Depois
do triunfo da contra-revolução burguesa no Leste Europeu e na União
Soviética, não pode haver divergências de opinião entre
comunistas sobre a verdadeira natureza do trotskismo.
O
desenvolvimento do processo contra-revolucionário no Leste e na
União Soviética permite atestar o significado de classe do discurso
que os trotskistas mantêm desde há 60 anos.
É hoje fácil de perceber, no seu fraseado de «esquerda», a
verdadeira natureza e o verdadeiro
objectivo desta corrente. Basta simplesmente reler as declarações
trotskistas de há dois ou três anos para que a verdade nos salte
aos olhos. O trotskismo é uma corrente ideológica cuja essência é
o anticomunismo desenfreado, uma corrente que recruta elementos
progressistas da pequena burguesia para os doutrinar no
anticomunismo, uma corrente que trava um único combate com
perseverança, continuidade e convicção: o combate contra o
marxismo-leninismo e contra o movimento comunista internacional.
Demonstraremos
estas afirmações através do estudo das posições trotskistas
aquando das contra-revoluções de «veludo», que conduziram à
restauração do capitalismo no Leste da Europa e na União
Soviética.
«A
restauração do capitalismo é impossível!»
Nos
anos 30, Stáline levantou uma questão essencial: Será que depois
de o socialismo ter sido instaurado num país, enquanto ditadura das
massas trabalhadoras, a restauração do capitalismo continua a ser
possível nesse país? Trótski respondeu que a restauração do
capitalismo era impossível sem uma insurreição armada da burguesia
e sem uma guerra civil prolongada. A sua tese sobre a impossibilidade
da restauração do capitalismo visava eliminar a vigilância
política e ideológica e favorecer uma atitude conciliadora para com
o oportunismo, tanto no interior do partido como em relação ao
inimigo de classe na sociedade.
Desde
a Revolução Cultural que os marxistas-leninistas reafirmaram que um
partido comunista pode degenerar politicamente e ser invadido por
concepções e teorias burguesas e pequeno-burguesas. O revisionismo
é a adopção de ideias da burguesia e da pequena-burguesia
embrulhadas numa terminologia marxista-leninista. Quando o
revisionismo consegue dominar um partido comunista, este torna-se no
instrumento principal de uma progressiva restauração burguesa nos
domínios ideológico, político e económico.
Ernest
Mandel, o líder principal da chamada IV Internacional, lançou-nos à
cara que esta era uma teoria «stalinista», que servia unicamente
para justificar a arbitrariedade. Ele insiste muito nesta ideia
mestra de Trótski.
«Só
idiotas manifestos...»
Em
1934, Stáline demonstrou que a linha do grupo oportunista
Zinóviev-Kámenev conduziria necessariamente ao restabelecimento do
capitalismo na União Soviética. A história provou que as críticas
de Stáline a Trótski, ao grupo de Zinóviev-Kámenev e de depois
aos seguidores de Bukhárine, eram inteiramente pertinentes. A
refutação das suas ideias ao longo dos anos 20 e 30 permitiu
conservar a ditadura do proletariado e construir o socialismo, bem
como forjar as forças políticas e militares necessárias para
defender vitoriosamente o socialismo da agressão fascista. Um quarto
de século mais tarde, os revisionistas Khruchov e Bréjnev retomaram
grande parte das ideias de Trótski, Zinóviev e Bukhárine. E apenas
dois anos depois da reabilitação oficial destas figuras por
Gorbatchov, a restauração do capitalismo tornou-se um facto
consumado. Mas é preciso recordar que, em 1934, Trótski replicou a
Stáline: «Só idiotas manifestos seriam capazes de acreditar que as
relações capitalistas, ou seja a propriedade privada dos meios de
produção incluindo a terra, podem ser restabelecidas na URSS por
via pacífica e desembocar num regime de democracia burguesa. Na
realidade, se isso fosse possível, o capitalismo só poderia ser
restaurado na Rússia em resultado de um violento golpe de Estado
contra-revolucionário, que exigiria dez vezes mais vítimas que a
Revolução de Outubro e a guerra civil.» Dez vezes mais, o que
faria entre 50 e 90 milhões de mortos para que o capitalismo pudesse
ser reintroduzido na Rússia...
1989:
«A restauração impossível a médio prazo»
Mesmo
em 1989, quando já estavam em campo as forças abertamente
contrarevolucionárias, Mandel insistia que o espectro da restauração
capitalista não passava de uma mentira «stalinista» para
justificar a «repressão». Em 1989, a Polónia e a Hungria já
tinham tombado para o lado do imperialismo, porém, Mandel escrevia:
«A pequena e média burguesia representa apenas uma pequena minoria
da sociedade em cada um destes estados operários burocratizados. Ela
beneficia de um apoio, aliás fortemente limitado, por parte do
grande capital internacional. Mas no conjunto, esta convergência de
interesses é insuficiente para poder impor, a curto ou a médio
prazo, uma qualquer restauração do capitalismo.»
Os
marxistas-leninistas identificaram há muito as quatro forças
sociais que formam a base da restauração: a primeira é a camada
dos burocratas, tecnocratas e elementos corruptos no seio do partido
e do aparelho do Estado; a segunda são as forças políticas e
ideológicas das velhas classes reaccionárias; a terceira são os
novos elementos burgueses e exploradores surgidos na sociedade
socialista; e por último, as forças imperialistas que actuam aberta
ou clandestinamente nos países socialistas. Com Reagan, a ingerência
e a infiltração do imperialismo redobraram nos países socialistas.
Mandel nega a existência das duas primeiras forças e minimiza as
duas últimas.
De
resto, ele recorreu ao mesmo argumento para apoiar a contra-revolução
na URSS: «Para onde vai a União Soviética de Gorbatchov?
Excluamos, antes de mais, a eventualidade de uma restauração do
capitalismo na URSS. Da mesma forma que o capitalismo não poder ser
gradualmente suprimido, tão pouco pode ser gradualmente restaurado.»
Os
trotskistas difundiram com alarido a sua teoria sobre a
impossibilidade da restauração enquanto existisse alguma
resistência por parte do partido comunista e do aparelho do Estado
contra as forças anticomunistas. Desde os anos 30 que esta «teoria»
lhes serviu para justificar o apoio a todas as correntes oportunistas
e contrarevolucionárias. Durante os anos 30 e 40, os trotskistas
apoiaram todas as correntes e facções oportunistas que
desencadearam a luta contra a direcção marxista-leninista do
partido. Em 1956 aplaudiram o «antistalinismo corajoso» de
Khruchov, converteram-se em propagandistas do reaccionário tsarista
Soljenítsine, apoiaram todas as forças nacionalistas reaccionárias
e fascistas, todos os dissidentes pró-ocidentais, propagaram
galhardamente todas as teorias anticomunistas do círculo de
Gorbatchov, chegando a encher dois terços do seu jornal com artigos
de direita publicados no Notícias de Moscovo e na revista Sputnik.
Resumindo, em nome da teoria da impossibilidade darestauração, os
trotskistas apoiaram todos os contra-revolucionários até ao dia em
que já nada subsistia das ideias revolucionárias e as instituições
socialistas criadas e defendidas por Lénine e Stáline.
Uma
vez terminada a batalha, Mandel refere de passagem, hipocritamente, a
hipótese de uma restauração. Em 12 de Outubro de 1989, numa única
entrevista, consegue defender as duas posições... «Excluo um
restabelecimento gradual, pacífico, imperceptível do capitalismo.
