quinta-feira, 2 de maio de 2013

Reformismo e Revisionismo (II)

Nesta parte do texto vamos tratar (ou procurar tratar) de “correntes” e expressões concretas do oportunismo reformista e revisionista no campo das forças mais consequentes do movimento comunista e operário internacional. Deixo para o Texto (III) alguns aspectos da experiência portuguesa, a partir das teses da “Política de Transição” nascida na Organização Comunista Prisional do Tarrafal, e no “Desvio de Direita” de 1956-1959. Recordo que uma das grandes orientações saídas do XX Congresso do PCUS, “Coexistência Pacífica” entre dois sistemas, nomeadamente a defesa da tese da “evolução pacífica do capitalismo ao Socialismo”, foi absorvida pela generalidade dos Partidos Comunistas que não caíram no campo do anti-sovietismo. O PCP sobre esta tese assume contrariando a “orientação” soviética, uma postura própria, a via do “levantamento popular armado” para o derrubamento do fascismo, orientação que já vinha do IV Congresso, e retomada no VI Congresso, o congresso do “Rumo à Vitória” e do Programa para a Revolução Democrática e Nacional. Congresso que rectifica as orientações reformistas do “Desvio de Direita” saídas do V Congresso do PCP. 


Por influência directa das análises do XX Congresso do PCUS (Fevereiro de 1956) sobre a possibilidade de, na nova correlação de forças mundial, a seguir à vitória da União Soviética sobre o nazi-fascismo na Grande Guerra Pátria, se “avançar para o socialismo por via pacífica”, que o V Congresso do PCP (Setembro de 1957) abandonou a via do “levantamento nacional” e proclamou a linha da “solução pacífica”, o que veio a constituir um “desvio de direita” nos anos de 1956-1959, cuja rectificação desta posição oportunista iniciar-se-ia com a reunião do CC de Março de 1961. Reunião do Comité Central que elege o camarada Álvaro Cunhal como Secretário Geral do Partido. Reunião realizada na sequência da histórica fuga de Peniche em Janeiro de 1960. Uma fuga de uma prisão de alta segurança, que se constituiu em si mesma, numa derrota brutal do fascismo, e decisiva para o derrube do regime fascista, e a Revolução de Abril. Um fuga heróica, para construir igualmente de forma heróica, a luta contra o oportunismo ideológico instalado na direcção e noutros quadros do Partido. É igualmente justo dizer-se, que alguns camaradas dirigentes comprometidos com o “desvio de direita”, tiveram altas responsabilidades quer na organização da Fuga de Peniche, quer numa atitude autocrítica, também participaram com o camarada Álvaro na rectificação da linha reformista que se instalara no Partido.



Deixo como pedra de toque, alguns fragmentos de um texto de Lénine sobre a táctica da luta de classes, da sua obra “Estratégia e Táctica”. Considero que é a postura de cada Partido Comunista, de cada força organizada dos trabalhadores no movimento sindical, que define onde se situa cada um desses destacamentos. Se, se situa no campo do oportunismo e do revisionismo, ou, se está comprometido com o marxismo. Melhor dito, com o marxismo-leninismo, com a luta pela transformação revolucionária e social profunda. Com a luta pelo poder dos trabalhadores, daqueles que geram a riqueza, o Socialismo, ou, se estão voltados para as pequenas reformas, mas dentro do sistema capitalista. Aqui ficam estes pedaços dessa importante obra de Lénine: 



“Karl Marx, depois de, em 1844-1845, ter posto a descoberto um dos defeitos principais do antigo materialismo, que consistia em não compreender as condições nem apreciar a importância da acção revolucionária prática , dedicou , durante quase toda a sua vida , paralelamente aos trabalhos teóricos , uma atenção contínua às questões da táctica da luta de classe do proletariado”... “Marx determinou a tarefa essencial da táctica do proletariado na sua rigorosa conformidade com todas as premissas da sua concepção materialista-dialéctica do mundo”... 



Só o conhecimento objectivo do conjunto de relações de todas as classes, sem excepção, de uma dada sociedade e, por conseguinte, o grande conhecimento do grau objectivo de desenvolvimento desta sociedade e das relações entre ela e as outras sociedades , pode servir de base a uma táctica justa da classe de vanguarda. Além disso, todas as classes e países são considerados não no seu aspecto estático , mas no dinâmico , isto é , não no estado de imobilidade , mas em permanente movimento (movimento cujas leis derivam das condições económicas de existência de cada classe) . 



