terça-feira, 7 de maio de 2013

Reformismo e Revisionismo (III)

A degenerescência social democratizante liquidacionista do PCUS, e a derrota do Socialismo e o desaparecimento da URSS, desnorteou e enfraqueceu grande número de Partidos Comunistas. As concepções oportunistas, refundando “coisas” que pairavam entre a social-democracia e o Socialismo, decapitou Partidos de convicções sólidas, deixou amplas massas de trabalhadores sujeitos às lógicas dos “vencedores”, interiorizando as profundas alterações sócio-económicas e ideológicas decorrentes das derrotas do socialismo na URSS e no Leste da Europa. Mas o oportunismo, independentemente da sua linguagem e apresentação, tem raízes anteriores às derrotas do Socialismo, cá no nosso país.


Partindo das conclusões e orientações do XX Congresso do PCUS de Krutchev, a “política de solução pacífica” oriunda do Tarrafal, que se manifestou na Organização Comunista prisional do Tarrafal, não para uma conquista do poder, mas apenas para o “afastamento” de Salazar, a partir inclusive da acção de dissidentes do regime fascista, mesmo que essa acção não destruísse o próprio regime... 



A concepção reformista da “política de solução pacífica” para além de retirar à classe operária o papel de vanguarda na luta anti-fascista, , iludia amplos sectores com a idéia de que a derrota do fascismo estaria em milagrosas medidas legais e putchistas. No fundo, desprezavam a luta de massas e o seu aprofundamento, como o elemento fundamental e decisivo para a formação e organização do factor subjectivo. Essas teses, concepções e práticas, atrasavam a formação da consciência das amplas massas, e pouco contribuíam para a formação da consciência cívica de inúmeros sectores anti-fascistas da sociedade portuguesa. O oportunismo político e ideológico no campo das forças mais consequentes no nosso país teve, (e tem) várias expresões. 



Nos anos 60 e 70 emm Portugal, ou melhor dizendo, junto de emigrantes e exilados em França, e de forma oportunista, usando “pontas” e “ligações” de quando eram membros do Partido, o “radicalismo inconsequente” de ex-membros do PCP, faz aparecer o primeiro embrião “esquerdista” a partir do chamado Comité Marxista-Leninista Portugês, e da chamada FAP (Frente de Acção Popular), que defendia a “greves inssurrecionais”, “inssurreição armada”, e a “acção directa” para o derrube do fascismo, mas apenas como uma orientação para que outros, ou seja, como uma orientação, nomeadamente para que o “revionista e social-fascista” PCP, como tratavam o Partido, tratasse da “tarefa”. Ou seja, eles, os “intrépidos marxistas~leninistas” seriam a “direcção revolucionária”, e o PCP o “exército”, o PCP deveria por a sua organização, quadros, meios, ao serviço dessas orientações desse grupelho oportunista com fraseologia de esquerda. 



A partir daí surgem grupos, grupinhos e grupelhos M-L. Há para todos os gostos e feitios, e servem os mais diversos interesses, sobretudo os interesses das classes dominantes e os seus regimes. O alvo principal é sempre o PCP. Tudo serve para esses agentes objectivos das forças reaccionárias atacarem o mais sólido, coerente, organizado e combativo Partido na luta contra o fascismo e pelo Socialismo. Dessa “família”, o passo orgânico de maior expressão em Portugal foi com a unificação dessa “tropa”, quase inteiramente intelectuais e filhos do papá, e alguns elementos da classe operária, na UDP. Um trabalho de fundo de Francisco Rodrigues Martins- que curiosamente só trai na prisão em 1970, na segunda vez em que foi preso quando já não era membro do PCP,- e de Diôgenes Arruda, influente dirigente do também fraccionário PC do B, ( que é hoje um partido que partilha o poder no Brasil dos ricos cada vez mais ricos e poderosos, e do povão que fica nas favelas), que se coloca na luta contra o “revisionismo” no seu exílio em Portugal. A todos animava-os o anti-sovietismo, ou seja o “anti-social imperialismo e anti-revisionismo” do PCP naquilo que classificavam de “social-fascismo”. Enfim toda a verborreia dos cardápios “maoistas” e “hoxistas” dos anos 60/70, que o camarada Álvaro em duas importantes obras trata: “O Radicalismo Pequeno-Burguês de Fachada Socialista” e “Aventureirismo, Capitulação e Aventura”. Obras que a partir da realidade concreta, identifica a febril doença pequeno-burguesa de alguns que queriam (e querem) mandar na direcção da luta da classe operária e dos trabalhadores, como se de seus alunos se tratassem. A propósito, um dos “líderes”, o Chico Martins que é expulso do PCP, diz quem o conhecia bem ainda membro do PCP, de que era pessoa muito versátil e perspicaz, que tinha inclusivé a extraordinária capacidade de pôr os “classicos a falarem por si”. De ferveroso stalinista, hoxista e maoísta, morre renegando marxismo-leninismo porque é uma criação Staline, morre renegando G. Dimitrov, morre renegando Mao e Enver Hoxa, criticando Lénine e a Revolução de Outubro, mas assumindo-se como o o “último dos Moicanos”. 