Isso é uma ilusão reformista. Será preciso quebrar a resistência
operária (…)» Mais adiante, cita a trotskista Catherine Samary,
que afirma que não é de excluir uma restauração, mas ela será
feita «exclusivamente segundo o modelo turco (…)».5 Mas esta
alusão à possibilidade de uma restauração não tem qualquer
reflexo na política trotskista, que se mantém fiel ao princípio da
destruição de tudo o que se assemelhe com o comunismo. Assim, três
meses mais tarde, em finais de Dezembro de 1989, no momento do
assalto final da contra-revolução, os trotskistas lançam a
seguinte consigna na primeira página: «Solidariedade com a
revolução que começa no Leste!»
De
um lado «a burocracia», do outro «as massas»
Esta
tese da impossibilidade da restauração serviu durante 60 anos de
camuflagem aos trotskistas, permitindo-lhe desertar decorosamente
para o lado dos anticomunistas. Com efeito, Stáline e depois dele
Mao Tsé Tung afirmaram sempre que a luta de classes continua no
socialismo, que a luta entre a via socialista e a via capitalista
mantém-se durante um largo período histórico e que a restauração
do capitalismo é, deste modo, sempre possível. O socialismo, para
se poder manter e progredir, precisa de um partido comunista
autenticamente marxista-leninista, um partido que depura, em
intervalos regulares, as suas fileiras das correntes oportunistas. O
socialismo deve defender-se dos seus inimigos, dos restos das antigas
classes reaccionárias, dos novos elementos burgueses que nascem no
novo regime e dos agentes do imperialismo.
Atacando
estas ideias, Mandel e os trotskistas desenvolveram uma «teoria»
original, que reconhece que a luta de classes existe na realidade no
socialismo… mas ela opõe a «burocracia» às «massas populares».
Denunciando a «burocracia» como uma violência só igualada pelos
fascistas, os líderes trotskistas apoiam todas as oposições
reaccionárias contra o socialismo, afirmando que estas exprimem a
vontade das «massas populares». Arvorando-se em advogados de todas
as forças burguesas e anticomunistas, os trotskistas colocam de um
lado a «burocracia», que quer «suprimir as liberdades
democráticas», e do outro lado as forças da «revolução
política», que aspiram ao «socialismo autêntico».
Assim
escreveu Mandel em Outubro de 1989: «O objectivo principal das lutas
políticas em curso não é a restauração do capitalismo. O que
está em causa é ou o avanço em direcção à revolução política
antiburocrática ou a supressão parcial ou total das liberdades
democráticas que as massas conquistaram durante a glasnost. A luta
principal não opõe as forças pró-capitalistas às forças
anticapitalistas, mas a burocracia ao povo.» Pretendendo que a luta
«opõe a burocracia às massas populares», Mandel apoia aberta e
explicitamente as forças liberais, sociais-democratas, monárquicas
e fascistas na sua luta contra os últimos resquícios do socialismo.
«A
glasnost é um trotskismo…»
Num
momento em que a burguesia internacional já reconhecia que o
restabelecimento do capitalismo na URSS estava praticamente
concluído, Mandel teve as honras da imprensa anticomunista
soviética. O seu descaramento levou-o a afirmar que Gorbatchov era
um grande revolucionário que tinha adoptado as teses trotskistas. De
seguida, Mandel declara que agora todos os comunistas podem
compreender quem são os verdadeiros revolucionários e quem são os
contra-revolucionários. Trótski, os trotskistas, Gorbatchov e
gorbatchovianos estão no campo da revolução, Stáline e os
stalinistas estão no campo da contra-revolução. Stáline
representa uma «contra-revolução violenta», declarou em Manágua.
E assim, graças ao esforço conjunto de Mandel e Gorbatchov, nesse
ano bendito de 1990 iniciou-se a verdadeira revolução.
Eis
a declaração de Mandel a Temps Nouveaux: «Temps Nouveaux:
Gorbatchov proclama de facto que a perestroika é uma verdadeira nova
revolução? Mandel: Sim, proclama-o efectivamente, e isso é mais
uma vez muito positivo. O nosso movimento defende desde há 55 anos a
mesma tese, e por essa razão foi qualificado de
contra-revolucionário. Hoje compreendemos melhor, tanto na URSS como
em boa parte do movimento comunista internacional, onde se
encontravam os verdadeiros contra-revolucionários e onde se
encontravam os verdadeiros revolucionários.»
Não
foi preciso esperar dois anos para ver a União Soviética cair nas
mãos da máfia tsarista e pró-norte-americana, ver o
recrudescimento das forças fascistas e tsaristas na Rússia e nas
outras repúblicas, e assistir a guerras civis reaccionárias entre
as diferentes facções burguesas. O que ilumina na perfeição o
rosto dos «revolucionários» da glasnost e da perestroika e mostra
para que forças políticas Mandel – esse profissional do
anticomunismo – trabalha.
Catherine
Samary, outra estrela da IV Internacional, afirmou à imprensa
soviética que Gorbatchov aplicava o programa desenvolvido por
Trótski. Fez o elogio da glasnost nestes termos: «No vosso país
ainda não foi publicada a Plataforma da Oposição de Esquerda, que
combateu Stáline e propôs um caminho alternativo para a construção
do socialismo. De facto, neste momento, estão a adoptar as suas
ideias: construir a democracia socialista autêntica e a autogestão.»
O
apoio de Mandel a Iéltsine
Embora
sendo um ardente partidário da glasnost, Mandel considerou ser seu
dever apoiar as forças ainda mais à «esquerda» de Gorbatchov, e
foi de Iéltsine e Sákharov que se tornou porta-voz!
No
início de 1989, Mandel apresentou Iéltsine como o representante dos
trabalhadores, o homem da democratização que exprime as ideias da
classe politicamente consciente da URSS! No seu livro sobre
Gorbatchov, escreve: «A eliminação de Iéltsine [em 11 de Novembro
de 1987] enquanto dirigente do PCUS representa um grave retrocesso no
processo de democratização da URSS.» «Iéltsine é hoje a
personalidade política mais popular entre os trabalhadores
soviéticos. (...) Dezenas de milhares de crachás com a inscrição
“Reintegrem Iéltsine!” foram espontaneamente fabricados. Tudo
isto indica a vontade de uma camada politicamente consciente de
conservar e ampliar as liberdades democráticas parciais obtidas
durante o período entre 1986 e 1988.»
Em
3 de Abril de 1989, Mandel saúda «o surgimento de uma esquerda mais
radical e massiva. Três linhas de força, progressistas, sobressaem
na plataforma de Iéltsine e Sákharov: contra os privilégios da
burocracia; por mais igualdade; e por um sistema multipartidário.»
Sákharov, esse representante da «esquerda radical», tinha na
prática o estatuto de agente oficial da CIA na União Soviética
desde há muitos anos. Apoiara com entusiasmo a agressão
norte-americana ao Vietname. Considerava que os norte-americanos
teriam podido vencer essa guerra «se tivessem demonstrado um
espírito mais determinado e consequente no plano militar e sobretudo
no plano político.» Quanto a Iéltsine, durante a sua primeira
viagem aos Estados Unidos, a imprensa internacional havia comentado
as suas afirmações elogiosas sobre o capitalismo norteamericano e
relatado os contactos com a CIA. Até um jornal belga de direita,
como o De Gazet van Antwerpen, considerou que Iéltsine tinha
exagerado ao declarar: «O capitalismo não está a apodrecer, pelo
contrário, desabrocha. Podemos comprar tudo por pouco dinheiro. À
noite, nas ruas, não se corre o menor perigo. Até junto dos
semabrigo encontrei uma atitude optimista perante a vida.» Depois
destas declarações tão abertamente anti-socialistas, Iéltsine
continuou a ser saudado por Mandel como «a esquerda radical
democrática» do partido comunista da URSS!