O movimento é , por sua vez , considerado não só do ponto de vista do passado , mas também do ponto de vista do futuro , e não segundo a concepção vulgar dos "evolucionistas", que só vêem lentas transformações, mas de forma dialéctica: "Nos grandes processos históricos, vinte anos equivalem a um dia, escrevia Marx a Engels, ainda que em seguida possam apresentar-se dias que concentram em si vinte anos". Em cada grau do seu desenvolvimento , em cada momento, a táctica do proletariado deve ter em conta esta dialéctica objectivamente inevitável da história da humanidade : por um lado , utilizando as épocas de estagnação política , ou da chamada evolução "pacifica", que caminha a passos de tartaruga , para desenvolver a consciência , a força e a capacidade de luta da classe de vanguarda ; por outro , orientando todo este trabalho de utilização para o "objectivo final" dessa classe, tornando-a capaz de resolver praticamente as grandes tarefas ao chegarem os grandes dias "que concentram em si vinte anos" . Duas considerações de Marx interessam-nos particularmente a este respeito. Uma, na Miséria da Filosofia, refere-se à luta económica e às organizações económicas do proletariado, a outra, de grande importância, escrita no Manifesto do Partido Comunista , é relativa às tarefas políticas do proletariado mundial. A primeira diz assim : 


"A grande indústria concentra num único local uma multidão de pessoas, desconhecidas umas das outras. A concorrência divide os seus interesses. Mas a defesa do salário,este interesse comum que eles têm contra o patrão, une-os no mesmo pensamento de resistência , de coligação... As coligações , inicialmente isoladas , são depois , constituídas em grupos , e , face ao capital sempre unido, a manutenção dessa associação torna-se para eles mais importante que a defesa do salário...Nesta luta, uma verdadeira guerra civil , reúnem-se e desenvolvem-se todos os elementos necessários para a batalha futura. Uma vez chegada a este ponto, a coligação toma um carácter mais político". 

Temos aqui o programa e a táctica da luta económica do movimento sindical para algumas dezenas de anos , para todo o longo período de preparação das forças do proletariado para "a batalha futura"... Deve-se comparar isto com os numerosos exemplos extraídos da correspondência de Marx e Engels e que estes colheram do movimento operário inglês , mostrando como a "prosperidade" industrial suscita tentativas de "comprar o proletariado", de desviá-lo da luta; como esta suposta prosperidade de uma maneira geral "desmoraliza os operários"; como o proletariado inglês "se aburguesa", e como "a nação mais burguesa de todas" (a nação inglesa) "parece que quereria vir a ter, ao lado da burguesia, uma aristocracia burguesa e um proletariado burguês; como "essa energia revolucionária" desaparece nele ; ou, como será preciso esperar mais ou menos tempo que os operários ingleses "se desembaracem da sua muito aparente contaminação burguesa" ; como "o ardor dos cartistas" falta ao movimento operário inglês ; como os dirigentes operários ingleses se tornam um tipo intermédio "entre a burguesia radical e o operariado" ; como , em virtude do monopólio da Inglaterra e enquanto esse monopólio subsistir, "não haverá nada a fazer com o operário inglês" . A táctica da luta económica em relação com a marcha geral (e com o resultado) de um certo movimento operário é aí examinada de uma maneira admiravelmente ampla , aberta , universal , dialéctica e verdadeiramente revolucionária. O Manifesto do Partido Comunista estabelece por sua vez , o seguinte princípio do marxismo como postulado da táctica da luta política: "E lutam eles [os comunistas] pela realização de objectivos e de interesses imediatos da classe operária , contudo , eles representam no movimento presente também o futuro do movimento"... Por isso , Karl Marx apoiou em 1848 , na Polónia , o chamado partido da "revolução agrária", e " o mesmo partido que fomentou a insurreição de Cracóvia de 1846 ". 

