quarta-feira, 8 de maio de 2013

Poesia | Pablo Neruda - Foi Sangrenta




Foi sangrenta toda a terra do homem.
Tempo, edificações, rotas, chuva,
apagam as constelações do crime,

o certo é que um planeta tão pequeno
foi mil vezes coberto pelo sangue,
guerra ou vingança, armadilha ou batalha,
caíram homens, foram devorados,
depois o esquecimento foi limpando
cada metro quadrado: alguma vez
um vago monumento mentiroso,
às vezes uma clausula de bronze,
depois conversações, nascimentos,
municipalidades, e o esquecimento.

Que artes temos para o extermínio
e que ciência para extirpar lembranças!

Está florido o que foi sangrento.
Preparar-se, rapazes,
para outra vez matar, morrer de novo
e cobrir com flores o sangue.

Pablo Neruda

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