«O
latifúndio no Brasil renovou-se e, hoje, administra um moderno
sistema chamado agronegócio
que controla terras e produção. Dados recolhidos no censo
agropecuário de 2006 indicavam que o
produto de 3,35% dessas unidades (todas acima dos 2500 hectares de
extensão)
corresponde a 61,57% do total obtido. No outro extremo, as herdades
com menos de 100 hectares ocupavam 55,53% das terras aráveis»
(Inácio
Werner, quadro técnico católico, coordenador de projectos do Centro
Burnier Justiça
e Fé).
«A
experiência do agronegócio
brasileiro testemunha um novo
colonialismo transnacional. Há
grupos dominantes brasileiros em todos os países
latino-americanos... Por exemplo, na
Argentina, desde 2001 que um sem número
de operações financeiras, fusões e aquisições, desloca 'activos'
da burguesia nacional para a burguesia brasileira. Pode citar-se
muitos exemplos: a aquisição da Pecom
Energia pela
Petrobrás;
a compra da Quimes
Alimentos e Bebidas pela
Ambev;
a absorção da Loma
Negra (cimenteira
produtora de metade do cimento argentino) pela Camargo
Correia,
etc., etc. Alguns exemplos de negócios, de entre centenas de outros
deste tipo...»(Frederico
Dala Firmino,
«O
novo colonialismo transnacional, 2010»).
«O
Brasil bate todos os recordes na produção e exportação de
alimentos. Mas o Brasil é hoje uma colónia americana e uma
plataforma de exportação das transnacionais. A lição histórica
mais importante que devemos retirar, do ponto de vista económico,
político, social e cultural, é que se torna urgente romper, de vez,
com o sistema capitalista e imperialista!» (Illaese/Goggle).
Digamos
claramente: acabou-se a comédia do papa velho que dá lugar a um
novo papa… Um folclore já visto. Falemos em...coisas
sérias!
São
conhecidas as dificuldades em que o capitalismo mundial se enredou.
Um dos grandes problemas que se coloca aos banqueiros (se não o
principal) consiste em constatarem que no sistema capitalista o
dinheiro abunda mas a máquina da economia não produz. A
continuar-se nesta situação, a derrocada final verificar-se-á
dentro de muito pouco tempo. Por isso, um pouco por toda a parte, os
novos e velhos ricos tentam imaginar formas para contornarem as
dificuldades.
É
o caso dos países da América do Sul, nomeadamente do Brasil, o seu
Estado com maior superfície, o mais povoado, o mais rico em
diversidade de matérias-primas; onde o fosso entre pobres e ricos é
mais profundo, o sentimento religioso mais acentuado e a noção de
unidade nacional e de pátria continuam bem vivas. Por outro lado,
nunca sucessivas tiranias, a corrupção generalizada ou a vizinhança
avassaladora do gigante norte-americano foram capazes de asfixiar o
sonho popular de um futuro socialista. O Brasil é um espelho de
contradições mas reflecte também as realidades da América Latina.
É
num quadro tão mal esboçado aqui, mas real, que a internacional
capitalista procura fazer avançar a sua tão desacreditada
globalização.
A fórmula Europa
está
esgotada. É preciso agora, para evitar o pior, reeditar o
colonialismo com uma encadernação atraente. Afinal, a crescente
riqueza do Estado brasileiro apenas se sustenta de uma parte mínima
das potencialidades do país. O que se impõe, de imediato, é
aumentar a exploração dos trabalhadores, acelerar o processo de
concentração de capitais, vender ao estrangeiro, ao desbarato,
«cortar» nas funções sociais do Estado e ter mão-de-ferro,
revestida de veludo, no partido comunista e nos sindicatos.
Num
panorama tão rígido é, sem dúvida, necessário recorrer às
formações mais qualificadas da Igreja católica. Onde há luta de
classes impõe-se que o capital se apoie na religião, o grande ópio
do povo. Até no discurso que serve para enganar as massas e nas
falsas promessas demagógicas, encontramos o maquiavelismo populista
do Vaticano e da sua Companhia de Jesus. Defendem, como se sabe, que
a pobreza é um mal necessário querido por Deus e que
bem-aventurados são os pobres. Anunciam depois que num Mundo
novo há
uma Nova
Igreja, sem
se deterem a explicar que mistério é esse da Igreja
dos pobres se
colocar ao serviço dos ricos no poder.
Pelo
que pudemos entender pelas informações que entretanto chegam, o
agronegócio
latino-americano
é uma espécie de manual da globalização
aplicado
à economia neoliberal. Indirectamente, recomenda normas quanto
à fome,
ao
desemprego,
à pobreza,
à
nova
escravidão,
etc.
Um
convite a uma nova leitura.
(Jornal
"Avante", Nº 2052, 28 de Março de 2013)
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