Se
é verdade que se diversificou e aprofundou a ofensiva do Governo, no
plano económico, social e político e contra a soberania nacional, o
que foi marcante foi a expressão do descontentamento e o nível e a
dimensão da luta dos trabalhadores, que atingiu o ponto mais alto na
manifestação de 18 de Outubro, onde participaram mais de 200 mil
pessoas num dia normal de trabalho.
Que importância e significado atribuis à Greve Geral de 30 de Março?
A
valorização qualitativa e quantitativa que fazemos da Greve Geral
de 30 de Maio não pode ser dissociada do quadro em que foi preparada
e realizada. Sendo uma necessidade para enfrentar a grave ofensiva em
curso, a possibilidade estava condicionada por diversos factores. Era
a primeira greve de confronto com um Governo PS. A precariedade, que
atinge 1 milhão e 200 mil trabalhadores, as pressões e a
intimidações nas empresas, em particular nos transportes,
condicionaram o exercício do direito à greve. Nestas
condições, a participação e envolvimento de 1 milhão e 400 mil
trabalhadores na Greve Geral (alguns com grande coragem) constituiu
um marco histórico da luta dos trabalhadores portugueses e do
movimento sindical unitário. Nalguns
casos, como no Metro e na Transtejo, os grevistas tiveram de lutar
pelo direito à greve face à atitude repressiva das administrações.
O facto de, apesar do sucesso da Greve Geral o Governo persistir na sua violenta ofensiva retira-lhe importância, como pretendem sectores inclinados ao compromisso e à abdicação?
Mais
do que sectores, só as organizações que quase sempre conciliaram e
capitularam em momento decisivos é que desvalorizaram a greve. Para
além dos mesmos do costume, teve significado a posição do BE a
criticar a decisão da Greve Geral, confundindo «greve geral» com
«greve total». Como, aliás, fez o Governo PS, na sua avaliação
mistificatória e desvalorizadora dos números de adesão à greve.
Quais
as mais importantes lições e experiências do desenvolvimento da
luta ao longo de 2007?
Há um aspecto que gostaria de relevar! É tão errado fazer a luta pela luta como ficar pela constatação de que não há condições para lutar. Uma outra questão é a de saber se só se decide a luta desde que se tenha a garantia, à partida, de adquirir resultados. A luta de resistência, o trazer o descontentamento e o protesto para o terreno da luta organizada liberta energias, eleva a consciência social e potencia a disponibilidade para outras lutas. Não são dissociáveis a luta de 2 e 28 de Março e a Greve Geral de 30 de Maio. Nem o impacto mobilizador da Greve Geral na manifestação de 18 de Outubro. A luta dos trabalhadores deu confiança a outros sectores e camadas sociais. Quem esteve na manifestação de 18 de Outubro não fez cálculos aos ganhos. Voltará a lutar no futuro. Porque resistir e lutar é já vencer!
Há um aspecto que gostaria de relevar! É tão errado fazer a luta pela luta como ficar pela constatação de que não há condições para lutar. Uma outra questão é a de saber se só se decide a luta desde que se tenha a garantia, à partida, de adquirir resultados. A luta de resistência, o trazer o descontentamento e o protesto para o terreno da luta organizada liberta energias, eleva a consciência social e potencia a disponibilidade para outras lutas. Não são dissociáveis a luta de 2 e 28 de Março e a Greve Geral de 30 de Maio. Nem o impacto mobilizador da Greve Geral na manifestação de 18 de Outubro. A luta dos trabalhadores deu confiança a outros sectores e camadas sociais. Quem esteve na manifestação de 18 de Outubro não fez cálculos aos ganhos. Voltará a lutar no futuro. Porque resistir e lutar é já vencer!
Como
vês a acção a partir da empresa e local de trabalho e o papel das
células de empresa do Partido?
A
empresa, o local de trabalho, é o lugar onde se dá o principal
conflito e confronto de classe. O patronato e o Governo têm noção
disso. Aí se forma a consciência do grau da exploração e da
injustiça, ou do que significa, no concreto, a aplicação de uma
lei laboral injusta. Aí se libertam energias, se alicerça a unidade
e se irradia a luta organizada, partindo do concreto para o geral. Os
comunistas eleitos pelos seus companheiros de trabalho nas empresas e
para os sindicatos têm uma particular responsabilidade na acção
unitária, na linha da frente da acção reivindicativa e da luta.