Com
efeito, no início de 1990, a imprensa trotskista manifestou mais uma
vez o seu apoio à ala «radical-democrática» da oposição na
União Soviética: «O Moskóvskaia Pravda, de 23 de Fevereiro de
1990, publicou “a plataforma democrática” da oposição
radical-democrática dirigida por Iéltsine. A plataforma reclama o
exercício do poder pelos sovietes, eleitos na base de um sistema
multipartidário, a abolição do “papel dirigente do PC” e a
adopção de uma lei que institua o sistema multipartidário.»Notamos
que os trotskistas continuaram a insistir nos pontos desenvolvidos
por Iéltsine, os quais coincidiam com a sua linha «revolucionária».
Mandel chegou mesmo a declarar que Iéltsine era o novo Trótski: «Na
actualidade, o reformador Boris Iéltsine representa a tendência que
é favorável à redução do enorme do aparelho burocrático. Deste
modo, ele segue as pegadas de Trótski.»
Quando,
em Agosto de 1991, Ianáiev improvisou o seu estranho golpe, Iéltsine
montou profissionalmente um verdadeiro golpe de Estado, que destruiu
toda a legalidade do sistema existente com o apoio de uma desmesurada
mobilização internacional de todas as forças imperialistas. Mandel
e os trotskistas estavam, evidentemente, ao lado de Iéltsine.
«A
mobilização galvanizada por Iéltsine e a rejeição do antigo
sistema explicam o fracasso do que parece mais ter sido um golpe de
força do que um golpe de Estado. Era preciso não hesitar em se opor
ao golpe e, neste sentido, lutar ao lado de Iéltsine. O
desenvolvimento da auto-organização, do pluralismo político e da
total liberdade de expressão são as únicas garantias de uma
democracia em relação às opções essenciais futuras. Somos a
favor da nacionalização dos bens do partido comunista e dos
sindicatos oficiais.»
Nesta
altura, para todos os anticapitalistas honestos, era evidente que
Iéltsine representava a facção ultraliberal e pró-norte-americana
da nova burguesia russa e se preparava para reabilitar a herança
tsarista. No entanto, os trotskistas aclamaram o golpe de Estado
contra-revolucionário de Iéltsine porque abria caminho à
«auto-organização», quer dizer, à auto-organização das massas
contra o partido comunista, e por que introduzia o «pluralismo»,
quer dizer, a liberdade para os partidos liberais, sociaisdemocratas,
fascistas e tsaristas... Liberdade para os partidos burgueses,
acompanhada da inevitável repressão contra as organizações
comunistas, podendo conduzir eventualmente à sua interdição, como
acontece em todo o sistema burguês «pluralista». Um ano mais
tarde, já ninguém podia negar, inclusive nos círculos da grande
burguesia
internacional, o carácter de extrema-direita e pró-imperialista de
Iéltsine.
Como
verdadeiros provocadores anticomunistas, os trotskistas ousaram então
titular: «Estará Boris Iéltsine a seguir as pegadas de Ióssif
Stáline?». Este exemplo mostra bem que estes anticomunistas não se
detêm perante nenhuma baixeza ou canalhice. Apoiaram até ao fim o
liberal Iéltsine no seu combate anticomunista, comparando-o com seu
venerado chefe revolucionário, o grande Trótski; alguns meses
depois, concluída a restauração capitalista e tendo Iéltsine
saudado a memória dos antigos tsares, os trotskistas declaram que,
na realidade, Iéltsine se parece com o seu pior inimigo: Stáline.
«Um
grande suspiro de alívio»
Em
Abril de 1989, Mandel publicou um livro em que escreve tudo o que
pensa de positivo sobre Gorbatchov, Iéltsine e sobretudo da
glasnost. Recorde-se que, na altura, a burguesia escondia a custo o
seu entusiasmo pelas mudanças introduzidas por Gorbatchov. A senhora
Thatcher já tinha exclamado que era uma partidária da glasnost e da
perestroika. A burguesia anunciava o fim do comunismo e o início de
uma grande era de paz, de democracia e liberdade. Na sua linguagem de
«esquerda» pérfida, Mandel apoiou como sempre a corrente burguesa
na moda. No seu livro escreve: «O pesadelo do stalinismo e do
brejnevismo está definitivamente superado. O povo soviético, o
proletariado internacional e toda a humanidade pode dar um suspiro de
alívio.»
Nessa
altura, o nosso partido tinha sublinhado que a contra-revolução no
Leste Europeu e na União Soviética constituía uma vitória
estratégica do imperialismo, que provocaria umdesastre para os povos
dos antigos países socialistas, reforçaria a opressão do Terceiro
Mundo, cujos povos seriam as primeiras vítimas das mudanças em
curso, e que acentuaria todas as contradições do mundo capitalista.
Os trotskistas titularam então: «A loucura da direcção do PTB
agrava-se». No mesmo jornal, explicavam «o suspiro de alívio da
humanidade», prometendo um futuro sem intervenções militares
imperialistas aos povos do Terceiro Mundo! «Os movimentos de massas
no Leste Europeu constituem também uma ameaça (…) para o
imperialismo. Uma intervenção estrangeira do imperialismo no
Terceiro Mundo torna-se agora mais difícil.» E quando um ano depois
a coligação imperialista desencadeou a sua agressão bárbara
contra o Iraque, os trotskistas apregoaram que se batiam tanto contra
Saddam Hussein como contra os aliados. Entretanto, no Leste Europeu e
na União Soviética, verificava-se que o «suspiro de alívio» era
afinal um grito de horror ante o desemprego, a miséria, a pobreza, o
nacionalismo reaccionário e a guerra civil.
Desenvolvendo
a sua ideia do «suspiro de alívio» do povo soviético, Mandel
imaginou fechar o seu livro com chave de ouro. Eis, em resumo, a
última página: «A evolução actual confirma que a análise e as
predições feitas por Lev Trótski, há quase meio século, eram
bastante realistas e verdadeiras: “Assim que o proletariado começar
a entrar em acção, o aparelho stalinista ficará suspenso no ar. Se
tentar, apesar de tudo, oferecer resistência, não deverá recorrer
a medidas de guerra civil, mas antes a medidas de carácter policial.
Trata-se em todo o caso, não de uma insurreição contra a ditadura
do proletariado, mas da ablação de uma excrescência perniciosa
dentro dela.”» E ainda: «A revolução que a burocracia prepara
contra ela própria não será uma revolução social, como a de
Outubro de 1917: não se tratará de mudar as bases económicas da
sociedade, nem de substituir uma forma de propriedade por uma outra.
Assim acontecerá.» É louvável que Mandel tenha associado o velho
Trótski às suas análises da glasnost (que, apenas um ano depois, o
irá desmascarar como um anticomunista irredutível).