Em 1848-1849 , Marx apoiou na sua Alemanha a democracia revolucionária extrema , sem que nunca se retratasse do que então disse sobre táctica . Considerava a burguesia alemã como um elemento "inclinado desde o início a trair o povo" ( só uma aliança com os camponeses teria permitido à burguesia atingir inteiramente os seus fins) e "a concluir compromissos com os representantes coroados da velha sociedade". Eis a análise final dada por Marx da posição de classe da grande burguesia alemã na época da revolução democrática burguesa, análise que é um modelo do materialismo que encara a sociedade em movimento e,certamente, não considera unicamente o lado do movimento que olha para trás: "...sem fé em si mesma , sem fé no povo , resmungando contra os de cima, tremendo diante dos de baixo ;...espavorida diante da tempestade mundial ; nunca com energia, e sempre com plágio; ...sem iniciativa; ...um velho maldito, condenado, no seu próprio interesse senil,a dirigir os primeiros impulsos de um povo jovem e robusto". Uns vinte anos mais tarde, numa carta a Engels , Marx escrevia que a razão do fracasso da revolução de 1848 foi a burguesia ter preferido a paz na escravidão à perspectiva de um simples combater pela liberdade . Quando acabou a época revolucionária de 1848 - 1849, Marx opôs-se aos que se obstinavam em continuar a jogar à revolução (luta contra Schapper e Eillich) , exigindo que se soubesse trabalhar na nova época que preparava , sob uma "paz" aparente, novas revoluções. A seguinte apreciação de Marx sobre a nova situação na Alemanha nos tempos da mais negra reacção , no ano de 1856 , mostra em que sentido pedia Marx que esse trabalho fosse orientado : " Na Alemanha tudo irá depender da possibilidade de apoiar a revolução proletária com uma espécie de segunda edição da guerra camponesa". Enquanto não acabou na Alemanha a revolução burguesa democrática , Marx voltou toda a atenção em matéria de táctica do proletariado social , ao desenvolvimento da energia democrática dos camponeses . Pensava que a atitude de Lassale era "objectivamente uma traição para com o movimento operário, em benefício da Prussia"; entre outras razões porque ele se mostrava demasiado complacente para com os latifundiários e para com o nacionalismo Prussiano. 


"Num país agrário, é uma baixeza , escrevia Engels em 1865 , no decurso de uma troca de opiniões com Marx a propósito de uma projectada declaração comum para a imprensa ; atacar , em nome do proletariado industrial, unicamente a burguesia, sem mesmo fazer a alusão à patriarcal "exploração à paulada" a que os operários rurais s e vêem submetidos pela nobreza feudal". No período de 1864 a 1870 , quando chegava ao fim a época da revolução democrática burguesa na Alemanha, a época em que as classes exploradoras da Prussia e da Áustria disputavam acerca dos meios para terminar esta revolução por cima, Marx não se limitou a condenar Lassalle pelos seus namoros com Bismarck, corrigia também Liebknecht , que tinha caído na "austrofilia" e defendia o particularismo ; Marx exigia uma táctica revolucionária que combatesse tão implacavelmente Bismarck como os pró- austríacos, uma táctica que não se acomodasse ao "vencedor", o junquer prussiano, mas recomeçasse imediatamente a luta revolucionária contra ele, inclusive no terreno criado pelas vitórias militares da Prussia . No apelo cèlebre da Internacional de 9 de Setembro de 1870 , Marx punha em guarda o proletariado francês contra uma insurreição ainda prematura, mas quando, apesar de tudo, ela se produziu (1871), saudou com entusiasmo a iniciativa revolucionária das massas que "tomam o céu de assalto"(carta de Marx a Kugelmann). A derrota da acção revolucionária, nesta situação como em muitas outras, era , do ponto de vista do materialismo dialéctico em que se situava , um mal menor na marcha geral e no resultado da luta do proletariado do que teria sido o abandono das posições já conquistadas , a capitulação sem combate ; uma tal capitulação muito teria desmoralizado o proletariado e minado a sua combatividade”..



É perante a resolução desta questão central, estratégia e táctica, que se desenvolveram e com forte eco no movimento comunista internacional, teorias e teses de facto liquidacionistas, cujo resultado desastroso atrasou a luta da classe operária e dos trabalhadores contra todas as formas de exploração e opressão, e igualmente à derrota do Socialismo na URSS e no Leste da Europa. 



Um importante trabalho de Grossweiller, comunista alemão de leste, sobre o “Revisionismo Moderno” (www.hist-socialismo.com/.../Tesessobreorevisionismo ) é de capital importância e leitura obrigatória, quer como elemento de análise ao papel do revisionismo sobretudo a partir do XX Congresso do PCUS, quer pela ampla origem de informação concreta quanto a mentores, teses e concepções, aliadas a práticas liquidacionistas. Independentemente dessa leitura, vamos de forma ligeira e breve, apreciar algumas dessas expressões maiores do oportunismo político e ideológico que feriram (e ferem) gravemente o MCI e a causa dos trabalhadores. 

