A Preparação
Sistemática da Violência
Se é
indiscutível que a maioria dos estudantes não desejavam violência,
é também evidente que a direcção do movimento, desde o início e
de forma sistemática, preparou os a situação para um confronto
violento.
A 21 de Abril de
1989 faz-se, a partir da Universidade de Beida, um apelo à greve.
“Queremos fazer progredir a democracia pela sinceridade do nosso
sacrifício, pouco importa a repressão, escalaremos montanhas de
laminas cortantes, nós submergiremos em oceanos de fogo!”[1] , é
uma linguagem que chama ao sangue.
Outro
jornal de 23 de Abril segue textualmente a propaganda de Taiwan: “a
democracia e a liberdade é o fim de nossa greve. A luta é
inevitável, temos de aceita-la sem temor. Haverão vitimas, porém o
sacrifício vale a pena. Podemos aceitar a dor de ter nascido na
escravidão? Nascemos livres, eles querem fazer-nos escravos.”[2] É
uma táctica posta em prática desde há muito tempo pela CIA para a
luta nos países socialistas: evitar por tanto tempo quanto seja
possível o confronto directo com os órgãos da ditadura do
proletariado; ganhar uma vasta influência entre as massas menos
conscientes proclamando a sua vontade pacifista; preparar
psicologicamente o confronto inevitável para, finalmente, destacar
que as autoridades puseram em marcha a agressão e que os
manifestantes têm direito à legitima defesa.
A 13 de Maio, os
dirigentes decidem dramatizar a luta começando uma greve de fome de
3.000 estudantes. Preparando o confronto, falam cada vez mais
frequentemente da morte. Na petição da greve de fome, os estudantes
da universidade de Pequim falam do momento crucial, de vida ou morte,
que decidirá a sobrevivência ou o naufrágio da nação. “A morte
não é nosso fim. No entanto, se a morte de uma pessoa pode melhorar
a vida de muitos outros e conseguir uma nação próspera e poderosa,
então temos o direito de actuar vilmente.”[3] Um professor chinês
de inglês explica a um jornalista do Libération a táctica seguida
pelo movimento. “A direcção do Partido Comunista deve, primeiro,
reconhecer a associação de estudantes e a legitimidade do nosso
movimento. Contudo, estas são apenas as nossas primeiras exigências.
Devem abandonar a praça. E se utilizam a violência, acontecerá na
China o que se viveu na França de 1789, a tomada da Bastilha.”[4]
A 22 de Maio, os
estudantes da Praça TianAnMen elevam ainda mais a tensão. “Li
Peng e Yang Shangkun deram um golpe de Estado contra-revolucionário.
Destituíram o secretário-geral Zhao Ziyang. Todo o povo deve
esmagar este golpe de Estado e rechaçar o governo de Li Peng.”[5]
Esmagar um golpe de Estado contra-revolucionário: é possível
fazê-lo de forma gentil e pacífica?
Na terça-feira,
30 de Maio, uma bandeira ondula sobre a Praça TianAnMen: “o 1789
da China”, abertamente apelando a uma revolução para derrotar o
regime. Wang declara a um jornalista do Libération: “a história
prova que não se pode conquistar a liberdade sem o recurso à
violência. É lamentável, mas o sangue tem de fluir. Na China não
chegou ainda o momento. A violência vai-nos afastar das massas.
Primeiro temos que despertar o povo e ganhar o seu apoio para a causa
da democracia.”[6]
Às 21 horas do
dia 3 de Junho, antes da intervenção das forças de ordem, quando
Chai Ling pede aos estudantes da praça que levantem a mão e jurem:
“pelo progresso do nosso país até à democracia, pela
prosperidade de nosso país e para impedir que um milhão de chineses
morram na guerra, juro proteger a Praça TianAnMen e a República com
a vida. As nossas cabeças podem ser cortadas e podem derramar o
nosso sangue, mas a praça do povo não se pode perder. Estamos
prontos para brigar até o fim até o último de nós.”[7]
Os
pacifistas: “Sabemos que deve correr sangue!”