Com
efeito, os grotescos artifícios contra-revolucionários de Mandel
levam até às últimas consequências os propósitos
antibolcheviques mais sofisticados de Trótski. Em 300 páginas de
análises, Mandel conclui que a «predição» de Trótski podia
agora concretizar-se graças à glasnost. Há meio século, Trótski
esforçava-se para provocar uma insurreição antibolchevique. Como a
ditadura do proletariado estava firmemente estabelecida, como o
partido bolchevique mobilizava energicamente as massas operárias e
camponesas, Trótski teve de recorrer a uma aliciante demagogia de
«esquerda»: quando derrubarmos o partido «stalinista», a ditadura
do proletariado restará intacta, apenas amputaremos uma
«excrescência burocrática». A insurreição eliminará um
parasita de um corpo são. Não haverá mais classes reaccionárias
ou revanchistas no corpo da sociedade soviética, nem novas forças
burguesas: o corpo socialista erguer-se-á contra o «parasita
stalinista». Trótski teve que assegurar aos operários que a sua
insurreição não alteraria as bases económicas do socialismo, que
estava fora de questão restabelecer a propriedade privada.
Evidentemente! Cinquenta anos mais tarde, Mandel dará as mesmas
garantias na seguinte citação com que conclui o seu livro: a
glasnost e a «democratização» da sociedade soviética, levados
até a fim, manterão e melhorarão a ditadura do proletariado, e não
mudarão a base económica da sociedade. Dois anos depois pudemos
assistir às convulsões contra-revolucionárias criminosas, que
foram apresentadas e justificadas com estes propósitos benignos.
A
«revolução política antiburocrática» trotskista
Há
60 anos que os trotskistas alegam que querem derrubar «a burocracia»
nos países socialistas através de uma «revolução política». O
ódio de Trótski ao sistema socialista manifesta-se na forma como
qualifica a direcção bolchevique da União Soviética: a «casta
dos arrivistas rapaces», a «oligarquia totalitária», «a nova
aristocrática», «o gang criminoso de Stáline», «a casta dos
novos opressores e parasitas», «aburocracia totalitária», «a
clique autocrática», «a hierarquia de incapazes e escória».
Encontramos a mesma linguagem na literatura fascista nos finais dos
anos 30.
Segundo
Trótski, a mobilização de todas as forças de oposição à
«burocracia» conduzirá a uma «revolução política» que livrará
a sociedade socialista autêntica dos parasitas da burocracia. Esta
teoria, segundo as afirmações do grupo de Mandel, constitui em si o
núcleo da doutrina trotskista: «A teorização da degenerescência
burocrática da URSS e da revolução política é o avanço
programático mais importante do movimento trotskista. A revolução
política e as tarefas que implica a sua preparação são as
verdadeiras razões da existência da IV Internacional.»
Provocações
ao serviço dos nazis
O
significado real da teoria da «revolução política» foi
demonstrado nas lutas dos anos 30. Toda a burguesia ocidental
exprimiu então a sua apreciação positiva das «análises
penetrantes da revolução traída», feitas por Trótski. Na
realidade, Trótski manifestou-se como um anticomunista enraivecido e
as suas afirmações contra o partido bolchevique e contra Stáline
foram e continuam a ser aplaudidas pelos ideólogos do imperialismo.
Limitemo-nos
a um exemplo altamente significativo. Em 1982, Henri Bernard,
professor emérito da Academia Real Militar da Bélgica, publicou um
livro para alertar a opinião pública contra o perigo de uma
agressão soviética. Disse-nos o seguinte: «1939 parece-se com
1982, os nazis de então são os comunistas de hoje, o antifascista
Einstein tem o seu sucessor no anticomunista Soljenítsine.»
Para
nos demonstrar a ameaça terrível que pesava sobre o Ocidente em
1982, Henri Bernard considerou útil guiar-nos numa digressão
através da história da União Soviética desde 1927. Eis algumas
frases colhidas ao longo do percurso: «No plano privado, Lénine
era, tal como Trótski, um ser humano. A sua vida sentimental não
era desprovida de fineza. Trótski devia normalmente suceder a
Lénine. Apesar de algumas divergências de opinião, Lénine manteve
sempre uma grande afeição por Trótski. Pensava nele como o seu
sucessor. Achava que Stáline era demasiado brutal. No plano interno,
Trótski manifestava-se contra a burocracia apavorante que paralisava
o aparelho comunista. Por último, Trótski afirmava que um regime só
poderia desenvolver-se com uma maior liberdade de opinião e um
espírito crítico construtivo.
Artista,
homem de letras, inconformista e frequentemente profeta, não podia
entenderse com os dogmáticos primários do Partido.» Eis como fala
um dos principais chefes do serviço de informações militares sobre
os méritos de Trótski.
A
partir de 1938, quando a agressão hitleriana pesava como uma ameaça
constante sobre a União Soviética, num momento em que o partido
comunista travava uma luta decisiva contra os derrotistas e
capitulacionistas, e em que mobilizava todas as suas forças para a
batalha gigantesca que se aproximava, Trótski fazia agitação como
provocador, e as suas afirmações tornaram-se armas nas mãos dos
agentes nazis. Em 1938, todos os comunistas e patriotas soviéticos
se entregavam de corpo e alma às tarefas políticas e militares na
expectativa da agressão nazi. Os apelos dementes de Trótski à
insurreição armada só poderiam encontrar eco entre os piores
inimigos do socialismo.
Eis
algumas afirmações feitas por Trótski entre 1938 e 1949: «Só é
possível assegurar a defesa do país destruindo a clique autocrática
dos sabotadores e derrotistas». (3 de Julho de 1938). Neste momento,
ante a ameaça nazi, as tensões eram muito fortes na União
Soviética. Certos grupos oportunistas, para os quais os sacrifícios
eram demasiado pesados, e certos grupos contra-revolucionários
conceberam planos para um golpe de Estado. A depuração,
inteiramente necessária face à de uma guerra de resistência, foi
dirigida contra estas forças. Trótski ofereceu-lhes um novo
argumento de agitação contra o partido, afirmando que a derrota da
URSS face aos nazis seria certa se Stáline e os stalinistas
permanecessem no poder.
Consequentemente,
era preciso destruir a direcção do partido através de uma
insurreição. Estes propósitos correspondiam exactamente às
intenções dos nazis, que pretendiam provocar uma guerra civil para
realizar mais facilmente os seus planos de invasão. «Só o
derrubamento da clique bonapartista do Krémlin poderá permitir a
regeneração do poderio militar da URSS. Aqueles que defendem
directa ou indirectamente o stalinismo, que exageram o poderio do seu
exército, são os piores inimigos da revolução socialista e dos
povos oprimidos.» (10 de Outubro de 1938). Assinale-se que os nazis
alemães acreditaram nesta propaganda, que os animou na sua
determinação de acabar com bolchevismo. Mas após seis meses de
guerra tiveram que reconhecer que haviam subestimado o potencial
militar e a combatividade dos soviéticos...
«Só
uma insurreição do proletariado soviético contra a tirania infame
dos novos parasitas pode salvar o que ainda subsiste das conquistas
do Outubro nos fundamentos da sociedade». (14 de Novembro de 1938).
«As conquistas da Revolução de Outubro não servirão o povo se
este não se mostrar capaz de agir contra burocracia stalinista como
antes fez com a burocracia tsarista e a burguesia. (...) Isto só
pode ser feito de uma única maneira: pelos operários, os camponeses
e os soldados do Exército Vermelho que se levantarão contra a nova
casta de opressores e parasitas. Para preparar um levantamento em
massa, é preciso um novo partido, a IV Internacional». (Maio de
1940).