“Krutchevismo” e “Maoísmo”


O XX Congresso do PCUS inaugura a fase do revisionismo moderno abrindo brechas ideológicas no poderoso e heróico PCUS e no MCI, cujas resoluções, e sobretudo o “virótico” chamado Relatório Secreto de Krutchev, montado na mentira e na perversão dos êxitos da construção do Socialismo e do papel extraordinário de Staline. Montagem que surtiu os seus efeitos, sobretudo no rasto febril de destruição do Socialismo. Com isso, Krutchev e por essa via o PCUS, abrem caminho a uma profunda e igualmente oportunista fractura do MCI. Mesmo os “mais puros” defensores do marxismo-leninismo caiem no oportunismo anti-soviético. É o caso do Partido Comunista Chinês e do Partido do Trabalho da Albânia, que não só se separam como alimentam a separação de outros Partidos e Organizações Comunistas, animando concepções próprias como o “maoísmo” e o “hoxismo”. 

A expressão orgânica destas orientações “puristas”, colocam esses Partidos, organizações e Estados, como aliados objectivos do imperialismo. A tese de (do já senil) Mao-Tse- Tung, de que “os inimigos dos nossos inimigos, nossos amigos são”, e de que “o imperialismo não passa de um tigre de papel”, mais os novos conceitos sobre “social-imperialismo” e “social-fascismo” para identificar os Partidos Comunistas que não foram atrás da linha anti-soviética dos camaradas chineses e albaneses, transformam-se em estratégia destes Partidos, e alimento que leva ao aparecimento e ao financiamento de grupelhos de discurso radical que se reclamam de marxistas-leninistas. Mas também neste plano, o imperialismo e os seus partidos, investiam (e investem) nestes seus novos aliados, pois isso contribuiria para a luta anti comunista e anti-sovietica e contribuiria para dividir e cindir o movimento operário, sindical e revolucionário. As posições oportunistas destes Partidos e países levaram a que por exemplo a RPCh afrontasse a soberania do Vietname Socialista promovendo a guerra nas suas fronteiras, teve relações diplomáticas com o regime de Pinochet, apoiou a UNITA, esse instrumento criado pela PIDE/DGS para combater o MPLA em Angola, quer do ponto vista político e diplomático, quer militar, sobre o pretexto de combater a expansão do “social-imperialismo soviético” em África. O combate ao oportunismo revisionista de Krutchev, deu lugar, e não com poucos estragos, ao “oportunismo de esquerda” que de meados dos anos 60 e até aos anos 80, teve na no PCCh o principal mentor. Curiosamente , é com o traidor Gorbatchev que se reatam as relações entre Estados e Partidos, entre os Partidos Comunistas Chinês e Soviético. A Albânia e o Partido do Trabalho da Albânia acabam por caír no início dos anos 90 arrastados pela derrota do Socialismo no Leste da Europa. É ainda necessário dizer, que independentemente de todas as derivas que produziram as condições e os meios para a derrota do Socialismo, a URSS foi o mais importante aliado, quer pelos seus êxitos e conquistas nos planos económico, social, científico, militar, que foram de facto “um novo e radiante sol” para a luta dos trabalhadores e dos povos em todo o mundo. 


A URSS, os comunistas e o povo soviético, independentemente das suas direcções e “líderes”, mesmo a partir do XX Congresso, o mais sólido alicerce da luta anti-imperialista e autodeterminação e independência dos povos colonizados, respeitadores dos princípios do Internacionalismo Proletário, e pela Paz. A crise dos mísseis em Cuba e a postura firme da URSS, na defesa da soberania do povo cubano, é um bom exemplo do que se afirma. Outro exemplo disso, é sem quaisquer dúvidas, o apoio à luta do PCP contra o fascismo, “ditadura terrorista dos monopólios aliados ao imperialismo, e dos latifundiários” o apoio à luta de libertação dos povos das colónias portuguesas. Apoio esse, que contribuindo para a vitória do MPLA em Angola, arrumou com com esse sistema hediondo de opressão de classe e nacional que foi o colonialismo enquanto sistema mundial, na esteira vitoriosa e libertadora da Revolução de Abril de 1974. 