A ciumeira em relação ao camarada Álvaro Cunhal era desmedida, porque desmedida era também a sua incoerência e ambição de protagonismo, sede de liderança associados ao desconhecimento da natureza do fascismo, da realidade portuguesa. Outros, um outro tipo de “m-l”, nomeadamente o MRPP, nasce da Esquerda Democrática Estudantil da academia de Lisboa, e que é composto por alguns ex-membros do PCP que foram “frouxos” na PIDE/DGS. Saldanha Sanches ex-funcionário e expulso do PCP porque “bateu com a língua nos dentes” na prisão, Arnaldo Matos, de cognome, Grande Educador da Classe Operária consultor da ITT americana em Portugal, por onde passaram cheques de financiamento à luta contra o “social-fascismo e social-imperialismo”, Fernando Rosas que de intrépido “stalinista-maoista”, passa a militante de discurso trotskista do BE, Durão Barroso no PSD e executante da imperial UE, Ana Gomes que vai à conquista do “socialismo democrático” no PS e chega a deputada no PE. Enfim ,estes e outros animados nas mesmas “razões” da cruzada contra o MCI e os Partidos Comunistas consequentes, todos praticando o anti-comunismo mesmo que alguns não o saibam que o faziam (e fazem). Estas arrumações em Portugal repetem-se noutros países de todos os continentes. Fracturas que dividiram no campo comunista, e que fortaleceram o campo da burguesia, o campo imperialista.O camarada Álvaro observava que apesar de o PCChinês desenvolver “verdadeiras actividades cisionistas e posições dogmáticas e sectárias”, continua a ser um partido irmão, pois acima de tudo estão “os interesses da grande causa de todos os comunistas do mundo”, sendo por isso a unidade do Movimento Comunista Internacional, a principal tarefa do momento... 

Independentemente dos reacertos e autocríticas pelo percurso dos Partidos Chinês, Albanês, Trabalho da Bélgica, PcdoBÉ, e outros, é necessário que fique o registo e a experiência caldosa do oportunismo de esquerda no movimento comunista e as sequelas que deixou. O mesmo em relação a estes países que que tinham, e a China mamtém, o objectivo da construção do Socialismo. É por isso necessário dizer que quer na União Soviética sob a direcção de Krutchev, quer na China de Mao e na Albânia de E. Hoxa, os regimes sócio-económicos, os seus modos de produção, eram socialistas, mesmo apesar de discutíveis orientações que assumiam, prejudicando aspectos do seu próprio desenvolvimento. O modo de produção era socialista, independentemento do nível diferenciado do desenvolvimento das forças produtivas em cada um dos países. O mesmo em relação ao essencial dos contributos teóricos e práticos de Mao-Tse-Tung e Enver Hoxa, para a luta de emancipação dos trabalhadores e dos povos dos seus países, que com espírito crítico, tal como em relação a outros dirigentes comunistas, devem ser estudados e apreciados, bem como, o real e positivo papel que tiveram na luta de libertação dos seus povos. As suas “derivas esquerdizantes” não os coloca na galeria da história como inimigos do Socialismo, antes pelo contrário, eles fazem parte do grande exército que marcou todo o século XX.


O oportunismo tem adquirido ao longo dos tempos as mais diversas expressões, que devem ser firmemente combatidas. A atenção constante, sem atentismos, do que somos, defendemos e fazemos com espírito crítico, ou seja com vigilância revolucionária, é o que nos permite “deitar fora a água suja do banho, mas sem o menino lá dentro”.

Janeiro de 2013
Luís Piçarra

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