Encontramos uma
discussão extremamente significativa e reveladora do “carácter
pacifico” do movimento, na revista Problems of Communism, publicada
pela Agência de informação do governo norte-americano. Prova,
indiscutivelmente, duas coisas. Primeiro: a opção não violenta do
movimento de Pequim era uma simples táctica, uma manobra inteligente
para recolher um apoio tão grande quanto fosse possível para as
actividades e as teses anti-comunistas. Em segundo lugar: há uma
divisão de papeis. Enquanto as vozes “oficiais” cantavam a não
violência, elementos “especializados” estavam preparados para a
violência. Isto é o que diz a revista do governo norte-americano a
propósito da “acção sem violência” destes dirigentes
estudantes tão inocentes: “Considerações de tipo prática
aconselharam uma aproximação não violenta. O regime comunista,
todavia controla forças militares e policiais impressionantes. O
exército e as forças da policia mantiveram-se firmemente do lado do
regime. Seria uma ilusão para o movimento democrático reunir-se nas
montanhas como fez Mao nos anos trinta. Os democratas dizem que se a
violência tem um papel no futuro da China, terá que vir do interior
do exército chinês. O presidente da Primavera da China, Hu Ping,
disse no Quarto Congresso da organização em Los Angeles: “A nossa
organização não tem força para dar um golpe militar”. Wan
Runnan, da Federação Democrática afirmou: “O nosso principio da
acção sem violência não significa que o sangue não correrá. Há
uma divisão de papeis. O nosso papel é organizar actividades
agradáveis, racionais e não violentas. Porém, outros cumprirão
outros papeis.” A acção sem violência e o apoio ao socialismo
oferecem as melhores possibilidades para construir uma grande
coligação contra o regime e para atrair ao máximo o apoio oficial
e não oficial no estrangeiro. Um dirigente da Primavera da China
declarava no momento dos debates do Quarto Congresso: “só a
bandeira dos métodos pacíficos pode reunir uma audiência ampla e
plural. Se alguém aqui me pedisse dinheiro para espingardas, daria
certamente as espingardas para a caça de aves.” [8]
Os
amotinados atacaram primeiro
Quando o
exército e a policia quiseram reestabelecer a ordem, depois de duas
semanas onde tentaram explicar a situação aos estudantes e
dissuadi-los, os primeiros feridos e também os primeiros mortos,
caíram do lado do exército.
O jornal
Libération descreveu os acontecimentos e sexta-feira, 2 de Junho,
nestes termos: “as massas lançaram-se sobre os militares, a imensa
maioria muito novos e sem armas. Milhares de soldados foram feitos
prisioneiros. O seus oficiais ordenavam que não resistissem.”[9]
No sábado, 3 de Junho, às 15 horas, o jornalista do Libération
anotou que manifestantes atearam fogo a veículos militares. E
continua: “armas, recolhidas de um dos veículos, apresentam-se.
Pequim tinha já, esta tarde, um ar de motim.” “Sem violência
não podemos conquistar mudanças. Devemos preparar-nos para isso.
Não tememos a violência”, grita um operário. Esta violência já
está no ar. No sábado, às cinco da tarde, no Palácio do Povo,
jovens patrulham com pedras e largos cacetes recolhidos das mãos dos
policias. “Estamos preparados para o sacrifício”, clama um
orador improvisado. Se cai um de nós, serão um milhão os que se
levantam”. As massas gritam: abaixo o regime fascista! Cada vez
mais gente fala de “responder à violência do Estado.”[10] Lemos
em Le Soir: “ao redor de quilómetros, tanto no oeste como no este
da Praça TianAnMen, a avenida Chang’na não é mais que uma
sucessão de barricadas.”[11] O jornal de direita The Far Eastern
Economic Review escreve: “Na tarde de 3 de Junho, uma nova
intervenção de soldados a pé e desarmados foi parada diante do
Hotel de Pequim, porém desta vez, alguns soldados são agredidos
brutalmente por bandos de jovens criminosos que apareceram pela
primeira vez na Praça TianAnMen com barras de ferro e cassetetes.