O
leitor terá reparado na data em que esta prosa delirante foi
produzida: Maio de 1940. Havia já sete meses que a Inglaterra e a
França tinham declarado guerra à Alemanha de Hitler; dois meses
antes, a Finlândia, aliada da Alemanha, tinha capitulado perante a
União Soviética após três meses de guerra. Stáline tenta por
todos os meios ganhar tempo, mas sabe que a partir deste momento a
agressão nazi pode acontecer a qualquer momento. É neste contexto
que Trótski lança as suas provocações mais infames e criminosas:
apela à insurreição popular, depois a uma insurreição do
exército contra a «nova casta dos parasitas», termos que eram
muito populares na altura entre os hitlerianos. Seria possível os
bolcheviques não concluírem que Trótski tinha degenerado ao ponto
de agir como um agente de Hitler?
Todas
as suas declarações anticomunistas, durante o período entre 1938 e
1940, mostravam que Trótski e os seus pequenos grupos de acólitos
se tinham transformado em provocadores, consciente e
inconscientemente, ao serviço dos nazis. Mas não puderam exercer a
menor influência no desenrolar dos combates. Graças a um trabalho
gigantesco de organização da população e de mobilização do
Exército Vermelho e das formações de guerrilheiros, graças aos
esforços sobre-humanos no domínio da produção militar e da
construção de novas fábricas, os bolcheviques conseguiram preparar
eficazmente o país para a confrontação inevitável com os
criminosos nazis. No final da guerra antifascista, um pouco por todo
o mundo, os pequenos grupos trotskistas estavam completamente
desacreditados e isolados.
Foi
Khruchov quem permitiu aos anticomunistas trotskistas levantar a
cabeça, atacando a obra gigantesca do camarada Stáline nos termos
retomados à reacção mundial. A linha de Khruchov, aprofundada e
desenvolvida por Bréjnev, resultou hoje na restauração do
capitalismo selvagem. Hoje podemos dizer que quem não é capaz de
reconhecer o carácter provocador, anticomunista e pró-fascista das
referidas teses de Trótski, nada tem de comunista.
Mandel
apoia os nazis ucranianos
Vejamos
agora quais as forças políticas e sociais que os trotskistas
apoiaram em nome da sua «revolução política», desde a Segunda
Guerra Mundial. Quando os nazis ocuparam uma parte da URSS em 1941,
fundaram e apoiaram na Ucrânia um movimento nacionalista e pró-nazi
que massacrou centenas de milhares de judeus, polacos e comunistas.
Em 1944, no momento da retirada, os nazis deixaram grupos fascistas
ucranianos, dirigidos por oficiais alemães nazis, atrás das linhas
do Exército Vermelho. O grupo de Mandel aclamou esta
contra-revolução nazi, como fazendo parte da «revolução política
antiburocrática». Inacreditável?
Julguem
vós próprios: Em 1988, o grupo de Mandel escreveu o seguinte:
«Durante a Segunda Guerra Mundial, a IV Internacional subestimou
gravemente as potencialidades revolucionárias do movimento
nacionalista ucraniano. A Internacional só se apercebeu da
existência do movimento revolucionário de libertação nacional
cinco anos depois da guerra, quando os guerrilheiros ucranianos
travavam o seu último combate».
Aqui,
os trotskistas revelaram-se abertamente como provocadores ao serviço
dos nazis. Os trotskistas retomaram para o efeito a mentira difundida
desde 1945 pelos serviços secretos norte-americanos, segundo a qual
os nacionalistas ucranianos tinham combatido «contra Hitler e contra
Stáline». O que aconteceu na realidade? Numa revista para antigos
combatentes da Frente Oeste, um oficial alemão da Waffen-SS relatou
a sua experiência na Ucrânia. Ele reconhece que o povo ucraniano
«estava muito desiludido com a política alemã durante a ocupação».
Antes da sua retirada, o exército alemão formara a divisão
Galitzia da Waffen-SS, composta por ucranianos e dirigida por
militares alemães. O chefe do Exército Insurreccional Ucraniano,
Melnik, tomou «a decisão muito responsável de lutar nas duas
frentes: contra os soviéticos e contra os alemães.» (Contra os
alemães que... já estavam em retirada). O oficial nazi descreve
então os combates em que participou com os «seus ucranianos»
contra o Exército Vermelho, em Julho de 1944. «O facto de soldados
alemães e ucranianos terem combatido juntos contra o inimigo comum
conferiu uma nova dimensão à história das relações
germano-ucranianas.» A «revolução política» trotskista torna-se
realmente maravilhosa com a Waffen-SS na sua vanguarda!
Com
a contra-revolução em Berlim e em Budapeste
A
grande maioria da população alemã apoiou activamente o regime
hitleriano ao longo da guerra. Cinco anos depois da derrota, a
influência dos nazis era ainda muito presente, tanto na Alemanha
Ocidental como na Oriental. A Ocidente os antigos nazis e os seus
colaboradores continuaram à frente das grandes empresas, da
magistratura e do exército. A guerra fria, desencadeada pelos EUA e
a Inglaterra, alimentava o anticomunismo dos nostálgicos da Nova
Ordem na RDA. Quando em 1953, em Berlim-Leste rebenta uma revolta
dirigida por antigos nazis e apoiada pela rede do general Gehlen,
antigo chefe dos serviços secretos nazis que passara para a CIA,
Mandel aclamou esta «luta antiburocrática». «A casta burocrática
não recua ante os crimes mais revoltantes. Esta lição da história
já foi escrita com sangue nos muros de Berlim em 1953».
Na
Hungria, o regime fascista de Horthy tinha dominado o país sem
interrupção desde 1919 até 1944. Em 1956 rebenta a
contra-revolução húngara, desencadeada pelos fascistas com o apoio
da CIA. Mandel aplaudiu: «A revolução húngara de Outubro/Novembro
de 1956 foi a que chegou mais longe na via da revolução política
antiburocrática plenamente desenvolvida».
Acrescentemos
que aqueles que, em 1989, em Budapeste, proclamaram o reino da livre
iniciativa e pediram a adesão à NATO, estavam assim a realizar o
programa da insurreição anticomunista de 1956. Saudaram a memória
do «herói nacional», Imre Nagy, que, em 31 de Outubro de 1956,
tinha rompido com o Pacto de Varsóvia e decretado a «neutralidade»
da Hungria… o que era precisamente a palavra de ordem mais
avançada, formulada pela Rádio Europa Livre. A imprensa trotskista
saudou as grandes manifestações anticomunistas do Verão de 1989 na
Hungria.
Assim,
Mandel escreve: «Nesta semana, um milhão de pessoas manifestou-se,
em Budapeste, para prestar homenagem à memória do camarada Imre
Nagy, líder comunista do governo dessa revolução que foi fuzilada
pelos stalinistas».38 (Entre parênteses, a imprensa fascista também
saudou a memória de Nagy, esse eminente nacionalista executado pelos
stalinistas…). Mais adiante, o mesmo jornal trotskista afirma:
«Imre Nagy pagou com a vida a sua acção corajosa ao lado dos
conselhos de operários da grande Budapeste. Estes conselhos exigiam
a democracia no quadro do socialismo.»No livro A URSS e a
Contra-Revolução de Veludo dedicámos um capítulo à análise da
contra-revolução de 1956 na Hungria.