Mas tal acção não dispensa antes exige a organização e a
intervenção política das células de empresa. Dois graus de
intervenção e organização que fazem evoluir a consciência dos
trabalhadores sobre o seu papel na produção e na sociedade e a
necessidade de terem o seu Partido.
Estamos
em vésperas do Congresso da CGTP, que importância lhe atribuis? Que
resposta dão os comunistas às visíveis pressões para influenciar
os seus resultados?
Julgo
que o XI Congresso da CGTP vai constituir uma grande afirmação da
Central Sindical visando o seu fortalecimento. É um Congresso que
vem de grandes lutas, em si mesmo portadoras do prestígio e da
influência que a CGTP-IN mantém e alarga e que resulta do
empenhamento e acção desse grande e combativo colectivo unitário. Era
inevitável (sempre aconteceu em todos os Congressos da Central
Sindical) que as pressões, as inventonas e a intriga, promovidas de
uma forma articulada, procurassem ensombrar e dificultar o êxito do
Congresso. Os seus autores são os mesmos que profetizam o fim da
luta de classes, o fim ou a desnecessidade do sindicalismo de classe,
a mando do principal interessado e ganhador no aumento da exploração
dos trabalhadores e da liquidação dos seus direitos: o poder
económico. Se há coisa que mais receio provoca ao grande capital e
seus seguidores é a luta organizada, é a organização autónoma
dos trabalhadores e dos seus sindicatos, é a sua unidade! Temos uma
grande confiança que o Congresso saberá rechaçar essa ofensiva
ideológica e dele sairá mais forte, reafirmando-se como a Central
Sindical dos trabalhadores portugueses.
Um dado importantíssimo no ano que finda foi a irrupção das lutas das populações e a criação de comissões de utentes de norte a sul do país. Que importância atribuir-lhe na acção militante das organizações do Partido?
A
ofensiva do Governo não foi apenas contra os trabalhadores e os seus
direitos. Foi contra as populações, contra diversas camadas
sociais, privatizando, eliminando ou reduzindo serviços públicos e
as funções sociais do Estado, nomeadamente nas áreas da saúde,
educação, nos transportes, da justiça, da segurança, da água e
do saneamento. Atingidas
nos seus direitos, as populações reagiram, organizaram-se e
realizaram pequenas e grandes acções de luta, com o papel destacado
das Comissões de Utentes. Obrigaram muitas vezes o Governo a recuar
ou a adiar medidas. Resistir,
resistir e protestar é fundamental. O movimento devia alargar-se,
porque novas arremetidas estão em curso. Os militantes do Partido
devem estimular a sua criação, respeitar e animar a sua acção e
composição unitária.
A
ofensiva do Governo do PS ao serviço do grande capital atinge não
apenas o trabalho assalariado mas todas as outras classes e camadas
não monopolistas; que incidências na luta?
Se
mais uma vez se confirma que são os trabalhadores e as suas
organizações a força motora da luta, é verdade que classes e
camadas não monopolistas estão nela a participar.
Os
reformados, a juventude estudantil, os pequenos e médios
agricultores, as populações vão ganhando consciência da
importância do protesto e da luta. Que partindo dos seus interesses
e direitos concretos só por si não conseguem alterar o rumo da
política nacional. A manifestação de 18 de Outubro foi reflexo
dessa consciência. O desenvolvimento da luta, a sua convergência ou
confluência são alicerces de alianças sociais mais sólidas e mais
alargadas que podem determinar um novo rumo para a política
nacional.
Depois
de acções nacionais com uma dimensão de massas tão ampla, como
prosseguir no imediato a luta?
Intensificar
e diversificar a luta nas empresas, sectores e regiões. As lutas
grandes não surgem com um toque de varinha mágica. Neste fazer e
refazer permanente, a pequena luta, a acção de protesto enchem o
caudal da luta mais forte acertando a necessidade com a
possibilidade. Considero
que o próprio Congresso da CGTP-IN é um momento importante para dar
mais balanço, força e confiança à intensificação da luta no
futuro.
Situação social e política
Podes
fazer uma caracterização concentrada da política do Governo PS?