Depois destas pequenas notas sobre estas variantes do oportunismo, o “maoísmo” e o “hoxismo” e a sua influência negativa para a unidade e coesão do Movimento Comunista Internacional, tratemos agora de outras referências.

“Browderismo”



O Browderismo, é a expressão que traduz o papel e influência de Earl Browder, as suas concepções e práticas reformistas, e revisionistas no Partido Comunista dos Estados Unidos da América, e noutros Partidos Comunistas, sobretudo na América Latina. É expulso do Partido Comunista dos EUA em 1946. Browder foi o alimentador e “teórico” de que a partir da aliança soviética com o s “aliados”, nomeadamente com os EUA, para a derrota do nazi-fascismo, declarou o términús da luta classes, questão central do marxismo, enquanto motor do desenvolvimento histórico, e do convívio conciliador entre os dois sistemas antagónicos, ou seja entre o Socialismo, poder dos trabalhadores, e o capitalismo, poder da burguesia, aquilo que considerava ser a “unidade fraternal das nações” e por essa via, chegar-se pacíficamente ao Socialismo. Estas concepções influenciaram negativamente fortes Partidos Comunistas, incluíndo o PCEUA, e forças revolucionárias e progressistas sobretudo na América Latina. Partidos Comunistas como os da Colômbia, Venezuela, Cuba (o Partido que existia antes da Revolução de 59), Equador, Perú, sucumbiram a estas teses enfraquecendo a sua acção enquanto Partidos de classe e revolucionários, e sobretudo desviando da sua acção, a luta pelo objectivo final.. 



As teses “browderistas” enquadram aquilo que se identifica com o “revisionismo moderno”. O efeito do “browderismo” resultou inclusivé à mudança não só da denominação de Partidos Comunistas, mas essencialmente à sua identidade. Um exemplo sisso, foi o facto de o Partido Comunista da Colômbia já influenciado pelo “browderismo, ter mudade a sua denominação para “Partido Socialista Democrático”, questão que só foi rectificada no V Congresso, onde o Partido Colombiano rechaça o “browderismo” e regressa às suas origens, mas igualmente marcado pelo XX Congresso do PCUS, nomeadamente na concepção da “coexistência pacífica”.. Considerava nas suas deambulações ideológicas e teóricas face ao desenvolvimento do capitalismo e da situação internacional, “declarou” caduco o marxismo-leninismo, associadas à teoria da renúncia e términús da luta de classes, quer nos EUA, quer em todo o mundo. . Browder predicaba la renuncia a la lucha de clases, la conciliación de clases a nivel nacional e internacional. 



Browder negava o carácter de classe do Estado capitalista e do imperialismo, e considerava a sociedade norte-americana como uma “sociedade única e harmónica, sem antagonismos sociais, e como uma sociedade onde reina a comprensão e a colaboracão entre classes”. Browder a partir destas teorizações, negava a necessidade da existência de um Partido revolucionário da classe operária, animando a proposta, não conseguida, de dissolução do seu próprio Partido. Tese que avançou em 1944, quase no final da II Guerra Mundial, e também período em que na prisão foi recrutado para a CIA. Seria mais tarde um agente do MaCartysmo, incluindo ana denúncia que levou à prisão da democrática sovciedade norte-americana, de comunistas e outros progressistasFica aqui um pequeno excerto da providencial concepção de E. Browder: 



“Os comunistas prevêm que os seus objectivos políticos práticos, são para um largo período de tempo, e em todas as questões fundamentais, idênticos aos objectivos de uma maior massa de não comunistas, e portanto os nossos actos políticos ir-se-ão fundir em movimentos de maior envergadura. É por isto, que a existência de um Partido específico dos comunistas já não serve a um objectivo táctico, mas pelo contrário, pode converter-se num obstáculo à construção de uma unidade mais ampla. Por isso os comunistas dissolverão o seu próprio Partido político e encontrarão uma forma organizativa diferente, e nova, um novo nome que se adapte melhor às tarefas actuais, e à estrutura política através da qual deve-se levar a cabo as ditas tarefas”... Nem mais. A defesa da autoiliquidação política, ideológica e orgânica dos Partidos Comunistas e revolucionários. 



