quarta-feira, 1 de maio de 2013

A Consciência de Classe e o Dia dos Trabalhadores




A consciência de classe - caracterizada por Karl Marx como o sentimento de pertença, assumido e afirmado, a uma determinada classe social que age de forma organizada e solidária na luta pela defesa dos seus interesses e direitos colectivos - há muito se vem esbatendo com o manifesto e crescente desinteresse das populações face ao fenómeno político e à sua própria condição social.

Se por um lado podemos apontar ao poder político emanado pelos partidos que têm responsabilidades de governação, desde há trinta e oito anos, a sua consecutiva traição e adulteração propositada da vontade popular e do sentido de voto dos portugueses como causa do alheamento e descrédito da prática e da acção política na nossa sociedade, assim como ao papel propagandístico assumido pela comunicação social como veículo de transmissão de uma opinião única e altamente conotada com as elites dominantes, por outro lado, não podemos isentar de culpa a própria população pelo erro contínuo de legitimar deputados e governos, cujas políticas sempre demonstraram não serem merecedoras de tal confiança, e de permitir e aceitar que se construísse uma sociedade onde valores fundamentais como a solidariedade, a fraternidade, a justiça social e/ou a igualdade, entre outros, são completamente deturpados e corrompidos.

De facto, o crescimento e desenvolvimento desigual de Portugal, que se verificou no pós-25 de Novembro de 1975, aliado ao fenómeno da globalização, que teve como um dos seus efeitos mais nefastos a interiorização da cultura norte-americana nas sociedades dos países ocidentais, e ao processo de integração europeu, cujo directório político (centralizado na Alemanha, França e Reino-Unido) conduziu à liberalização dos mercados e a uma política amplamente neo-liberal e ulta-capitalista, que coartou a soberania e a possibilidade de um desenvolvimento sustentável aos países periféricos, assim como a queda do Bloco Socialista no Leste e, com ele, de um sistema que valorizava, acima de tudo, os direitos e garantias sociais dos trabalhadores, produziu todo um novo conjunto e formas de relações de trabalho e de produção, profundamente capitalistas, que contribuíram para a criação de uma nova nomenclatura laboral que viria a estar, também ela, na base da divisão dos trabalhadores e sua consequente perda de consciência de classe. Sendo ainda de relevar, a respeito desta questão, a quebra da unidade sindical, que se constituiu como fundamental para que, através da formação de sindicatos fantoche (controlados pelo grande patronato) e de uma suposta concertação social, se produzisse uma confusão e cisão ainda maior no seio das lutas, reivindicações e organização dos trabalhadores.

Aos operários passaram a chamar técnicos, aos camponeses apelidaram-os de trabalhadores rurais, colaboradores foi o nome que encontraram para designar os trabalhadores a recibos verdes, aos que, na ânsia de ganhar experiência profissional, aceitam trabalhar sem receber chamam-lhes estagiários e/ou voluntários, etc. Na verdade, um grande logro...todo um conjunto de novas "categorias" profissionais que (muitas vezes aceites numa crença ingénua de que permitirá melhorar as condições de vida das pessoas) apenas servem para esconder a legitimação do trabalho precário e da destruíção dos direitos dos trabalhadores e suas mais amplas aspirações.

É função primordial de qualquer trabalhador tomar consciência da sua situação laboral, dos seus direitos e dos seus deveres. O trabalhador deve estar sempre informado e procurar mecanismos que lhe permitam defender os seus direitos dos ataques perpetrados pela entidade empregadora e/ou dos governos que contra eles atentem. Mas a força de um trabalhador isolado estará sempre, irremediavelmente, reduzida a nada e é, por isso, que a organização e a união aos restantes trabalhadores, seus colegas, companheiros e camaradas, assume um papel elementar e fundamental nas suas vidas. É essencial que os trabalhadores se sindicalizem, que se juntem à CGTP-IN, e que em conjunto com os seus companheiros lutem por um trabalho com dignidade e com direitos. É necessário que lutem de uma forma activa e participativa, que tomem parte das manifestações e das greves, porque a luta não se pode desenvolver, e não se desenvolve, apenas no campo do debate ideológico.

Num quadro onde o capitalismo neo-liberal ameaça atingir o seu auge, com o poder completamente entregue aos grandes grupos económico-financeiros e industriais e seus representantes nacionais (PS, PSD e CDS) e internacionais (Troika – CE + FMI + BCE), a ofensiva lançada contra os trabalhadores e os seus direitos assume proporções gigantescas, que exigem dos trabalhadores uma vigilância, actuação e luta, com grandes sacrifícios, em unidade, tão forte e tão coesa, e com tamanha dimensão que não a deixe passar, que a obrigue a recuar e que não a deixe vencer.

O Dia Internacional dos Trabalhadores que hoje assinalamos, neste 1º de Maio, não é, portanto, apenas um dia de comemorações ou de festejos, deve ser, antes de mais, um dia de luta. Este 1º de Maio deve servir para unir, para esclarecer e consciencializar, para trazer mais e mais trabalhadores para a luta organizada e para a CGTP-IN. Este Dia dos Trabalhadores tem, obrigatoriamente, de servir para "recarregar baterias" e para intensificar a luta que vivemos e preparar a que se avizinha!

Proletários, Uni-vos!


Maio de 2013
Francisco Dias Ferreira

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