Este
Governo não faz só «mais do mesmo» quando comparado com Governo
anteriores e com as suas políticas de recuperação capitalista. A
diversidade e a profundidade das suas opções e medidas convergem
para a caracterização de uma ofensiva global no plano económico,
social, político e cultural e contra a própria soberania nacional.Nas
privatizações, na política fiscal, nas opções orçamentais, no
privilegiar da «economia de casino» e na sua financeirização, na
aplicação rígida e seguidista da malha apertada do Pacto de
Estabilidade e Crescimento, na acentuação das injustiças e
desigualdades sociais, no nível do desemprego e das precariedades,
na demolição dos serviços públicos e funções sociais do Estado
com vista à sua privatização, na claudicação da defesa da
soberania como se verifica no Tratado «reformador» da União
Europeia, este Governo PS/Sócrates está a fazer o que a direita
política faria. Temos como tese que atacada a democracia nas suas
vertentes social, económica e cultural, depressa se passa para o
ataque à democracia política. As acções repressivas e
intimidatórias contra a liberdade sindical, de manifestação e de
propaganda começam a banalizar-se. Não são dissociáveis as
tentativas de alterar as leis eleitorais para fragilizar o regime
democrático.
A
gravidade da situação e o desenvolvimento da luta parecem estar a
suscitar preocupações na área do próprio PS, a verdade porém é
que se limitam às consequências de uma política que não só não
põem em causa, como procuram justificar...
Pois!
Vozes críticas mas «com mão por cima e mão por baixo» do
Governo. São «válvulas de escape» e «gritos de alma» que visam
confortar muitos eleitores do PS descontentes com a política do
Governo. O essencial das declarações são mais de preocupação
face ao crescendo da luta e às consequências que podem ter para o
PS do que de condenação da política que está a ser realizada.
E certas vozes que vêem da Igreja?
Acho
que a hierarquia da Igreja (salvo esta ou aquela opinião publicada)
está aquém do sentimento e do descontentamento de muitos católicos
atingidos nos seus direitos por esta política do Governo. O próprio
papel da JOC e da LOC tem vindo a esmorecer em torno das grandes
causas sociais.
E
quanto ao Bloco de Esquerda, que parece pretender afirmar-se (ver as
suas posições em relação à União Europeia, à CM de Lisboa ou à
questão sindical) como uma espécie de «ala esquerda» da
social-democracia perante um PS rendido ao neoliberalismo e
estruturalmente comprometido com o grande capital e com o
imperialismo?
Sem
julgamentos definitivos, a maior dificuldade para caracterizar o
Bloco de Esquerda reside na sua ideologia opaca, à banalização de
posições e opiniões diferentes e divergentes entre os seus
dirigentes, muitas vezes por razões de conveniência. Por exemplo,
em relação ao projecto de Tratado da União Europeia está sempre
ausente na sua crítica a concepção federalista. E a declaração
recente do seu deputado europeu, em que afirma a dívida de gratidão
a Mário Soares por ter levado Portugal à adesão à CEE «mesmo com
objectivo de acabar com as veleidades revolucionárias» (!?), é
paradigmática. É
condenável querer ser a ala esquerda da social democracia? Em si
mesmo não! Agora querer ser sem querer parecer...
Em relação ao PSD e à direita em geral, como vês tanto as suas dificuldades como as suas ambições perante um Governo que vai ainda mais além do que a direita poderia na realização das políticas de direita?
O
PSD não tem política alternativa nem sequer é alternância, porque
o Governo PS em questões económicas e sociais estratégicas dá
mais garantias ao poder económico que não teve pruridos em «mudar
de cavalo». Aliás, verifica-se que a actual direcção do PSD vai
propondo pactos e mais pactos e largando o lastro de causas e
bandeiras que podiam estorvar o PS. É
difícil fazer oposição à política que fariam se estivessem no
poder. E mais difícil se torna face ao aperto imposto pela direita
económica e pelos círculos presidenciais.
E que dizer da cooperação «estratégica» do PS com o PSD e o Presidente da República para impor políticas e (contra) «reformas» extremamente graves para o povo e o país?
Vai
na mesma linha! O actual Presidente da República sabe diferenciar o
que é táctico e estratégico, o que é essencial e o que é
acessório. Dá um ou outro sinal de preocupação social, manda
fiscalizar uma ou outra Lei não estruturante, mas incentiva e
aplaude políticas e medidas de fundo que servem os interesses e
privilégios do grande capital e afrontam os direitos sociais. Quer
que o PS vá até ao fim, ou até poder, na execução das políticas
de direita sob o chapéu da «esquerda moderna» que,
subjectivamente, condiciona e neutraliza muitos votantes do PS,
particularmente trabalhadores!