Browder defendia, para a consumação do plano, que os comunistas têm de estar dispostos a sacrificar inclusivé as suas próprias convicções, a sua ideologia, e os seus interesses particulares, porque os objectivos políticos eram idênticos no caso, à maioria dos norte americanos. Uma receita a ser implementada noutros países. Os compromissos saídos da Cimeira aliada de Teerão em 1943, a “unidade anti-fascista que unia União Soviética, EUA e Inglaterra” deram o mote à ofensiva “browderiana”. O “americanismo, é o Socialismo do século XX” segundo o ciático Browder. A reconstrução PCEUA no seu XIII Congresso rechaçou o plano liquidacionista de Browder, embora persistam até aos dias de hoje sintomas graves desse período, onde o período Krutceviano reabriu em força esse conjunto de teses “browderianas”.

Eurocomunismo


Concepção oportunista que deixou um rasto de destruição na Europa, e que tal como o “browderismo” influenciou alguns Partidos fora das fronteiras europeias. “Construção” que seguiu as orientações Krutcheviasnas, o famoso “Manidesto de Champigny- Por Uma Democracia Avançada” e do “Socialismo com as cores da França” em 1968 da autoria do então Secretário Geral do PCF, Waldek Rachet, inrrompendo na década de 1970 como um suporte teórico e conceptual da congeminação oportunista que minava a partir das suas Direcções, sobretudo o PCI de E. Berlinguer, o PCE de Santiago Carrillo, e o PCF de George Marche. Foi o abandono formal do marxismo-leninismo, e a revisão oportunista da tarefa histórica dsos comunistas. O objectivo final, o da Revolução Socialista e da construção do Socialismo enquanto poder dos trabalhadores, foi substituído e com isso arrastando o movimento de massas, para a posição reformista de conciliação de classes, retirando à classe operária o seu papel de vanguarda, e introduzindo o reformismo sindical no movimento operário e sindical. A deriva foi convenientemente acompanhada pelo anti-sovietismo, mesmo que aparentemente alguns fossem mais anti-soviéticos que outros. A burguesia agradeceu, e deu eco à cosnpiração, exigindo mais medidas de descaracterização a troco de “migalhas de poder”. Para além do descrédito numa massa enorme das suas fileiras e a pulverização em fracções de diversas orientações, quanto mais “abriam”, mais perdiam inclusivé, nos parâmetros do sacrosanto mecanismo eleitoral e institucional sistema de democracia burguesa. 


O processo mais “avançado” do liquidacionismo levou inclusivé ao desapartecimento do PCI, quer enquanto Partido, quer nas instituições. Ao contrário do que alguns dirigentes do PCI pensavam, as cedências à burguesia italiana, na base do chamado “Compromisso Histórico”, PCI e Partido da Democracia Cristã, apenas serviu os projectos e clientelas da DC, e contribuíu para afastar ainfa mais o PCI da estrutura organizada dos trabalhadores e do movimento de massas. Uma imensa força eleitoral que desaparecia à medida das cedências ideológicas e política à burguesia e ao seu sistema de democracia burguuesa. 



Enrico Berlinguer, secretário-geral do PCI. Na Conferência de Partidos Comunistas e Operários de todo o mundo, realizada em Moscovo no ano de 1977, lançou a oportunista tese da Democracia Política como "valor universal", ou seja, nada antes dela, nada depois dela, como se tratasse de um elemento estranho ao Socialismo, e secundarizando a Democracia Socialista, a democracia dos trabalhadores. Deixo para outra altura a resposta de K. Marx a Luís Bonaparte sobre os conceitos Liberdade e Democracia (sobre os conteúdos absolutos destes conceitos defendidos pos L. Bonaparte e outros, desligados da objectividade materialista dialética, desligados da realidade concreta) no 18 Brumário de Luís Nonaparte. 