Durante vários incidentes, vários soldados perderam a vida,
agredidos a murro e pedras. Em Chong Wen Men, o corpo de um soldado
foi queimado. Num outro incidente, manifestantes mutilaram o corpo de
um soldado.”[12] Um cidadão belga em Pequim declara por telefone:
“primeiro enviaram os tanques do 38º Exército contra os ocupantes
de TianAnMen. Procuraram que não houvesse violência. Não
conseguiram, houve mortos nas suas fileiras.”[13]
Quem são estes
grupos de assassinos? Johan Galtung examinou os vídeos da violência
e escreveu: “movem-se rápido e muito, lançam coquetéis molotov,
sabendo exactamente como destruir um veiculo, até um tanque.
Aparentemente, têm uns trinta anos.”[14] Podemos razoavelmente
pensar em agentes vindos da Formosa, essa base mundial de esquadrões
da morte, agentes que podem actuar desde há muito tempo graças à
passividade e à tibieza do governo, e têm um papel importante nesta
violência. À Formosa interessa que o movimento termine
violentamente e ela tem os meios para realizar as provocações
necessárias para este fim.
Empurrados
deliberadamente para a morte?
Até um jornal
tão anti-comunista como o Libération, se viu obrigado a sugerir as
hipóteses segundo a qual os dirigentes do movimento estudantil
provocaram deliberadamente o fim violento de um movimento que sabiam
perdido. O Libération cita um dirigente ligado ao Ocidente, Lao Um:
“duas semanas antes da matança, sabíamos que tudo estava perdido
e Wang Juntao obrigou a preparar documentação falsa para assegurar
a fuga dos intelectuais e de alguns estudantes que dirigem o
movimento, entre os quais estava eu.” O Libération formula a
pergunta necessária: “Por que Wang Juntao se opôs à evacuação
de TianAnMen, enquanto as informações comunicadas aos activistas
pelo jornalista Dai Qing, alguns dias antes, falavam de uma iminente
e indiscriminada intervenção militar? Alguns dirigentes do
movimento consideravam que um mártir serviria melhor a causa?”
“Toda a estratégia do movimento se baseou na busca de um mártir”,
reclamava recentemente um dos lideres da rede democrática.[15]
O
exército tinha a obrigação de acabar com o motim
A 4 de Junho,
era urgente para o exército intervir para encerrar aquelas
provocações assassinas e a ocupação da Praça TianAnMen.
Desde o 1 de
Junho, A Voz da América informava sistematicamente que unidades do
exército estavam a ponto de enfrentar-se entre elas, que os soldados
se negavam a impor a lei marcial, que o governo não contava com
nenhum apoio. Noutras palavras, a emissora de rádio da CIA incitava
abertamente à insurreição.
O exército não
podia eclipsar-se perante a violência e os assassinatos, tão pouco
podia permitir que os anti-comunistas continuassem a ocupação do
coração da capital. Isto seria considerado por todas as forças
anti-socialistas como uma expressão da impotência do exército
perante as forças da contra-revolução, como um indicador da
paralisia e da debilidade do governo e que este podia ser derrubado.
A intervenção
do exército para por fim ao motim anti-comunista tornava-se
necessária, contudo, constituía, ao mesmo tempo, a prova do
fracasso de certa política. A orientação pró-capitalista, ou,
pró-imperialista de Hu Yaobang e de Zhao Zhiyang provocam um
descontentamento justificado na população, criando uma grande
confusão política. Não compreendendo o alcance do programa do
núcleo duro de TianAnMen, uma parte da população de Pequim opõe-se
à intervenção do exército.
Para combater a
violência justificada com que o país socialista se defende contra o
imperialismo, os piores fascistas juram pelo humanismo e o
humanitarismo. Isto demonstra que quando uma força política começa
a falar de humanismo é necessário fazer sempre uma análise de
classe. O porta-voz do governo fascista da Formosa, no que respeita
às ingerências norte-americanas na República Popular da China,
comentam: “os Estados Unidos provaram que eram dignos de ser os
dirigentes do mundo livre ao manter bem altos os princípios do
humanismo e dos direitos humanos.”[16] Agora, nos primeiros meses
de 1990, em El Salvador, grupos fascistas enviados pela Formosa,
bombardeiam cegamente os bairros populares da capital, massacrando a
população. Em visita à Formosa, a 21 de Fevereiro deste ano, o
presidente de El Salvador, Christiani, declarou: “Juntos marchamos
pelo caminho da liberdade e da democracia.”[17] No momento da
agressão contra o Panamá, um Estado independente, os Estados Unidos
mataram, segundo Eduardo Galeano, 7.000 pessoas. Todos os crimes
inqualificáveis do imperialismo, são sistematicamente apagados da
memória de nossos povos, enquanto a repressão justificada dirigida
contra a sublevação imperialista, em Pequim, é recordada pela BBC,
diariamente, semana após semana desde há mais de um ano, contra o
maior crime contra a humanidade. Não podemos estar ao lado dos povos
de El Salvador, da Guatemala, de Granada, do Panamá, da Argentina,
das Filipinas, povos aterrorizados pelos Estados Unidos e pela
Formosa, e não estar do lado do governo socialista chinês que
combate as tentativas de reconquista da China por parte da Formosa e
dos Estados Unidos.
