e a reabilitação política de todos
os seus partidários excluídos do Partido, cuja figura principal é
Fang Lizhi, o célebre adorador do imperialismo americano e do regime
da Formosa. Em 24 de Abril, este núcleo de estudantes anuncia a
formação de um Comité preparatório da Federação Nacional dos
Estudantes e a sua ruidosa defesa do Solidariedade indica a intenção
de construir um centro político legal capaz de reunir todas as
forças anti-comunistas.[57]
Como
resposta, o Bureau Político do Partido Comunista denunciou a 26 de
Abril “uma conspiração organizada e “uma agitação que tentava
acabar com a direcção do Partido Comunista e com o regime
socialista”.
A 2
de Maio, o grupo estudantil envia uma petição ao Partido em que
afirma responder à oferta de diálogo feita pelo governo. Quando o
estudamos cuidadosamente, comprova-se que este grupo não procura de
maneira nenhuma o dialogo, mas sim o confronto e que o seu grande
objectivo é o derrube do Partido Comunista. No primeiro ponto,
exigem “a igualdade absoluta” entre as duas partes, os estudantes
e as autoridades nacionais, com a presença dos responsáveis mais
altos do Partido e do Estado. Os estudantes devem ser representados
pela Federação Autónoma dos Estudantes, o que implica o
reconhecimento oficial das organizações anti-socialistas. O grupo
exige também que o encontro seja retransmitido integralmente pela
televisão, facilitando assim a implantação da organização
anti-comunista no resto do país.[58]
Compreendendo
perfeitamente o sentido político desta táctica, uma revista do
governo norte-americano declara: “se esta petição fosse aceite,
os estudantes obteriam a legalização da primeira organização
política completamente independente da história da República
Popular e a negação dos quatro princípios fundamentais de Deng
Xiaoping.”[59]
Zhao
Zhiyang une-se à contra-revolução
Um
marco importante verificou-se a 4 de Maio, com o discurso de Zhao
Zhiyang, no seu regresso de Pyongyang. Perante os membros do Banco
Asiático de Desenvolvimento, Zhao apresenta uma avaliação positiva
do movimento estudantil e reprova os que consideravam que este
movimento estava dirigido por forças anti-socialistas.
Uma
revista do governo norte-americano fez, pouco depois, a seguinte
análise da intervenção de Zhao: “apesar da enorme dimensão das
manifestações, ainda não constituem uma rebelião popular. Estas
manifestações só foram possíveis no momento em que os
manifestantes viram que tinham a simpatia de uma facção do Partido
e do aparato governamental, que via nos manifestantes uma ajuda ao
seu combate contra os conservadores. Este processo começou depois do
discurso de 4 de Maio de Zhao.”[60]
Muitos
membros do Partido Comunista são desorientados pelas apreciações
sobre o movimento estudantil que vêm da direcção do Partido. Zhao
dá instruções a todos os meios de comunicação para que apoiem o
crescente movimento. Graças aos meios de comunicação, o movimento
estudantil transforma-se num movimento popular. Depois da declaração
da lei marcial, em 20 de Maio, até ao dia 25 de Maio, a imprensa, a
rádio e a televisão chamam a população a opor-se à entrada do
Exército em Pequim.[61]
E
neste momento, de confusão política geral, quando as forças
autenticamente de esquerda, gente que criticava as reformas de Deng
Xiaoping a partir dos princípios de Mao Tsé-Tung e Zhou En-lai,
comprometeram-se com o movimento. Desde esse momento os manifestantes
perseguiram fins totalmente opostos, uns querendo o regresso aos
princípios socialistas dos anos de Mao e outros impulsionando as
reformas até à introdução da economia de mercado. Estes últimos
tiveram a direcção política do movimento em todo o momento.
A
direita e o assalto ao Poder
A
17 de Maio, Yan Jiaqi, um dos principais dirigentes do movimento e
colaborador próximo de Zhao, publicou o Manifesto do 17 de Maio. Em
apoio a Zhao Zhiyang contra o “imperador” Deng Xiaoping e contra
“o governo controlado por um ditador absolutista”. Yan escreve:
“Abaixo o editorial de 26 de Abril! Abaixo a ditadura! Viva o
espírito de oposição à tirania!” O seu manifesto é publicado
no dia seguinte pela imprensa da Formosa.[62] Desde esse dia, fala
abertamente da eliminação da esquerda marxista do governo.