As bases “programáticas do eurocomunismo colocavam à cabeça, e a partir daí teorizavam, da “impossibilidade de se realizar uma Revolução Socialista na Europa e nos países capitalistas desenvolvidos”. Na tactica para cumprir o objectivo estratégico do eurocomunismo, o Partido deveria de deixar de ser uma vanguarda de classe, e passar a ser a direcção de um amplo movimento de massas. Tal tactica, segundo os mentores da coisa, conduziria num futuro próximo, ao alargamento da sua base social de apoio, e à chegada ao poder por via eleitoral. Nem mais! Ou melhor dizendo, ao Governo das e nas instituições da burguesia. A experiência histórica concreta, portanto objectiva, diz-nos que o PCF quanto mais se abriu, num processo que ainda não terminou, mais perdeu inclusivé no plano eleitoral, onde o eurocomun ismo depositava todas as esperanças e todas as virtudes da sociedade humana. A recambolesca decisão de deixar de ser um Partido de classe para ser o Partido dos cidadãos, foi uma metamorfose para além da mudança. Correspondia à mudança de facto das características essenciais de Partido revolucionário, de heróico “Partido dos Fuzilados”-, como popularmente era conhecido o PCF pelo heróico papel que teve na resistência à ocupação nazi, onde foram fuzilados pelas foorças hitlerianas milhares de comunistas franceses,- a uma “coisa” que de forma oportunista conserva a sigla, que não é uma questão de somenos como afirmava um delegado a uma Conferência Nacional do PCF: “ Seja Partido Comunista Francês, ou Partido dos Cidadãos Franceses, o importante é conservarmos a sigla”...


Um sinal que vem com o advento da chamada “Guerra Fria”, cujas concepções oportunistas, reformistas e revisionistas, declaravam a falência de teses fundamentais do marxismo, como “revolução” e “ditadura do proletariado”, substituídos pela revisionista tese da criação de um sistema pde produção e distribuição da riqueza, diferente do capitalismo, “mas de base social, de relações socialistas, numa sociedade pluralista e pluripartidária”, enfim, o supra-sumo da democracia, dando vasão às concepções de Berlinguer. O eurocomunismo, sobretudo em Itália, mas referentes aos três “amigos da vida airada”, PCI, PCF e PCE, o pior das dúvidas e pouco científicas teses de António Gramsci, constituía o suporte ideológico da “coisa”. 

Refiro, sem qualquer desprimor para o importante trabalho teórico deste destacado dirigente comunista e fundador com Palmiro Togliati do Partido Comunista Italiano que teorizou sobre conceitos como a hegemonia, a base, superestrutura, intelectuais orgânicos e guerra de posições. Em Espanha, o heróico Partido Comunista de Espanha é traído pelo seu Secretário Geral que arrasta o PCE para a deriva social-democrata, trazendo como resultados a hiper fedralização do Partido, chameado de fracções e plataformas de orientações diversas, que diminuiram a força e base orgânica do Partido, que sumeteram o PCE a uma lógica eleitoralista e na sua diluição na Esquerda Unida”, que se tranformou num partido eleitoral absorvendo estrutura, recursos, património e quadros, para se chegar a situações de quase exclusão de dirigentes do PCE nas estruturas de direcção da EU. 

Cada organização nacional da Andaluzia à Galiza, assume características próprias mas com uma base teórica comum, ou seja, o “marxismo revolucionário”. As características de Partido de tipo Leninista já à muito que tinha sido substituído pela “mui democrática” pulverização interna das sensibilidades, com os seus próprios líderes. O centralismo democrático é substituído pela institucionalização de fracções e sensibilidades que fagilizam ainda mais o PCE. O desastre foi igual aos desastres no PCI e PCF de uma forma geral. A caminhada do eurocomunismo em Espanha, leva a uma séria e incomensurável divisão dos comunistas espanhóis, à criação de Partidos e organizações comunistas na Espanha confederal e nas regiões espanholas. Perdem os trabalhadores e os povos de Espanha. Ganha a social-democracia e a burguesia e o seu sistema em toda a Espanha. 

Hoje, a marcha do “retorno às origens” dos comunistas destes e outros países que seguiram o mesmo trilho, faz-se de forma dolorosa e sempre marcada pelas derivas anteriores. Em Itália, quer a Refundação Comunista, quer o Partido dos Comunistas Italianos, continuam atolados em divisões internas fruto das inconsistências ideológicas marcadamente reformistas. Em França, a fracção comunista no PCF, afirma-se como uma força coerente mas de força insuficiente no interior do Partido. Outros abandonaram o PCF, e criaram novas organizações comunistas como é o caso do Pólo da Renascença Comunista em França. 