A
China numa encruzilhada
Como pensar o
futuro deste país imenso que é a China Popular, um ano depois da
repressão do motim contra-revolucionário de Pequim?
Hoje, existe o
risco que a agitação contra-revolucionária se levante de novo e
existe também o perigo que a linha revisionista e pró-capitalista
tome a direcção do Partido Comunista Chinês. Se dessa maneira a
direita pode minar o interior do Partido para depois o desvirtuar, a
China submergirá num caos catastrófico que, em alguns anos, custará
a vida de milhões de pessoas.
A China poderá
evitar este cataclismo se a correcção, a rectificação e a
revolucionarização do Partido Comunista continuar até o fim. Só o
socialismo pode salvar a China e só o Partido Comunista pode dirigir
a construção socialista. A história recente tanto da Europa de
Leste, como da China, diz-nos que nos países socialistas existem dos
tipos de luta de classes.
Uma contra os
reaccionários, os elementos inimigos do socialismo, os agentes do
imperialismo. E outra, que tem lugar no interior do Partido para a
conservação da suas tradições revolucionárias. Esta luta pela
revolucionarização constante do Partido, esta luta contra as
tendências da degeneração é sem duvida, a mais complexa, porém
também a mais cruel.
Nós estamos em
desacordo com os que fazem da luta pela “democracia” a questão
essencial. O exemplo de TianAnMen demonstra claramente que a palavra
“democracia”, supostamente acima das classes é utilizada para
propagar o desenvolvimento livre de toda a classe de organizações
anti-socialistas e pró-imperialistas. Assim, a “democracia” é a
consigna na Formosa e significa, nestes casos, que o partido fascista
Kuomintang tem tanto direito à participação activa e constante
como as massas populares na edificação do socialismo, na sua defesa
e no aperfeiçoamento do seu sistema político e económico. O
desenvolvimento da democracia socialista está condicionada pela
revolucionarização do Partido. Um elevado grau de democracia
socialista depende do trabalho exemplar dos comunistas, dos seus
laços com as massas, do seu estilo de vida simples e da luta dura,
do seu espirito de sacrifício, da sua fidelidade, não em palavras
mas em feitos, ao marxismo-leninismo e da sua capacidade de
centralizar todas as ideias progressistas das massas.
Porém
o Partido cometeu erros...
Objectam-nos, em
certas ocasiões, que o Partido Comunista Chinês cometeu erros e
falhas. Isso é evidente. Porém, quais são as conclusões que se
retiram destas considerações? Situar-se no campo da
contra-revolução e do revisionismo é a cura para a enfermidade do
socialismo? Todas as correntes demagógicas acentuaram sempre os
erros e as debilidades do Partido, para impulsionar as concepções
anti.socialistas e contra-revolucionárias.
Os que apoiaram
os heróis da Praça TianAnMen puderam agora constatar que apoiaram
uma direcção ferozmente anti-socialista e pró-Formosa. Os que
apoiaram o moderado, o reformador, o homem que das provas da sua
flexibilidade e da sua vontade de diálogo, Zhao Zhiyang, vêem hoje
que apoiaram uma linha política de privatizações e mercado livre.
Lutar contra os erros e as debilidades do Partido de um ponto de
vista revolucionário, e lutar pela depuração do Partido dos
elementos burgueses, oportunistas, burocráticos e podres, é lutar
pela conservação dos princípios marxista-leninistas e pelo seu
desenvolvimento.