Há
alternativa
O
grande capital, servindo-se do PS e do PSD, pretende eternizar o
sistema de «alternância» e impedir a ruptura com mais de trinta
anos de políticas de direita. O silenciamento das lutas e da
actividade do PCP é brutal, como ainda agora se viu em relação à
Conferência Nacional do PCP sobre as questões económicas e
sociais. Queres comentar?
É
sabido que actualmente, com o agravamento da situação, são cada
vez mais numerosos os portugueses que condenam esta política. Mas
subsiste uma questão primeira que está na cabeça das pessoas: a
política alternativa. O PS e a direita e os poderosos meios de
comunicação social a «toque de caixa» do grande capital,
exercitam ideologicamente as teses das inevitabilidades e do
conformismo conducente à ideia de que não há saída.
O
PCP demonstra que há. Por
exemplo, a Conferência Nacional não se limitou a uma profunda e
rigorosa análise da situação. Fundamentou a necessidade da ruptura
democrática com esta política e apresentou propostas para um novo
rumo para Portugal, desmontando a tese das inevitabilidades. O poder
económico não «brinca em serviço». Se não pode impedir manda
silenciar. Aliás, em todo o processo de preparação e debate foi
visível o silenciamento ou a imagem e mensagem distorcidas dos
conteúdos e objectivos da Conferência, particularmente das nossas
propostas.
Os
ataques a direitos e liberdades fundamentais estão a adquirir uma
dimensão inquietante. Surgiu o Movimento «Fronteiras». Como vê o
Partido esta questão?
Sempre
afirmámos o carácter inseparável das diversas vertentes do regime
democrático. Se existe uma violenta ofensiva contra a democracia
social e a democracia económica a que os trabalhadores e as
populações reagem com luta, o poder económico e o poder político
recorrem à repressão, à intimidação e à limitação da
liberdade e dos direitos individuais e colectivos. Repare-se que é
nas empresas, nos locais de trabalho - e quando se exercem direitos
como a greve e a manifestação de protesto - que recai e se acentua
o principal ataque a direitos e liberdades fundamentais. A
arrogância e o autoritarismo do executivo de Sócrates constituem
prova de fraqueza, mas começa a ser realmente inquietante. Veja-se o
exemplo do debate na Assembleia da República promovido pelo PCP
sobre direitos e liberdades fundamentais, que levou a Plenário
dezenas de facto irrefutáveis. O Governo não só não desmentiu
como enveredou pelo anticomunismo mais trauliteiro e requentado. É
neste quadro inquietante que se reclama um rebate das consciências
democráticas. O Movimento «Fronteiras» surge assim como uma
necessidade que convoca todos aqueles que, independentemente desta ou
daquela divergência, não aceitam que a liberdade e a democracia
sejam empobrecidas ou mutiladas.
E quanto ao branqueamento do fascismo e ao apagamento do papel do PCP na Resistência e no pós- 25 de Abril ?
Essa
operação ideológica de «resgate» do fascismo, e consequente
tentativa de apagamento ou mistificação do papel do PCP na luta de
resistência ao regime fascista e à sua acção e luta de construção
do regime democrático depois de Abril, mais do que o esforço
saudosista vai na linha do anticomunismo que se manifesta em
particular nalguns países da Europa e corresponde à tentativa de
arredar a força política que dá combate sem tréguas aos
poderosos, que sempre defendeu e defende os direitos sociais e
democráticos, que não se cansou nem cansa de lutar pela emancipação
do ser humano. Procurando
reescrever a história as classes dominantes e os seus seguidores
querem negar a validade e a actualidade do papel e do projecto do
PCP.
Voltando
à Conferência Nacional, pedimos-te que faças uma breve síntese
daquilo que nela é essencial e o que ela representa na luta do PCP
por uma alternativa no interesse dos trabalhadores e do povo.
