Revejo
tudo e redigo
meu
camarada e amigo.
Meu
irmão suando pão
sem
casa mas com razão.
Revejo
e redigo
meu camarada e
amigo
As canções
que trago prenhas
de
ternura pelos outros
saem
das minhas entranhas
como
um rebanho de potros.
Tudo
vai roendo a erva
daninha
que me entrelaça:
canção
não pode ser serva
homem
não pode ser caça
e a
poesia tem de ser
como um
cavalo que passa.
É
por dentro desta selva
desta
raiva deste grito
desta
toada que vem
dos pulmões
do infinito
que em todos
vejo ninguém
revejo tudo
e redigo:
Meu camarada e
amigo.
Sei bem as mós
que moendo
pouco a pouco
trituraram
os ossos que
estão doendo
àqueles
que não falaram.
Calculo
até os moinhos
puxados a
ódio e sal
que a par dos
monstros marinhos
vão
movendo Portugal
— mas
um poeta só fala
por
sofrimento total!
Por
isso calo e sobejo
eu que
só tenho o que fiz
dando
tudo mas à toa:
Amigos
no Alentejo
alguns que
estão em Paris
muitos
que são de Lisboa.
Aonde
me não revejo
é que eu
sofro o meu país.
José Carlos Ary dos Santos
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