Gerontocracia
positivo e negativo
Os eventos na
China mostraram-nos, mais uma vez, que sob o socialismo a luta de
classes no partido é extremamente complexa. É necessário adoptar
uma atitude de estudo de pesquisa e análise para encontrar
verdadeiros interesses de classe que estão por trás de algumas
proposições tentadoras.
Queremos
desenvolver esta ideia, tomando o exemplo de demagogia da imprensa
burguesa contra a gerontocracia, o despotismo dos velhos
conservadores corruptos opostos à juventude democrática e
desinteressada.
Primeiro, na
China, entre a velha guarda do partido, alguns são de direita,
esquerda e centro. Vamos começar à direita. Num documento do
Partido Comunista Chinês, em 1984, podemos ler: "Há um pequeno
número de antigos membros e funcionários que não é capaz de
respeitar os princípios do partido. Quando encontram uma tendência
doentia, seguem-a". "No momento que se comprometeu a
discutir a abertura para o mundo exterior, algumas pessoas do governo
e do Partido foram atraídas como abelhas pelo mel”.[18] na luta no
seio do Partido, estes velhos defendiam as posições de Hu Yaobang e
de Zhao Zhiyang e nem o imperialismo da Formosa se inquietou pela sua
idade, já que lutavam pela boa causa, a mesma que destes bons
velhos: o papa de Roma, Ronald Reagan e Willy Brandt.
Pelo contrário,
Deng Xiaoping era, aos olhos do Ocidente, o protótipo do velho
tirano e retrograda. E, contudo, quando Deng apoiou a política
revisionista de Hu Yaobang e de Zhao Zhiyang, o Ocidente não o
poupou por isso. Deng defendeu a política nefasta de Zhao Zhiyang
até Abril de 1989. E até ao momento do início do movimento
estudantil, a imprensa do Kuomintang manteve a esperança que Deng se
posicionasse ao lado da reforma e da democracia. Uma revista da
Formosa escreveu: “o lugar de Deng na história depende desta
decisão”.[19] Durante dez anos, o velho Deng manteve uma posição
centrista, ainda que inclinando-se mais para a direita.
Outros velhos,
como Chen Yun e Li Sien, criticaram durante muitos anos vários
aspectos da política de Deng Xiaoping. Fue Chen Yun foi o que mais
fortemente combateu a orientação para o mercado livre e o abandono
da planificação. Também é – e vale a pena assinalar, já que
Chen Yun representa, aos olhos do imperialismo, aos conservadores e
corrompidos – quem com mais constância criticou todos os casos de
corrupção no seio do Partido.
Resumindo, a
luta de classes afecta tanto os velhos como os jovens, a população
e o Partido. Portanto, é preciso analisar a fundo a coerência das
diferentes correntes políticas.
A
direita pró-imperialista foi derrotada na China
Quais as
conclusões que podemos tirar dos meses da confrontação política
em Pequim? A luta de classes que se desenvolve na primavera de 1989
acabou numa importante derrota para a direita pró-capitalista do
Partido Comunista Chinês. Juntamente com Zhao Zhiyang, foram
depurados toda uma serie de intelectuais de direita e de
extrema-direita, como Yan Jiaqi.
No seu
conjunto, a actual direcção situa-se mais à esquerda. Esta
situação verifica-se, primeiro, no campo político e ideológico:
Há uma nova
consciência do perigo da subversão e da infiltração, organizadas
a grande escala na China pelo imperialismo e pela Formosa. O Partido
Comunista retomou a concepção de Mao segundo a qual a luta de
classes continua sob o socialismo, assim como persiste o perigo de
uma restauração capitalista. Dentro do Partido Comunista Chinês, a
capitulação ante o imperialismo. O Partido põe em primeiro plano o
trabalho político e ideológico como principio directivo. A
necessidade dos intelectuais se fundirem com os camponeses e
operários é reafirmada. Alguns redescubriram as obras de Mao
Tsé-Tung, numa tentativa de compreender as características da luta
de classes.
No
campo econômico também encontramos alguns novos acertos:
A planificação
socialista recuperou o seu papel, importantes fundos são destinados
à agricultura, o desenvolvimento da empresa privada foi retido, a
campanha contra a corrupção e contra as desigualdades
fortaleceu-se.