A
riqueza da sua preparação, nível da participação, conteúdos e
conclusões da Conferência Nacional do PCP não são comportáveis
numa resposta singela nem mesmo com esforço de síntese. Mas
há uma ideia força! Portugal não está condenado a ser um país
onde prevaleça a injustiça e o atraso. A
resolução dos problemas nacionais exige uma mudança real nos
objectivos e conteúdos da política nacional, uma política de
efectiva confiança em Portugal e no povo português, assente na
dinamização da economia, num sustentado crescimento económico e na
valorização do trabalho e dos salários. Uma
política que assuma a ruptura com as orientações e opções
dominantes, prosseguidas por este e por outros governos anteriores,
uma ruptura que, no respeito pela Constituição e no cumprimento dos
princípios fundamentais nela consagrados, assegure uma política
liberta dos interesses e orientações do capital monopolista e
financeiro, a recuperação pelo Estado das suas responsabilidades
económicas e sociais, a soberania e a independência nacionais como
valores fundamentais para a defesa dos interesses do país.
Na luta por uma alternativa política que ponha em prática a política alternativa que defendemos, em que questões devemos concentrar a nossa acção, quais as traves mestras da sua construção?
Já
com metade do mandato ultrapassado, o Governo PS fez uma opção
classista, substituindo a direita nas políticas mais gravosas para
os trabalhadores, para o povo e para o país. É à luz desta análise
que as condições para uma alternativa de esquerda não estão
criadas neste momento. Mas não nos limitamos à constatação.
Lembrando as teses emanadas do XVII Congresso, a alternativa política
constrói-se na base da luta por uma política alternativa,
acumulando forças, alargando a frente social de massas, convocando
sectores democráticos num processo dialéctico do «como, para quê
e com quem». A
Conferência Nacional apresentou a matriz de uma política
alternativa, tendo como perspectiva e referência o projecto do PCP,
a sua proposta programática de uma democracia avançada e de uma
sociedade socialista. Continua
a haver a necessidade de uma alternativa política de esquerda. Mas,
para tal, são condições determinantes para a sua concretização,
o alargamento da influência social, política e eleitoral do PCP,
acompanhadas pelo desenvolvimento e articulação da luta de massas e
de movimentos sociais que, partindo de aspirações e objectivos
concretos, exijam uma nova política, uma política de esquerda.
Procurando a convergência, a unidade, a cooperação das forças
democráticas, tal concepção é inseparável do firme combate e
denúncia à política de direita do PS. Mas
a arquitectura e condições para a construção de uma alternativa
política de esquerda têm de integrar dois aspectos cruciais:
-A
ampliação de uma vasta frente social de oposição e luta contra a
política de direita.
-
O reforço do PCP junto dos trabalhadores e das massas populares, a
afirmação do seu projecto, dos seus valores, vencendo preconceitos;
o reforço da sua intervenção e organização, estabelecendo
laços mais fortes com a classe operária e os trabalhadores, com os
agricultores, os intelectuais e quadros técnicos, com todos os que
sofrem hoje as consequências da política de direita, com todos os
que têm como desígnio a justiça social, o progresso e a
democracia.
Situação internacional
Como
caracterizas, de modo concentrado, a situação internacional actual?
A
evolução da situação internacional confirma uma tese central
decorrente do nosso XVII Congresso: não diminuíram os perigos,
antes aumentaram devido à natureza insaciável e predadora do grande
capital contra os trabalhadores, os povos e o planeta. A
exploração, a liquidação de conquistas e direitos sociais assumem
uma grande envergadura com o desenvolvimento do militarismo e da
guerra, usurpando a soberania a muitos povos. Incapaz
de resolver as crises cíclicas, apesar da sua grande capacidade de
adaptação, o capitalismo está a chegar aos seus limites e pode
enveredar por aventuras de consequências terríveis para a
humanidade. Mas é com a consciência destes perigos que os
trabalhadores e os povos resistem, lutam e conquistam soberania e
avanços progressistas. Com sacrifícios tremendos, num combate
desigual contra o imperialismo e o neoliberalismo, alcançam vitórias
impensáveis.
No que respeita a Europa a situação é também contraditória. Por um lado, verifica-se uma retomada de lutas de trabalhadores que encerra um importante significado. Por outro, o processo de integração capitalista reforça-se institucionalmente com a assinatura do chamado «tratado reformador». Como avalia o PCP este novo tratado? E a questão da sua ratificação?
