A consciência de classe -
caracterizada por Karl Marx como o sentimento de pertença, assumido
e afirmado, a uma determinada classe social que age de forma
organizada e solidária na luta pela defesa dos seus interesses e
direitos colectivos - há muito se vem esbatendo com o manifesto e
crescente desinteresse das populações face ao fenómeno político e
à sua própria condição social.
Se por um lado podemos apontar ao
poder político emanado pelos partidos que têm responsabilidades de
governação, desde há trinta e oito anos, a sua consecutiva traição
e adulteração propositada da vontade popular e do sentido de voto
dos portugueses como causa do alheamento e descrédito da prática e
da acção política na nossa sociedade, assim como ao papel
propagandístico assumido pela comunicação social como veículo de
transmissão de uma opinião única e altamente conotada com as
elites dominantes, por outro lado, não podemos isentar de culpa a
própria população pelo erro contínuo de legitimar deputados e
governos, cujas políticas sempre demonstraram não serem merecedoras
de tal confiança, e de permitir e aceitar que se construísse uma
sociedade onde valores fundamentais como a solidariedade, a
fraternidade, a justiça social e/ou a igualdade, entre outros, são
completamente deturpados e corrompidos.
De facto, o crescimento e
desenvolvimento desigual de Portugal, que se verificou no pós-25 de
Novembro de 1975, aliado ao fenómeno da globalização, que teve
como um dos seus efeitos mais nefastos a interiorização
da cultura norte-americana nas sociedades dos países ocidentais, e
ao processo de integração europeu, cujo directório
político (centralizado na Alemanha, França e Reino-Unido) conduziu
à liberalização dos mercados e a uma política amplamente
neo-liberal e ulta-capitalista, que coartou a soberania e a
possibilidade de um desenvolvimento sustentável aos países
periféricos, assim como a queda do Bloco Socialista no Leste e, com
ele, de um sistema que valorizava, acima de tudo, os direitos e
garantias sociais dos trabalhadores, produziu todo um novo conjunto e
formas de relações de trabalho e de produção, profundamente
capitalistas, que contribuíram para a criação de uma nova
nomenclatura laboral que viria a estar, também ela, na base da
divisão dos trabalhadores e sua consequente perda de consciência de
classe. Sendo ainda de relevar, a respeito desta questão, a quebra
da unidade sindical, que se constituiu como fundamental para que,
através da formação de sindicatos fantoche (controlados pelo
grande patronato) e de uma suposta concertação social, se
produzisse uma confusão e cisão ainda maior no seio das lutas,
reivindicações e organização dos trabalhadores.
Aos operários passaram a chamar
técnicos, aos camponeses apelidaram-os de trabalhadores rurais,
colaboradores foi o nome que encontraram para designar os
trabalhadores a recibos verdes, aos que, na ânsia de ganhar
experiência profissional, aceitam trabalhar sem receber chamam-lhes
estagiários e/ou voluntários, etc. Na verdade, um grande
logro...todo um conjunto de novas "categorias"
profissionais que (muitas vezes aceites numa crença ingénua de que
permitirá melhorar as condições de vida das pessoas) apenas servem
para esconder a legitimação do trabalho precário e da destruíção
dos direitos dos trabalhadores e suas mais amplas aspirações.
É função primordial de qualquer
trabalhador tomar consciência da sua situação laboral, dos seus
direitos e dos seus deveres. O trabalhador deve estar sempre
informado e procurar mecanismos que lhe permitam defender os seus
direitos dos ataques perpetrados pela entidade empregadora e/ou dos
governos que contra eles atentem. Mas a força de um trabalhador
isolado estará sempre, irremediavelmente, reduzida a nada e é, por
isso, que a organização e a união aos restantes trabalhadores,
seus colegas, companheiros e camaradas, assume um papel elementar e
fundamental nas suas vidas. É essencial que os
trabalhadores se sindicalizem, que se juntem à CGTP-IN, e que em
conjunto com os seus companheiros lutem por um trabalho com dignidade
e com direitos. É necessário que lutem de uma forma activa e
participativa, que tomem parte das manifestações e das greves,
porque a luta não se pode desenvolver, e não se desenvolve, apenas
no campo do debate ideológico.
Num quadro onde o capitalismo
neo-liberal ameaça atingir o seu auge, com o poder completamente
entregue aos grandes grupos económico-financeiros e industriais e
seus representantes nacionais (PS, PSD e CDS) e internacionais
(Troika – CE + FMI + BCE), a ofensiva lançada contra os
trabalhadores e os seus direitos assume proporções gigantescas, que
exigem dos trabalhadores uma vigilância, actuação e luta, com
grandes sacrifícios, em unidade, tão forte e tão coesa, e com
tamanha dimensão que não a deixe passar, que a obrigue a recuar e
que não a deixe vencer.
O Dia Internacional dos Trabalhadores
que hoje assinalamos, neste 1º de Maio, não é, portanto, apenas um dia de
comemorações ou de festejos, deve ser, antes de mais, um dia de
luta. Este 1º de Maio deve servir para unir, para esclarecer e
consciencializar, para trazer mais e mais trabalhadores para a luta
organizada e para a CGTP-IN. Este Dia dos Trabalhadores tem,
obrigatoriamente, de servir para "recarregar baterias" e
para intensificar a luta que vivemos e preparar a que se avizinha!
Proletários, Uni-vos!
Maio de 2013
Francisco Dias Ferreira
Sem comentários:
Enviar um comentário