Podemos
ler numa declaração da direcção do movimento de TianAnMen, em 21
de Maio: nós não somos a “classe de pessoas que buscam um
compromisso com um governo que trata este movimento patriótico de
modo errado”. Se o governo não desaparecer, então “os
distúrbios nunca terão fim”.[63] No mesmo 21 de Maio, Yan Jiaqi
reclama numa declaração o derrube do primeiro-ministro Li Peng, do
presidente da República Yang Shangkung e da autoridade superior
militar, Deng Xiaoping. Yan reclama a sua expulsão do Partido e da
sua corrente em acusação diante do tribunal.[64]
Porém,
em finais de Maio de 1989, a grande maioria do Comité Central do
Partido, liderada por Deng Xiaoping e Li Peng une-se contra a facção
pró-capitalista de Zhao Zhiyang.[65]
No
1º de Junho, o quartel general dos estudantes em TianAnMen exige o
fim da lei marcial e a retirada das tropas. Ao anunciar a violência
que preparam, afirmam: “se estas reivindicações não forem
aceites os estudantes estarão dispostos a sacrificar as suas
vidas.”[66]
De
forma manifesta o movimento perde o dinamismo. Contudo, o núcleo
duro não pensa em ceder de nenhuma maneira. Pelo contrário,
preparam acções desesperadas. Os estudantes decidem continuar a
ocupação da Praça TianAnMen até à sessão do Congresso dos
deputados de 20 de Junho. Um novo pico de protestos é sempre
possível em Pequim. Alguns distúrbios já se manifestavam nas
províncias. Uma revista do governo norte-americano que comprova a
decadência do movimento escreve: “por causa do financiamento
procedente do sector privado chinês e dos simpatizantes de fora e do
reforço proporcionado por novos manifestantes que chegam a capital,
é difícil que o movimento se dissolva por si mesmo.” [67]
Depois
de uma campanha de informação de duas semanas, durante a qual as
autoridades não aplicaram a lei marcial, decidiram desocupar a Praça
utilizando o Exército e as forças de ordem. A 2 de Junho, enviaram
soldados desarmados para fazer com que os estudantes marchassem. Não
é de nenhum modo uma “provocação”, como disse a imprensa
anti-comunista. O envio de soldados sem armas corresponde
perfeitamente à fase de decadência do movimento e à vontade do
Partido de acabar com as desordens sem violência, política
praticada há seis semanas e absolutamente impensável em qualquer
país imperialista. Neste 2 de Junho, os soldados desarmados são
atacados, agredidos e feitos prisioneiros por estudantes e elementos
não identificados.
[1]
nota do tradutor espanhol: Exército Popular de Libertação desde
Junho de 1946.
[2]
Beijing Information, 6 de Março de 1986, p.21.
[3]
nota do tradutor espanhol: Friedman é um economista norte-americano,
figura principal da Escola de Chicago e Prémio Nobel de Economia em
1976. Criador da ultra-liberal teoria monetária, que defende as
forças do mercado livre contra o investimento público. Entre as suas
obras está Capitalismo e Liberdade, de 1962.
[4]
A China, Fevereiro de 1989, p.12.
[5]
China Actual, Aaneiro de 1989, p.19
[6]
Problems of Communism, Setembro-Outubro de 1989, p.37.
[7]
Orbis, Verão de 1989, p.327-335.
[8]
Beijing Information, 6 de Março de 1989, documento VIII.
[9]
Far Eastem Economie Review, 29 de Maio de 1989, p.18.
[10]
Business Week, 5 de Junho de 1989, p.21-22.
[11]
Business Week, 5 de Junho de 1989, p.21-22.
[12]
The Guardian, 10 de Maio de 1989, por Cliff Du Rand
[13]
Far Eastern Economia Review, 1 de Junho de 1989, p.66.
[14]
Le Printemps de Pékin, Gallimard, 1980, p.69-71. Le dégel, 9 de
Março de 1979.
[15]
De papieren lente, Aula-paperback 64, Het Spectrum, 1981, p.96-97;
123; 128.
[16]
Lawrence Macdonald - Jean Christophe Tournebise, Le Dragon el la
Souris, Bourgeois, 1987, p.84.
[17]
Ibidem, p.204-205; 229-230.
[18]
nota do tradutor espanhol: movimento de protesto dirigido pelos
estudantes de Pequim após a segunda guerra mundial. Os manifestantes
que chegaram a Praça Tian An Men queixavam-se que a China não tinha
assinado o Tratado de Versalhes.
