A
degenerescência social democratizante liquidacionista do PCUS, e a
derrota do Socialismo e o desaparecimento da URSS, desnorteou e
enfraqueceu grande número de Partidos Comunistas. As concepções
oportunistas, refundando “coisas” que pairavam entre a
social-democracia e o Socialismo, decapitou Partidos de convicções
sólidas, deixou amplas massas de trabalhadores sujeitos às lógicas
dos “vencedores”, interiorizando as profundas alterações
sócio-económicas e ideológicas decorrentes das derrotas do
socialismo na URSS e no Leste da Europa. Mas o oportunismo,
independentemente da sua linguagem e apresentação, tem raízes
anteriores às derrotas do Socialismo, cá no nosso país.
Partindo
das conclusões e orientações do XX Congresso do PCUS de Krutchev, a
“política de solução pacífica” oriunda do Tarrafal, que se
manifestou na Organização Comunista prisional do Tarrafal, não
para uma conquista do poder, mas apenas para o “afastamento” de
Salazar, a partir inclusive da acção de dissidentes do regime
fascista, mesmo que essa acção não destruísse o próprio
regime...
A concepção reformista da “política de solução
pacífica” para além de retirar à classe operária o papel de
vanguarda na luta anti-fascista, , iludia amplos sectores com a idéia
de que a derrota do fascismo estaria em milagrosas medidas legais e
putchistas. No fundo, desprezavam a luta de massas e o seu
aprofundamento, como o elemento fundamental e decisivo para a
formação e organização do factor subjectivo. Essas teses,
concepções e práticas, atrasavam a formação da consciência das
amplas massas, e pouco contribuíam para a formação da consciência
cívica de inúmeros sectores anti-fascistas da sociedade portuguesa.
O oportunismo político e ideológico no campo das forças mais
consequentes no nosso país teve, (e tem) várias expresões.
Nos
anos 60 e 70 emm Portugal, ou melhor dizendo, junto de emigrantes e
exilados em França, e de forma oportunista, usando “pontas” e
“ligações” de quando eram membros do Partido, o “radicalismo
inconsequente” de ex-membros do PCP, faz aparecer o primeiro
embrião “esquerdista” a partir do chamado Comité
Marxista-Leninista Portugês, e da chamada FAP (Frente de Acção
Popular), que defendia a “greves inssurrecionais”, “inssurreição
armada”, e a “acção directa” para o derrube do fascismo, mas
apenas como uma orientação para que outros, ou seja, como uma
orientação, nomeadamente para que o “revionista e
social-fascista” PCP, como tratavam o Partido, tratasse da
“tarefa”. Ou seja, eles, os “intrépidos marxistas~leninistas”
seriam a “direcção revolucionária”, e o PCP o “exército”,
o PCP deveria por a sua organização, quadros, meios, ao serviço
dessas orientações desse grupelho oportunista com fraseologia de
esquerda.
A partir daí surgem grupos, grupinhos e grupelhos M-L.
Há para todos os gostos e feitios, e servem os mais diversos
interesses, sobretudo os interesses das classes dominantes e os seus
regimes. O alvo principal é sempre o PCP. Tudo serve para esses
agentes objectivos das forças reaccionárias atacarem o mais sólido,
coerente, organizado e combativo Partido na luta contra o fascismo e
pelo Socialismo. Dessa “família”, o passo orgânico de maior
expressão em Portugal foi com a unificação dessa “tropa”,
quase inteiramente intelectuais e filhos do papá, e alguns elementos
da classe operária, na UDP. Um trabalho de fundo de Francisco
Rodrigues Martins- que curiosamente só trai na prisão em 1970, na
segunda vez em que foi preso quando já não era membro do PCP,- e de
Diôgenes Arruda, influente dirigente do também fraccionário PC do
B, ( que é hoje um partido que partilha o poder no Brasil dos ricos
cada vez mais ricos e poderosos, e do povão que fica nas favelas),
que se coloca na luta contra o “revisionismo” no seu exílio em
Portugal. A todos animava-os o anti-sovietismo, ou seja o
“anti-social imperialismo e anti-revisionismo” do PCP naquilo que
classificavam de “social-fascismo”. Enfim toda a verborreia dos
cardápios “maoistas” e “hoxistas” dos anos 60/70, que o
camarada Álvaro em duas importantes obras trata: “O Radicalismo
Pequeno-Burguês de Fachada Socialista” e “Aventureirismo,
Capitulação e Aventura”. Obras que a partir da realidade
concreta, identifica a febril doença pequeno-burguesa de alguns que
queriam (e querem) mandar na direcção da luta da classe operária e
dos trabalhadores, como se de seus alunos se tratassem. A propósito,
um dos “líderes”, o Chico Martins que é expulso do PCP, diz
quem o conhecia bem ainda membro do PCP, de que era pessoa muito
versátil e perspicaz, que tinha inclusivé a extraordinária
capacidade de pôr os “classicos a falarem por si”. De ferveroso
stalinista, hoxista e maoísta, morre renegando marxismo-leninismo
porque é uma criação Staline, morre renegando G. Dimitrov, morre
renegando Mao e Enver Hoxa, criticando Lénine e a Revolução de
Outubro, mas assumindo-se como o o “último dos Moicanos”.