A
importância da informação:
Entretanto, a
luta é complexa e o seu desenvolvimento incerto. É importante
seguir os debates e analisar os pontos de vista diferentes que se
manifestam no seio do Partido Comunista Chinês. Queremos sublinhar a
importância de obter informação de primeira mão sobre as posições
dos comunistas chineses. É preciso dizer que o desprezo de numerosos
progressistas ocidentais pela experiência socialista de mil milhões
de pessoas é simplesmente escandalosa. Os que nem sequer se dão ao
esforço de ler os documentos do Partido Comunista Chinês, mantêm
fixas, com absoluta arrogância, as suas críticas e receitas
infalíveis para salvar o socialismo chinês. A mais elementar
honestidade intelectual obriga-nos a seguir com atenção e interesse
as publicações chinesas. Ali encontramos tanto analises pertinentes
como teses discutíveis e, também, pontos de vista revisionistas.
Informar-se objectivamente sobre a política do Partido comunista é
instrutivo em si mesmo. Nem estamos obrigados a emitir um juízo
sobre todas as medidas e todas as teses nem devemos mudar as nossas
opiniões demasiado rápido e de forma categórica.
O
Futuro da China é incerto
A partir de
1986, certos especialistas norte-americanos consideravam que na China
se chegava a um ponto em que não havia mais retorno e no qual a
restauração do capitalismo era inevitável. As descolectivizações
no campo, o desenvolvimento da empresa privada, a autonomia das
empresas, o nascimento de uma classe tecnocrata influenciada pelo
modelo ocidental, as zonas económicas especiais, o investimento
estrangeiro, tudo isto, diziam, constituía uma base solida para o
capitalismo. Certos revolucionários consideravam que Deng Xiaoping
concluirá a restauração do capitalismo na China. Porém a mudança
na orientação política e económica, depois de Junho de 1989,
demonstraram a prematuridade destas conclusões.
Poderá o
Partido Comunista Chinês continuar durante muito tempo os seus
esforços de rectificação e aprofundar as suas críticas sobre os
erros cometidos?
Os especialistas
na China lançam varias hipóteses sobre o futuro.
Alguns crêem
que os revisionistas no Partido utilizaram um discurso “mais à
esquerda” aguardando o surto de graves problemas económicos e
sociais para voltar ao poder.
Outros
consideram que a rectificação política e ideológica actual será
superficial, que o burocratismo, a corrupção e o parasitismo
continuaram difundindo-se e que o processo de putrefacção
prosseguirá, como se vem verificando desde 1978. Que os
acontecimentos de Junho de 1989 seriam apenas uma pausa na marcha
para o capitalismo.
A terceira
escola pensa que Deng Xiaoping vai virar-se de novo para direita e
apoiar outra tendência na linha da de Hu Yaobang e Zhao Zhiyang.
Recordando que em Fevereiro de 1989, Deng ainda afirmava que o
Partido não cometia erros importantes desde 1978. Esta escola pensa
que Deng regressará a uma linha de reformas de tipo capitalista.
Estas três
hipóteses falam de uma vitória final das tendências revisionistas
na China.
Outros
especialistas prevêem um surto na China sob a pressão de terríveis
problemas económicos, sociais e demográficos, pelo crescimento dos
particularismos provínciais e pela acção das forças
contra-revolucionárias e pró-Formosa. A China conheceria então uma
nova era de guerras civis devastadoras cuja saída seria
imprevisível.
Finalmente,
podemos considerar que a direcção actual do Partido conseguirá
fazer uma síntese entre os princípios políticos correctos que Mao
elaborou no momento da Revolução Cultural e a política económica
mais flexível posta em prática desde então. Assim, a China poderia
encontrar um novo dinamismo tanto no domínio político como no
económico.
Uma
confirmação de certas teses de Mao Tsé-Tung
Durante a
Revolução Cultural, Mao Tsé-Tung não utilizou os métodos
adequados para resolver o problema da degeneração capitalista,
ainda que tenha abordado correctamente um problema crucial. A
evolução política dos últimos dez anos confirmou amplamente
algumas das suas analises.