[19]
Beijing Information, 2 de Novembro 1981, p.21.
[20]
Lawrence Macdonald, op. cit, p.34.
[21]
Beijing Information, 9 de Janeiro de 1989, p.21-23.
[22]
Circular do Comité Central de 16 de Maio de 1966.
[23]
Beijing Information, 25 de Julho de 1988, p.5.
[24]
Lawrence Macdonald, op. cit., p.238.
[25]
Ibidem, p.242.
[26]
The China Quarterly, Junho de 1988, p.182.
[27]
The Mirror Monthly, Abril de 1989, p.22-24, en Inside Mainland China,
Junho de 1989, p.7.
[28]
Problems of Communism, Setembre-Outubro de 1989, p.19.
[29]
Wide Angle Monthly, 16 de Abril, p.62-65, en Inside Mainland China,
Junho de 1989, p.14.
[30]
International Herald Tribune, 2 de Novembro de 1988.
[31]
Le Monde, 8 de Setembro de 1989.
[32]
Problems of Communism, Setembro-Outubro de 1989, p.19.
[33]
Pai-hsing Semi-monthly, 16 Maio de 1989, p.25 en Inside Mainland
China, xullo de 1989, p.22; Problems of Communism, Setembro-Outubro
de 1989, p.19.
[34]
Problems os Communism, Setembro-Outubro de 1989, p.4.
[35]
Problems of Communism, Setembro-Octubre de 1989, p.4-5.
[36]
Petición contra a represión en China, Annemie Desmedts, Socialisme
Sans Frontières.
[37]
The Free China Journal, 8 de Junho, 1989, p.2.
[38]
Sinorama, Taipei, vol. 14, nc8, Agosto de 1989, p.55.
[39]
Libération, 17 de Janeiro de 1989, p.5.
[40]
Echos de la République de Chine, 21 de Junho de 1989, p. 1.
[41]
The Free China Journal, 22 de Março de 1990, p.5; Echos de la
République de Chine, Ibídem.
[42]
Manifesto da FDC, París, 26 de Setembro de 1989.
[43]
The Free Journal, 10 de Agosto de 1989.
[44]
The Free Journal, 14 de Agosto de 1989.
[45]
Libération, 2 de Outubro de 1989.
[46]
Bulletin de Sinologie, Hong-Kong, Fevereiro de 1990, traducción de
Solidarité Estudiants Chinois, Maio de 1990, L-L-N, p.5.
[47]
The Nation, New York, 23 de Abril de 1990, p.563-564.
[48]
Libération, 2 de Outubro de 1989.
[49]
Problems of Communism, Setembro-Outubro de 1989, Chinese Democracy,
p.27.
[50]
Rood, 20 de Junho de 89, p.7.
[51]
The Free China Journal, 14 de Maio de 1990.
[52]
The Free China Journal, 5 de Fevereiro de 1990.
[53]
The Free China Journal, 11 de Janeiro de 1990, p.2.
[54]
The Free China Journal, 22 de Janeiro de 1990, p.2.
[55]
The Nation, ... , p.564.
[56]
Bijlage Amnesty Nieuws, 6º ano, Junho de 1990.
[57]
Problems of communism, The Tiananmem massacre, p.6.
[58]
?
[59]
Problems of communism, Setembro-Outubro de 1989, p.25.
[60]
Problems of communism, Setembro-Outubro de 1989, Political sociology
of the Beijing Upheaval, p.38.
[61]
Ibídem, p.39.
[62]
United Daily News, 18 de Maio, Taiwán, en Inside Mainland China,
Junho de 1989, p.3.
[63]
Carta aberta a Deng Xiaoping, Inside Mainland China, Agosto de 1989,
p.7.
[64]
Inside Mainland China, Agosto de 1989, p.7-8.
[65]
Ming Pao, 22 de Maio de 1989, en Inside Mainland China, Junho de
1989, p.1.
[66]
Joint Declaration, en Inside Mainland China, Agosto de 1989, p.9.
[67]
Problems of Communism, Setembro-Outubro de 1989, The Tian An Men,
p.12.
Informamos que colocamos um Banner em nosso site - http://comunidadestalin.org/
ResponderEliminarComunidade Stálin
Camaradas, se verificarem, o link para o vosso blogue também se encontra disponível no nosso blogue, em "Outros Blogues" ;)
ResponderEliminarUm Grande Abraço!