Assistimos
a um dos maiores embustes políticos, neste processo que culminou com
a assinatura do Tratado dito «reformador». A sua matriz é o
decalque da derrotada «Constituição Europeia». A sua natureza
neoliberal, federalista e militarista não se alterou. E não se
julgue que só o povo português e Portugal perderam. Os outros povos
europeus também perderam, na medida em que o directório das
decisões políticas está às ordens do grande capital e dos seus
interesses, não dos povos respectivos. Perdemos mais porque pesamos
menos. A cortina de fumo e o foguetório no processo até à
assinatura excluiu os povos do conhecimento dos seus conteúdos. Reafirmando
a frontal oposição ao Tratado, o PCP pronuncia-se pela exigência
de um referendo que dê a oportunidade ao povo português de se
pronunciar antes da sua ratificação e após um largo e aprofundado
debate nacional. O PCP fará mais que a sua parte.
O
que mostrou o Encontro de Partidos Comunistas e Operários de Minsk,
em que o 90.º aniversário da Revolução de Outubro foi o tema
central? Há futuro para o movimento comunista?
Uma
primeira nota: estiveram no Encontro de Minsk 72 partidos de 59
países de todos os continentes, o que em si mesmo desmente profetas
e profecias sobre e morte ou o declínio irreversível do movimento
comunista. Encontro realizado no quadro das comemorações dos 90
anos da Revolução de Outubro. Ali se demonstrou que há forças que
continuam a manter viva a chama de Outubro que não claudicaram na
luta pelo socialismo. Tal como o PCP, são muitos os partidos que
consideram ser possível uma nova sociedade mais justas e liberta do
jugo da exploração do homem por outro homem.
Como
vês a evolução da situação no Médio Oriente?
É
uma situação grave e perigosa que tem a marca das ambições do
imperialismo norte-americano, mas pela qual são igualmente
responsáveis as grandes potências da União Europeia, o que se
torna mais nítido com o alinhamento da França, com Sarkozy, com os
EUA. A
posição do nosso Partido, em relação ao Iraque, ao Afeganistão,
ao Líbano é bem conhecida, pelo que quero apenas referir-me a duas
outras situações que entretanto lhe estão estreitamente
associadas. O Irão, para alertar para a necessidade imperiosa de pôr
termo à escalada de sanções e preparativos de agressão que, a
concretizarem-se, teriam seguramente as mais dramáticas
consequências. E a Palestina, não apenas para confirmar ao heróico
povo palestiniano a activa solidariedade do PCP para com a sua luta
nacional libertadora, mas para sublinhar uma vez mais que a questão
palestiniana é a questão central do Médio Oriente e que só com a
aplicação das resoluções da ONU, a retirada de Israel dos
territórios ocupados em 1967 e o reconhecimento do Estado
Palestiniano independente, será possível alcançar uma paz justa e
duradoura no Médio Oriente. Não foi este o sentido da reunião de
Annapolis orquestrada por Bush; o seu objectivo foi o de reforçar o
papel criminoso de Israel e procurar levar a Autoridade Palestiniana
a vergar-se diante dos opressores do próprio povo palestiniano.
E
na Venezuela?
O
nosso ponto de vista é de que está em marcha um processo
profundamente democrático de características revolucionárias que é
necessário compreender, apoiar e defender das ingerências e ameaças
do imperialismo norte-americano. É uma processo de corajosa
afirmação de soberania com traços profundamente originais,
apontando o objectivo de uma sociedade socialista e, por isso mesmo,
contando com uma extraordinária base de massas, mas também com
inimigos poderosos, no plano interno e externo, que conseguiram,
embora por uma margem mínima de votos, vencer o referendo de 2 de
Dezembro. É nossa convicção de que um tal resultado pode atrasar
mas não consegue parar o processo bolivariano, protagonizado pelo
Presidente Chavez, e que tem o apoio dos comunistas venezuelanos, aos
quais nos unem fortes laços de amizade e de solidariedade
internacionalista.
O
Partido
Em
termos gerais, como avalias a situação do Partido?
O
que é marcante na fase actual da vida do Partido é a sua
diversificada e combativa intervenção política em torno dos
problemas e aspirações dos trabalhadores e do povo, nas acções
pela paz, contra o imperialismo e a guerra, no desenvolvimento das
relações e na solidariedade internacional, na valiosa e intensa
actividade e iniciativa institucional e no reforço da organização
partidária. Referindo
o ano de 2007, sublinhe-se um conjunto de iniciativas como os
Encontros Nacionais sobre Cultura, o Movimento Associativo, a
Protecção Civil, os Micro Pequenos e Médios Empresários, a
Agricultura e o Mundo Rural, as inúmeras iniciativas regionais,
sectoriais e temáticas que culminaram com a realização da
Conferência Nacional sobre Questões Económicas e Sociais. No
plano internacional é de salientar a vasta actividade e intervenção,
nomeadamente a iniciativa sobre as questões europeias, e o Seminário
sobre África. O partido deu valiosas contribuições para o
desenvolvimento das relações bilaterais e no incremento de
iniciativas multilaterais e para o fortalecimento do movimento
comunista e revolucionário e para a cooperação com partidos
comunistas e forças progressistas, fazendo um empenhado esforço na
frente anti-imperialista.