Mao disse: “se
nos afastarmos das massas, se não nos esforçarmos para resolver os
seus problemas, os camponeses levantarão as suas foices, os
operários saírão à rua para manifestar-se, os estudantes
provocarão distúrbios. Hoje, existe gente que crê que com a
conquista do poder do Estado se pode descansar em paz e até agir
como um tirano. Se se encontram com as massas que lhes recebem à
pedrada ou a golpes de foice consideram que não merecem isso e sim
aplausos. Não podemos deixar-nos contaminar por esse estilo de
trabalho burocrático, que forma uma casta aristocrática apartada
das massas.” “No passado, levámos a luta ao campo, ás fábricas
e aos meios culturais, empreendemos o movimento educativo socialista,
sem chegar por isso a resolver o problema; porque não encontrávamos
a forma de mobilizar as massas em todos os campos, a partir da base,
para que denunciassem o nosso lado negativo.”
“A
sociedade socialista abarca um período bastante largo no qual
continuam a existir as classes, as contradições de classe e a luta
de classes, ao mesmo tempo que há uma luta entre a via socialista e
a via capitalista e o perigo de uma restauração do capitalismo. É
necessário compreender que esta luta será longa e complexa,
redobrar a vigilância é procurar a educação socialista. Têm de
se resolver correctamente os problemas relacionados com as
contradições de classe, distinguir as contradições entre nós e o
inimigo, e as contradições no seio do povo, e depois procurar uma
solução justa. Se não for assim, um país socialista como o nosso
passará a ser o contrário, mudará de natureza e começará a
restauração capitalista.”
No XI Congresso
do Partido Comunista Chinês, Hua Kuofeng explicou um principio
essencial avançado por Mao: “Ap afirmar que a burguesia existe no
Partido Comunista, o presidente Mao queria dizer que existem membros
que apostam na via capitalista. Enquanto o poder do Partido e do
Estado está nas mãos do núcleo que segue a via marxista-leninista,
os seguidores da via capitalista serão muito poucos e serão
expulsos um depois do outro. Impedindo a formação de uma burguesia.
Só quando os pró-capitalistas se apoderarem do poder do Partido e
do Estado – como na União Soviética – será possível a
formação de uma burguesia monopolista e a conversão do Partido
numa organização burguesa.”[20]
O imperialismo
em crise lança uma ofensiva planetária para reconquistar tanto os
países nacionalistas do Terceiro Mundo como os países socialistas,
acentuando a exploração dos operários da metrópole.
Um
internacionalista estará sempre ao lado dos operários e dos
trabalhadores em luta no seu próprio país. Defenderá sempre os
movimentos que, no Terceiro Mundo, combatem o imperialismo e a
reacção. Apoiará sempre os países socialistas, nos êxitos e nas
dificuldades, e aprenderá com as suas vitorias e as suas derrotas.
No actual clima triunfalista da direita e do anti-comunismo, é
importante dar a conhecer as experiências e os pontos de vista dos
países que preservaram a via socialista. Não temos que nos deixar
intimidar pela arrogância estupida da direita, devemos antes
atrever-nos a defender o socialismo, atrever-nos a defender a
China, Cuba, a Albânia ou a República Popular Democrática da
Coreia.
Resumindo, os
povos, unindo os seus esforços, conseguirão enterrar o imperialismo
e a causa do socialismo triunfará.
EPÍLOGO
Os
ecologistas e a ofensiva do imperialismo americano
No primeiro
aniversário do “movimento democrático” de Pequim, teve lugar na
Câmara um debate sobre este acontecimento, em 29 de Junho de 1990.
Este debate ensinou-nos, mais uma vez, até que ponto a lavagem
cerebral diária dos meios “livres” influenciam os meios que se
consideram progressistas. Na sua intervenção, em nome do grupo
ecologista Agalev-Ecolo, Xavier Winkel, conhecido pelas suas posturas
progressistas, defende a linha seguida pela direita norte-americana.
Vendo a maré de mentiras e intoxicações da imprensa “livre”, é
compreensível que militantes ecologistas honrados se deixem enganar
pelas vozes das multinacionais. Procuramos um debate franco, apoiado
por factos indiscutíveis, por documentos e provas. Estamos seguros
da nossa causa. A arrogância do imperialismo não nos impressiona,
pelo contrário, estamos seguros de que as pessoas que mantêm o
espírito lúcido, que não padecem da histeria anti-socialista, se
verão obrigadas a reflectir seriamente sobre a correcção de nossa
postura, depois de escutar as nossas provas e os nossos argumentos.