A
ciumeira em relação ao camarada Álvaro Cunhal era desmedida, porque
desmedida era também a sua incoerência e ambição de protagonismo,
sede de liderança associados ao desconhecimento da natureza do
fascismo, da realidade portuguesa. Outros, um outro tipo de “m-l”,
nomeadamente o MRPP, nasce da Esquerda Democrática Estudantil da
academia de Lisboa, e que é composto por alguns ex-membros do PCP
que foram “frouxos” na PIDE/DGS. Saldanha Sanches ex-funcionário
e expulso do PCP porque “bateu com a língua nos dentes” na
prisão, Arnaldo Matos, de cognome, Grande Educador da Classe
Operária consultor da ITT americana em Portugal, por onde passaram
cheques de financiamento à luta contra o “social-fascismo e
social-imperialismo”, Fernando Rosas que de intrépido
“stalinista-maoista”, passa a militante de discurso trotskista do
BE, Durão Barroso no PSD e executante da imperial UE, Ana Gomes que
vai à conquista do “socialismo democrático” no PS e chega a
deputada no PE. Enfim ,estes e outros animados nas mesmas “razões”
da cruzada contra o MCI e os Partidos Comunistas consequentes, todos
praticando o anti-comunismo mesmo que alguns não o saibam que o
faziam (e fazem). Estas arrumações em Portugal repetem-se noutros
países de todos os continentes. Fracturas que dividiram no campo
comunista, e que fortaleceram o campo da burguesia, o campo
imperialista.O camarada Álvaro observava que apesar de o PCChinês
desenvolver “verdadeiras actividades cisionistas e posições
dogmáticas e sectárias”, continua a ser um partido irmão, pois
acima de tudo estão “os interesses da grande causa de todos os
comunistas do mundo”, sendo por isso a unidade do Movimento
Comunista Internacional, a principal tarefa do momento...
Independentemente dos reacertos e autocríticas pelo percurso dos
Partidos Chinês, Albanês, Trabalho da Bélgica, PcdoBÉ, e outros,
é necessário que fique o registo e a experiência caldosa do
oportunismo de esquerda no movimento comunista e as sequelas que
deixou. O mesmo em relação a estes países que que tinham, e a
China mamtém, o objectivo da construção do Socialismo. É por isso
necessário dizer que quer na União Soviética sob a direcção de
Krutchev, quer na China de Mao e na Albânia de E. Hoxa, os regimes
sócio-económicos, os seus modos de produção, eram socialistas,
mesmo apesar de discutíveis orientações que assumiam, prejudicando
aspectos do seu próprio desenvolvimento. O modo de produção era
socialista, independentemento do nível diferenciado do
desenvolvimento das forças produtivas em cada um dos países. O
mesmo em relação ao essencial dos contributos teóricos e práticos
de Mao-Tse-Tung e Enver Hoxa, para a luta de emancipação dos
trabalhadores e dos povos dos seus países, que com espírito
crítico, tal como em relação a outros dirigentes comunistas, devem
ser estudados e apreciados, bem como, o real e positivo papel que
tiveram na luta de libertação dos seus povos. As suas “derivas
esquerdizantes” não os coloca na galeria da história como
inimigos do Socialismo, antes pelo contrário, eles fazem parte do
grande exército que marcou todo o século XX.
O oportunismo tem
adquirido ao longo dos tempos as mais diversas expressões, que devem
ser firmemente combatidas. A atenção constante, sem atentismos, do
que somos, defendemos e fazemos com espírito crítico, ou seja com
vigilância revolucionária, é o que nos permite “deitar fora a
água suja do banho, mas sem o menino lá dentro”.
Janeiro
de 2013
Luís Piçarra
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