Com
o Solidarnosc, o «poder operário»
Na
Polónia, o Solidarnosc foi apresentado pelos trotskistas como uma
organização empenhada na luta contra a burocracia stalinista e pelo
socialismo proletário! A IV Internacional escreveu em 1981: «Cada
vez mais, o Solidarnosc funciona objectivamente, pelo menos a nível
local e regional, como um órgão de duplo poder; a revolução
política antiburocrática já começou, de facto, na Polónia. A
experiência polaca ilustra o conteúdo proletário revolucionário
das reivindicações democráticas e nacionais nos estados operários
burocratizados.» Ainda em 1981, os trotskistas queixaram-se de que o
Solidarnosc não queria tomar o poder, apesar de representar uma
alternativa, o poder dos trabalhadores. «As pessoas estão
desarmadas pela incapacidade de Solidarnosc de tomar o poder. (...)
Seria particularmente trágico neste momento que o ódio do
totalitarismo pudesse servir para desarmar os trabalhadores
confrontados com a ditadura totalitária. Surgiu um poder contra o
Estado: o poder dos trabalhadores polacos.» E quando em 1989, com o
apoio de Reagan, Bush, Thatcher e de todos os serviços de secretos
ocidentais, o Solidarnosc se preparava para tomar o poder, Mandel
ainda não mudara de opinião sobre a natureza do Solidarnosc, e
afirma: «A legalização do Solidarnosc é uma vitória para a
classe operária.»
Com
a CIA na Checoslováquia
Em
1990, na Checoslováquia, o conhecido colaborador da Rádio Europa
Livre e da CIA, Vaclav Havel, toma o poder. Ele nomeará o trotskista
Peter Uhl como director da agência de imprensa checoslovaca e
porta-voz oficial do novo Estado burguês pró-norteamericano! Uhl
escreve então: «Pode-se discutir em que medida a teoria de Trótski
sobre a revolução política se justificou. Eu penso que é na
Checoslováquia que a realidade se aproxima mais desta teoria». Em
12 de Novembro, Mandel desenvolve o mesmo raciocínio, levando-o até
ao absurdo (ou ao sórdido, como queiram). Compara a contra-revolução
checoslovaca… com a Grande Revolução de Outubro! No seu
relatório, os trotskistas escrevem: «Mais brilhante que nunca, o
nosso camarada Ernest Mandel reafirma que não há nenhuma dúvida: o
que nós vivemos agora na Checoslováquia e na RDA é uma verdadeira
revolução, com uma magnitude e uma profundidade sem precedentes
desde a revolução russa de 1917».
Peter
Uhl fez também uma excelente descrição da «revolução política»
na Checoslováquia, enquanto revolução anticomunista, levada a cabo
por uma frente de todas as forças reaccionárias: «Havia quem visse
na Carta 77 um passo na direcção da revolução política. É o meu
caso. Outros viam nela um meio para propagar a palavra de Cristo. Foi
um verdadeiro laboratório de tolerância.» «Desde que se diga que
somos contra o “comunismo”, contra o stalinismo, contra a
burocracia, toda a gente está de acordo». Bela descrição esta da
frente que reagrupava os clérico-fascistas, os nacionalistas
reaccionários, os sociais-democratas, os agentes da Rádio Europa
Livre e os três trotskistas de serviço.
Acrescentemos
que os trotskistas nos ensinaram, em 1989, que «a história da
Checoslováquia realizou uma vingança estrondosa: Dubcek foi
reabilitado». Ainda que os verdadeiros comunistas possam divergir de
opinião, quando se trata de apurar se a intervenção soviética de
1968 foi ou não justificada, são unânimes em considerar a
«Primavera de Praga» como uma contra-revolução de tipo
social-democrata. Em A URSS e a Contra-Revolução de Veludo
consagrámos um capítulo à Checoslováquia entre 1969 e 1989. A
relação entre as ideias sociais-democratas de Dubcek em 1969 e as
da «revolução de veludo» de Havel-Uhl é aí analisada. Também
comentamos os pontos de vista de Castro, que apoiou a intervenção,
e de Mao, que a condenou.
A
revolução proletária na RDA!
A
partir de Setembro de 1989, a burguesia revanchista da República
Federal Alemã apoiou com enormes recursos financeiros, com as suas
estações de televisão e de rádio, a agitação anticomunista na
RDA. O grupo de Mandel alega que «começou uma verdadeira revolução
política».
Duas
semanas depois, Mandel saúda a «revolução proletária» na RDA!
«O recrudescimento do movimento de massas que abalou a RDA tem a
magnitude de uma verdadeira revolução. Este movimento ultrapassa
tudo o que já se viu na Europa desde Maio de 1968, talvez mesmo
desde a revolução espanhola. O carácter proletário da revolução
que começou na RDA é demonstrado pela grande efervescência nas
fábricas». Um mês depois, em Dezembro de 1989, a excitação de
Mandel atinge o auge: «Estou realmente entusiasmado com tudo o que
acontece em Berlim. Tudo o que Rosa Luxemburg, Trótski e Lénine
sempre desejaram pode agora realizar-se. É a primeira revolução,
desde a revolução na Holanda no século XVI, que não está
ameaçada por uma intervenção militar estrangeira. Estamos perante
a primeira geração alemã, após cerca de 200 anos, que é
completamente antimilitarista e antinacionalista. O que estimula o
meu entusiasmo é a magnitude e a força excepcional deste movimento
popular. Dos 500 mil habitantes de Leipzig, 200 ou 300 mil saíram à
rua todas as segundas-feiras, durante oito semanas consecutivas. Na
Alemanha Oriental, a corrente anti-socialista é particularmente
fraca. Em sete mil slogans, nem sequer um por cento era
anti-socialista. Ninguém pode dizer se a próxima revolução irá
ter lugar na Rússia, França, África do Sul ou em Espanha, mas é
certo que as revoluções no Leste alemão e na Checoslováquia terão
repercussões».
Para
ilustrar o carácter «socialista» do movimento em curso, a IV
Internacional cita uma declaração… de um grupo social-democrata.
Ora, a social-democracia alemã é uma força de choque do
imperialismo alemão, poderosa, em crescimento e expansionista. A
estratégia e as tácticas utilizadas por Willy Brandt, para
infiltrar e influenciar, dividir e destruir o partido comunista da
RDA, tiveram um papel importante na degenerescência oportunista do
SED.
Eis
o texto citado pelos trotskistas: «A democratização necessária da
RDA pressupõe a contestação do monopólio do poder e da pretensão
à verdade do partido dominante. Para nós, a formação de um
partido social-democrata é muito importante. São nossas orientações
programáticas: Estado de direito; democracia parlamentar e
multipartidarismo; economia social de mercado com uma rigorosa
proibição dos monopólios; liberdade de criação de sindicatos
independentes.» Deste modo, os trotskistas chegaram ao ponto de
apresentar, como ilustração do carácter «proletário» da
«revolução política» em curso, um programa que propugna
abertamente o regime burguês... Apesar de Mandel afirmar que menos
de um por cento dos slogans era contra o socialismo!
A
Glasnost e o multipartidarismo contra os «stalinistas»
Mandel
definiu três critérios para distinguir os partidários do
«stalinismo» das forças favoráveis ao rumo para o «socialismo
democrático e autogestionário»: a atitude em relação à glasnost
de Gorbatchov, ao partido comunista e à repressão na praça Tien An
Men.
Viva
a glasnost
«Definimos
a glasnost como o processo de mudanças políticas que alargam o
campo de exercício das liberdades democráticas», escreveu Mandel.