Xavier Winkel
repete uma tese central do imperialismo norte-americano e europeu,
quando reclama “uma continuação das reformas (na China) que
tornarão possível a chegada das pessoas aos Estados democráticos”.
No seio do poder
norte-americano, bem unido na sua política anti-comunista e de
dominação mundial, dividem-se duas tendências tácticas: a facção
dominante, representada por Bush e Nixon, quer manter as relações
com a China com o objectivo de proteger, apoiar e animar as forças
pró-capitalistas no seio do Partido Comunista Chinês. A outra
facção predica um anti-comunismo mais aberto e uma táctica mais
agressiva para, no prazo mais breve possível, dobrar a China
socialista e criar as condições propicias para uma contra-revolução
vitoriosa do tipo polaco, romeno ou húngaro. Xavier Winkel defende o
programa desta última facção do imperialismo norte-americano. “O
que não aceito, disse, é que representantes do governo belga se
reúnam com responsáveis chineses.” “A China necessita
manifestamente do apoio de outros países e as sanções económicas
são eficazes. A Bélgica e os doze devem manter as sanções
políticas e económicas” Em resposta, Eyskens disse que a Bélgica
“continua a manter uma atitude firme e decidida”. Xavier Winkel
respondeu: “estou contente com a resposta do ministro.”[21]
Isto demonstra
como gente que se crê progressista, está, as vezes, completamente
intoxicada pela propaganda imperialista. O Exército Popular teve que
intervir em Pequim para acabar com um motim violento que pretendia
derrubar o socialismo; houve trezentos mortos. Xavier Winkel pensa
que todo encontro com dirigentes chineses é censurável com o
sucedido e que fazem falta sanções políticas e económicas contra
este país do Terceiro Mundo que conta com mil milhões de
habitantes. Provavelmente Xavier “esqueceu” que o exército
norte-americano acaba de cometer uma agressão militar injustificada
contra o Panamá, em que foram massacradas entre 5.000 e 7.000
pessoas. O Ecolo-Agalev exigiu que a Bélgica acabasse com todos os
contactos com o governo norte-americano e que aplicasse sanções
políticas e económicas contra os Estados Unidos? Entretanto, estas
medias estariam justificadas já que a causa do imperialismo
norte-americano é indefensável. Porém, o Ecolo-Agalev prefere não
fazer nada contra o imperialismo norte-americano e continuar
repetindo cegamente a agitação anti-socialista que o conjunto das
forças imperialistas manipulam desde há muitos anos contra as
decisões justificadas da China.
[1] Libération
collection, nº 1, Junho de 1989, p.30.
[2] Ibídem,
p.37.
[3] Inside
Mainland China, Agosto 1989, p.6.
[4] Libération
collection, op. cit. p.37.
[5] Ibídem,
p.78.
[6] Ibidem,
p.78.
[7] The Free
China Journal, 15 de Junho de 1989, p.3.
[8] Problems of
communism, Setembro-Outubro de 1989, Chinese democracy in 1989, p. 2.
[9] Libération,
3 e 4 de Junho de 1989.
[10] Libération,
5 de Junho de 1989, p.3-4.
[11] Libération,
8 de Junho de 1989, p.2.
[12] FEER, 15 de
Junho de 1989, p.12.
[13] De Morgen,
7 de Junho de 1989, p.5.
[14] De Groene
Amsterdammer, 11 de Outubro de 1989, p.9.
[15] Libération,
25 de Abril de 1990, p. 36-37.
[16] Sinorama,
nº 8, Agosto de 1989, ROC-Taiwán, Shaw Yu-ming, p.51.
[17] The Free
China Journal, 26 de Fevereiro de 1990, p. 36-37.
[18] Chen Yun,
en Inside Mainland China, Taiwan, Novembro de 1985, p. 19-20.
[19] Issues and
studies, Maio de 1989, Student Démonstrations, p.6.
[20] Cidado en
AlainBouc: Larectification. Fédérop. Lion, 1977, p.170.
[21] Câmara
belga, reunião pública da câmara, 29 de 1990, relatório
analítico, p. 1235-1237.
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