Em Espanha a boa notícia, sobretudo para os trabalhadores e os povos de Espanha, para além das Juventudes Comunistas do PCE que assumem ser marxistas-leninistas, que estão na vanguarda da defesa do marxismo-leninismo, é o amplo debate e até acertos de orientação ideológica no Partido Comunista das Astúrias, das Canárias, da Andaluzia e outros, de “retorno” às posições coerentes, e alguns avanços no PCE confederal, que como se sabe é um dos Partido do núcleo duro do oportunista, federalista e social-democrata Partido da Esquerda Europeia. A todos os que entraram na deriva eurocomunista, une-os o abandono dos princípios fundamentais do marxismo, e o abraço à social-democracia. Foi confrangedor, o triste e abominável papel de Santiago Carrillo, que depois de deixar de ser Secretario Geral do PCE, fundou a fracção no interior do Partido “Mesa da Unidade Comunista”, ter apelado publicamente ao voto no PSOE contra o seu próprio Partido e a eleitoralista e sem princípios Esquerda Unida. Caricato ainda, o facto do PCE fazer um inusitado elogio fúnebre ao principal responsável pela liquidação do PCE, enquanto Partido revolucionário, e de traição à história heróica do PCE, o Partido de Dollores Ibarruri, Jose Diaz, dos Governos da Frente Popular da República espanhola, e da resistência ao fascismo franquista.



Nota:



Sobre o Manifesto de Champigny do PCF e as teses da “Democracia Avançada”:
O objectivo principal dos comunistas franceses na “etapa actual” é substituir o poder reaccionário do capitalismo monopolista gaullista por uma democracia política e económica avançada que abra caminho para o socialismo.



(Derrube do poder do capital monopolista> democracia avançada> socialismo: é o postulado inicial)
A formação política que se seguiria a esse derrube era um governo popular e de união democrática, que procederia a profundas transformações económicas, políticas e sociais. A aliança política é claramente com o PS francês. (Segundo o manifesto, haveria dois acordos assinados entre ambos, em 1960 e em 68 por ocasião dos acontecimentos de Maio. O Maio de 68 aparece aqui como um marco que justifica várias opções e de que se retiram determinadas conclusões e funciona também como prova de que as alianças sociais e políticas preconizadas eram possíveis). O aprofundamento da democracia e do progresso social exigia arrancar “conquistas sociais decisivas e duradouras” (leia-se reformas) e derrotar o governo.



Os objectivos da democracia avançada são: melhoria do poder de compra dos salários, pleno emprego para todos, redução do tempo de trabalho e abaixamento da idade de reforma, ¼ do orçamento de estado para a educação e reforma democrática do ensino, política de satisfação dos interesses dos pequenos agricultores e apoio à sua cooperação, ajuda aos artesãos e outros pequenos produtores e comerciantes. 



Para estes objectivos é necessário: nacionalização dos grandes bancos e sectores industriais monopolistas; as empresas (que já não seriam monopolistas) deviam ter uma “gestão democrática” com a participação e controlo os trabalhadores); elaboração “democrática” de um “plano” económico; as liberdades consistiriam na eleição de toda e qualquer instância deliberativa; a Assembleia nacional seria eleita segundo o método proporcional, as instituições deveriam ser democratizadas, democratização também do exército colocado exclusivamente ao serviço dos interesses nacionais da França A estabilidade governamental para aplicação destas medidas seria assegurada por um contrato entre os partidos democráticos, 



A democracia avançada, em conjunto com a luta de massas abriria caminho para o socialismo da seguinte forma: as reformas democráticas iam reduzindo a força do capitalismo e aumentando as forças da classe operária e dos seus aliados, ao mesmo tempo que se alargavam e aprofundavam. Depois, “convencia-se” as massas da necessidade do socialismo. Apesar de tudo, dizem que a ditadura do proletariado será “temporária” e significará duplamente o aprofundamento da democracia e a defesa do socialismo.



Haveria uma via própria (francesa) para o socialismo. Marx e Lenine já teriam falado da diversidade dos caminhos em cada nação. Em França, o caminho para o socialismo não se devia confundir com a insurreição ou o uso violento da força. Na declaração dos encontros dos partidos comunistas de 57 e 60 afirmava-se que seria possível uma via pacífica para o socialismo. “Nas condições francesas existe uma relação directa entre a democracia avançada e a passagem ao socialismo”.



“Pormenor” interessante: o PCF reconhece o direito à “autodeterminação” das colónias francesas no quadro da república.



Continuam a falar da superioridade do socialismo, da importância do sistema socialista no mundo, propugnam o desaparecimento da NATO e do Pacto de Varsóvia, não falam em marxismo-leninismo, afirmam o papel dirigente da classe operária e do seu partido como vanguarda. 

Janeiro de 2013

Luís Piçarra

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