Concretamente, quanto à campanha de Reforço da Organização?
No
plano do reforço da organização e intervenção partidária, a
avaliação feita no final do ano confirma avanços significativos na
responsabilização de centenas de quadros, incluindo muitos jovens,
mais de mil militantes em cursos de formação diversos, o
recrutamento ou transferência de mais de mil membros do Partido para
as organizações de empresa e local de trabalho, a realização de
mais de 100 assembleias de organização e um grande ritmo de novas
adesões ao partido. Sem
subestimar dificuldades e debilidades existentes, por exemplo em
relação à concretização dos objectivos do reforço financeiro e
aumento da quotização, há avanços consolidados, tendo em conta
também que foram alcançados numa situação em que o Partido teve
um papel central na luta política e social. Esta
dinâmica e estes avanços não nos descansam. O Comité Central
decidiu dar passos mais adiante numa nova etapa do movimento geral
para o reforço da organização partidária, no decurso do ano de
2008, ano de Congresso e consequentemente integrado como elemento
fundamental dos seus trabalhos preparatórios.
XVIII
Congresso. Que queres adiantar sobre a sua realização e a sua
implicação na actividade geral do Partido?
O
XVIII Congresso, marcado para os dias 20 e 30 de Novembro e 1 de
Dezembro de 2008, vai realizar-se num quadro de grande intensidade da
vida política e partidária. O Comité Central irá precisar e
aprovar os objectivos. Mas não é excessivo ou apressado afirmar que
foram justas e de grande validade as decisões do XVII Congresso que
o nosso Partido se confirmou como força com passado, presente e
futuro, e que há motivos para ter confiança.
Congresso
exigente! Vamos ter de contar com o arremesso de campanhas visando
minar a imagem, a influência e a coesão do Partido. Não é
suportável para todos aqueles «analistas» que sentenciaram o fim
do PCP, ou o seu definhamento e declínio irreversível, constatarem
um Partido mais forte, reforçado e interveniente, portador da
esperança e da alternativa, que se ancora na sua natureza e
identidade, nos seus princípios, ideologia e projecto para irradiar
a vitalidade e a afirmação de um verdadeiro Partido Comunista. O
XVIII Congresso não pode ser entendido como mais uma tarefa ou mesmo
só uma prioridade. As organizações do Partido, definidas que estão
as linhas de orientação, vão ter de considerar e concretizar a
programação e calendário, a sua iniciativa, como contribuição e
trabalho integrados e confluentes com a preparação do próprio
Congresso.
Camarada
Jerónimo de Sousa, obrigado pela tua entrevista que vai certamente
contribuir para valorizar mais O
Militante na
vida do nosso Partido. Para terminar, uma palavra sobre a importância
da imprensa do Partido.
Nas
linhas de orientação para a nova fase do reforço da organização
do Partido, o Comité Central sublinhou a importância do alargamento
da difusão da imprensa partidária. É
sabido que o poder económico detém hoje os principais meios de
comunicação social, direccionando-os para servir os seus interesses
e a sua ideologia. Redobra por isso a importância do nosso Avante!
e
de O
Militante no
combate político e das ideias, municiando os militantes com
informações, análises e argumentação e fundamentação teórica
inexistentes em qualquer outro órgão de comunicação social. O
alargamento da sua leitura, divulgação e venda constituem uma
tarefa política e revolucionária, integrando o movimento geral de
reforço da organização e intervenção do Partido. Uma
última palavra: de esperança e de confiança! Nesta quadra festiva
e no limiar de um novo ano, uma saudação solidária e fraterna aos
militantes do Partido, com o apelo à sua generosa e combativa
militância e disponibilidade para prosseguir o nosso combate em
defesa dos trabalhadores, do povo e da democracia , no reforço e
afirmação do Partido - por um ano melhor!
Revista "O Militante", Nº 292 - Jan/Fev 2008
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