No livro A URSS e a Contra-Revolução do Veludo reservámos um
capítulo inteiro para demonstrar que os cinco anos da glasnost
prepararam de forma sistemática os espíritos para a restauração
do capitalismo integral; que a glasnost ressuscitou os ideais da
grande burguesia russa de 1917; que a glasnost deu a palavra a todos
os anticomunistas, a agentes da CIA como William Colby, seu antigo
director, ou ao reverendo Moon, aos adeptos do tsarismo e da Igreja
Ortodoxa tsarista, a antigos colaboradores nazis, aos homens de
Vlássov e de Bandera.
Mandel
falaria das «liberdades democráticas» em geral, sem carácter de
classe, no momento em que Gorbatchov dava liberdade a todos os
contra-revolucionários que queriam enterrar definitivamente as
últimas estruturas e influências socialistas. A ideia mais
elementar do leninismo é que o socialismo é uma ditadura de classe,
que une os trabalhadores contra as forças da burguesia, contra as
forças da exploração. «Reconhecemos que toda a liberdade»,
afirma Lénine, «se ela não se subordina aos interesses da
libertação do trabalho do jugo do capital, é um logro».
Abaixo
o partido único!
A
glasnost deu a palavra a todas as correntes anticomunistas, e
permitiu também que todas as forças capitalistas e
pró-imperialistas se organizassem e lutassem abertamente pela
restauração. Em 1989, Mandel aclamou a organização de partidos
anticomunistas e contra-revolucionários na URSS. «O início de
eleições autênticas, que se verifica hoje na URSS, é um grande
passo em frente. Mas é preciso que haja eleições realmente livres,
com liberdade para constituir tendências, fracções e partidos
diversos, sem restrições ideológicas.»
Entre
1989 e 1990, Mandel assistiu à realização do seu maior sonho: a
legalização «de partidos diversos, sem restrições ideológicas»;
e a nova burguesia soviética manifestouse através dos partidos
sociais-democratas, liberais, democratas-cristãos,
nacionalistastsaristas, etc. Este pluralismo burguês marcou a
liquidação final do socialismo e a restauração completa do
capitalismo. Hoje, a prática da luta de classes mostrou o carácter
e a natureza desta reivindicação principal fundamental dos
trotskistas,
formulada
desde 1979. No seu IX Congresso Mundial, o grupo de Mandel aprovou
uma resolução que «reinventa», quase palavra por palavra, as
teses anticomunistas do renegado Kautsky, contra as quais Lénine
lançou a sua célebre polémica. Deste modo, comprova-se, mais uma
vez, a verdade muitas vezes repetida pelo partido bolchevique e pelo
camarada Stáline: O trotskismo é a social-democracia de direita,
adornada com um fraseado de «esquerda». No capítulo «Partido
único ou pluripartidarismo», Mandel afirma: «Se dissermos que só
os partidos e organizações que não tenham programas burgueses (e
pequeno-burgueses?) podem ser legalizados, onde é que iremos traçar
a linha de demarcação? Os partidos cujos membros sejam
maioritariamente oriundos da classe operária, mas que ao mesmo tempo
tenham uma ideologia burguesa, deverão ser proibidos? Qual é a
linha de demarcação entre um “programa burguês” e a “ideologia
reformista”? Devemos desde logo proibir igualmente os partidos
reformistas? Iremos suprimir a social-democracia? (…) Nenhuma
democracia operária autêntica será possível sem a liberdade de
constituir um sistema multipartidário.»
Sim,
é verdade que Lénine proibiu os partidos sociais-democratas, isto
é, os mencheviques e os socialistas-revolucionários. Isto porque,
na guerra civil, eles combateram ao lado do tsarismo, da burguesia e
das forças intervencionistas; e porque foram esmagados juntamente
com as forças feudais e burguesas. Lénine sublinhou várias
vezes
que um representante inteligente da grande burguesia, como Miliukov,
compreendia perfeitamente que, numa primeira fase, só um partido de
«esquerda», social-democrata, teria possibilidades de arrastar as
massas para a luta antibolchevique. É por isso que Miliukov
contentar-se-ia com mera legalização de um partido
socialdemocrata...
«Não
reprimir a contra-revolução!»
O
trotskismo nunca perde de vista o seu único inimigo: o
marxismo-leninismo e o movimento comunista internacional. Assim,
negando galhardamente o perigo de uma restauração, Mandel concentra
os seus ataques contra aqueles que denunciam os processos
contra-revolucionários em curso e que enfrentam efectivamente a
contrarevolução em marcha.
Ao
longo de 1989, duas tendências políticas ousaram enfrentar a
contra-revolução em ascensão. Em primeiro lugar, na Europa de
Leste, forças com orientações oportunistas desde há muitos anos,
do tipo khruchovianas, que praticaram o seguidismo em relação à
União Soviética e se deram conta das intenções reais de
Gorbatchov. Em segundo lugar, o Partido Comunista da China, que
reprimiu a revolta anti-socialista em Pequim.
Para
acelerar o processo de restauração na União Soviética, Gorbatchov
deu deliberadamente luz verde a todas as forças anticomunistas na
Europa de Leste. Levando a glasnost à sua conclusão lógica,
Gorbatchov queria impedir que os autênticos comunistas dos países
do Leste e da União Soviética pudessem formar uma frente
antirestauracionista. Ao mesmo tempo, a restauração integral do
capitalismo na Europa de Leste deveria encorajar e ajudar os
«reformadores» da URSS.
Numa
altura em que a restauração estava praticamente terminada na
Polónia e na Hungria, Mandel afirma: «A Europa de Leste está a ser
actualmente abalada por uma crise sem precedentes desde o fim da
Segunda Guerra Mundial. Ao contrário do que uma análise superficial
poderia fazer crer, a burguesia europeia não vê com bons olhos esta
desestabilização. Ela não tem a esperança de recuperar o
capitalismo na Europa de Leste». Um ano mais tarde, a afirmação de
que o imperialismo não tem a esperança de recuperar os países de
Leste seria suficiente para qualificar Mandel como o bobo da
contra-revolução. Procurou justificar assim a sua ajuda a todas as
forças anti-socialistas que se lançavam no assalto contra a
«burocracia». Ao mesmo tempo, Mandel minava toda a vigilância em
relação à nova burguesia e ao imperialismo.
Em
contrapartida, Mandel mantinha uma vigilância cerrada em relação
às fracas forças comunistas que tentavam resistir à ofensiva da
burguesia! «Assistimos à coordenação de uma espécie de “frente
internacional” anti-gorbatchoviana, que inclui os chamados
“conservadores” na Roménia, na Checoslováquia, na Alemanha de
Leste, as minorias neo-stalinistas na Polónia e na Hungria.»
Em
Abril de 1989, Mandel saúda os notórios progressos na Polónia e na
Hungria da restauração burguesa, designada «experiência
pluralista». Havel é o seu herói e os opositores à restauração
são os seus inimigos obstinados. «Num momento em que na Polónia e
na Hungria têm lugar experiências de pluralismo, a direcção de
Praga reafirma o princípio do “papel dirigente do partido” (…)
A imprensa da Alemanha de Leste continua a apoiar a repressão na
Checoslováquia e pressiona para a constituição do eixo
Praga-Berlim-Bucareste contra a perestroika. O Neues Deutschland
descreveu Havel como um provocador». «Enviem mensagens de
solidariedade a Vaclav Havel naprisão». Para os trotskistas, toda a
repressão das forças anti-socialistas, todas as prisões de agentes
subversivos ao serviço da CIA, como Havel, é um crime monstruoso.
Em
Maio de 1989, os estudantes anticomunistas de Pequim aclamaram
Gorbatchov com gritos de «Viva a glasnost e a perestroika» e «Viva
o Solidarnosc». Quando o motim contra-revolucionário de 4 de Junho
de 1989 foi reprimido, Mandel juntou-se à extremadireita
internacional, dirigida na ocasião pelo Kuomintang, partido fascista
reinante em Taiwan. Numa primeira reacção aos acontecimentos de
Pequim, o grupo de Mandel escreveu: «A casta burocrática não recua
perante os crimes mais repugnantes. Esta lição da história já foi
escrita com sangue nos muros de Berlim em 1953, em Praga em 1968, em
Gdansk em 1970 e em Varsóvia em 1981. A dimensão dos horrores em
Pequim só pode ser comparada com a forma como a revolução húngara
foi esmagada em 1956. (…) Os verdugos de Pequim ainda não ganharam
a batalha. Hesitaram demasiado tempo! Hoje, o povo chinês
revolta-se. A insurreição alastra através do país. O exército
desmorona-se, há a ameaça de uma verdadeira guerra civil». Tal
como os fascistas de Taiwan, os trotskistas esperavam ver
desenvolver-se na China uma «verdadeira guerra civil» contra a
«classe burocrática». Mais tarde, o próprio Mandel produziu uma
análise «teórica» em que afirma: «A comuna (!) de Pequim de
Abril-Maio de 1989 foi o início de uma revolução política
autêntica que tentou substituir o poder corrupto e ineficaz de uma
clique de déspotas burocratas pelo verdadeiro poder das massas
populares. (…) As massas que se insurgiram em Pequim não tinham
nenhum interesse em restaurar o capitalismo. Também não tinham a
intenção de o fazer».
Felizmente
que os trotskistas não foram os únicos a salvar a honra, como logo
se apressaram a declarar: «Só a ala esquerda do Partido Comunista
da URSS salvou a honra do comunismo». «Sentimo-nos orgulhosos de
estarmos hoje ombro a ombro com outros comunistas no nosso protesto
contra a repressão sangrenta na China. A primeira reacção foi de
Boris Iéltsine. “O que está a acontecer na China é um crime”,
declarou este membro do Soviete Supremo recentemente eleito.» Eis
pois Mandel de novo orgulhoso por estar na companhia de Iéltsine.
No
ensaio «Tien An Men 1989: da deriva revisionista ao levantamento
contrarevolucionário» fornecemos provas sobre o verdadeiro carácter
do movimento de Pequim. Fang Li-Zhi, o pai espiritual incontestável
do «protesto» estudantil de Pequim, declarou em 17 de Janeiro de
1989: «O socialismo, na sua mistura Lénine-Stáline-Mao, foi
completamente desacreditado. Será que uma economia livre pode ser
compatível com a forma especificamente chinesa de governo
ditatorial? A ditadura socialista está intimamente ligada a um
sistema de propriedade colectiva e a sua ideologia é contrária ao
tipo de direito de propriedade requerido por uma economia livre.»
Três dos principais dirigentes do movimento de Pequim, Yan Jiaqi,
Wuer Kiaxi e Wang Runnan, refugiaram-se em França e criaram a
Federação para a Democracia. No seu programa definem como
objectivo: «Desenvolver uma economia de iniciativa privada e pôr
fim à ditadura do partido único». Em nome do multipartidarismo, os
três juntaram-se ao partido fascista de Tawain, o Kuomintang. Wuer
Kiaxi, que teve grande destaque na imprensa trotskista, encontrou-se
em 29 de Janeiro de 1990, na República Popular da China, com o chefe
da espionagem taiwanesa, John Chang, a quem afirmou: «O diálogo
entre os chineses anticomunistas é o primeiro passo para a unidade».
Yan Jiaqi e Wang Runnan também estiveram em Taiwan. Yan declarou: «O
facto de Taiwan ter um governo democrático é para nós importante.
Parece-me que esta é a base fundamental para a unificação de
Taiwan e da China continental». Yueh Wu, o líder do dito «Sindicato
Operário Independente», tão caro aos trotskistas, chegou a Taiwan
em 16 de Junho de 1990, a convite da... Liga Mundial Anticomunista.
Assim,
no seu intuito de distinguir os stalinistas, que defendem os
princípios do marxismo-leninismo, dos partidários do «socialismo
multipartidário», Mandel definiu um terceiro critério: «Outro
indicador é a atitude em relação à repressão sangrenta da Comuna
de Pequim. No campo daqueles que condenaram os massacres da Praça
Tien An Men estão quase todos os partidos favoráveis à glasnost.
Os
«stalinistas» de Pyongyang até Havana
Em
Outubro de 1989, Mandel classificou como forças «stalinistas» os
partidos comunistas da China, da República Democrática Alemã, do
Vietname, da Roménia, da Checoslováquia, da Bulgária, do Japão,
da Índia (PCI-marxista), da Coreia do Norte, da Albânia, de
Portugal, os grupos que designou como pró-albaneses e maoístas, e
também o Partido Comunista Cubano.
Quando
afirma que «o partido comunista cubano ocupa uma posição à
parte», Mandel refere-se à sua táctica particular em relação a
Cuba com vista à destruição do partido comunista. Isto ressalta
claramente ao desenvolver a seguinte tese: «Os ataques de Fidel
Castro e da direcção cubana contra a glasnost, ou seja, contra o
processo de democratização parcial em curso na URSS, são
contrários aos interesses do proletariado soviético, aos do
proletariado mundial e aos da revolução cubana. Eles ameaçam
provocar uma grave crise de legitimidade da direcção cubana perante
uma parte das massas, sobretudo dos jovens». «Os entraves à
liberdade de pensamento multiplicam-se em Cuba». O partido comunista
«substitui» as massas. «Esta penosa regressão ideológica é, a
longo prazo, suicidária». Castro não pode lutar eficazmente contra
«a degenerescência burocrática do Estado cubano» porque «rejeita
a glasnost, a democratização pluralista, o controlo
institucionalizado pelas massas». «Assim não lhe resta senão a
luta burocrática contra a burocracia. É caminhar para um fracasso
certo, como já vimos na URSS e na República Popular da China».
Isto mostra bem que o ódio dos trotskistas ao «regime burocrático
de partido único» atinge também o «partido único cubano». Se a
abordagem táctica é diferente, é porque os trotskistas consideram
que assim serão mais eficazes a destruir o movimento comunista na
América do Sul, infiltrando o Partido Comunista Cubano e os partidos
próximos de Cuba. Isto já aconteceu em resultado do trabalho
destrutivo realizado durante dez anos por estes anticomunistas no
interior da Frente Sandinista. Agora esperam poder aproximar-se da
ala «progressista, antiburocrática e reformista» do Partido
Comunista Cubano. Têm a esperança de que o longo convívio dos
cubanos com os soviéticos possa ter sido suficiente para formar
partidários da glasnost e do multipartidarismo.
Entretanto
tivemos oportunidade de verificar na Europa de Leste e na União
Soviética no que resultaram os judiciosos conselhos de Mandel:
triunfo da contra-revolução, restabelecimento integral do
capitalismo, ressurgimento do fascismo e do nacionalismo
reaccionário, um capitalismo selvagem, onde super-ricos passam ao
lado de uma massa de milhões de pessoas lançadas na miséria
desumana e na guerra civil. Não duvidamos de que o Partido Comunista
Cubano tomará as medidas que se impõem para impedir a infiltração
destes contra-revolucionários e anticomunistas profissionais.
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